Como previsto, o arranque do Censo 2024 dar-se-ia hoje, 19 de Setembro, em todo território nacional de Angola, contudo, por falta de materiais ou de distribuição destes, parcial ou restritamente, apenas a Casa Presidencial, em representação do Presidente da República e da primeira-dama, foi recenseada, o que para os recenseadores, ao falarem ao Folha 8/TV8, não passa de uma tremenda fachada. Tudo bungle bangue.
Por Domingos Miúdo
Em pleno primeiro dia de recenseamento, os agentes de campo lamentaram a desorganização do Executivo que até ao momento não disponibilizou os equipamentos para a efectiva realização do censo, daí permanecem cépticos sobre a resolução imediata do problema. As informações de que o Censo arrancou, de facto, pelo país inteiro, conforme relatam os meios de comunicação públicos (do MPLA), sob as amarras do regime, e o próprio Executivo foram desmentidas pelos próprios recenseadores.
“Foi tudo mentira quando Manuel Homem disse que os recenseadores já tiveram contactos com os materiais. Até hoje (19.09) nunca vimos, muito menos pegamos os tablets. Acho que até ao momento o único recenseado foi o Presidente e a sua família. Porque mesmo até no Uíge, onde tenho muitos contactos, dizem estar na mesma condição e que estão a aguardar segundas informações. Então, acredito que aquilo é só uma fachada do Presidente para dizer que começamos”, revelou, ao Folha 8, “Joaquim Joaquim”, nome fictício de um dos recenseadores apurado para a campanha.
Ao referir-se aos constantes atropelos à agenda do Censo 2024, não duvida que seja uma tamanha incompetência do Governo.
“Desde o princípio, foi mesmo desorganização, violação dos prazos, sobretudo, e incumprimento no compromisso. Na verdade, tudo isso são actos que deveriam ser acautelados nos dias anteriores e não no decorrer da actividade”, afirmou.
Dada a desorganização, avançou ao Folha 8 que muitos dos recenseadores com quem partilhou a sala durante a formação estão a desistir, pois, parece-lhes mais brincadeira do que seriedade.
“Há pessoas que estão a abandonar por causa disso, até agora nada confirmado. Muitos são os que dedicaram seu tempo aqui no sentido de esperar um resultado positivo”, contou.
Sujeitam-se à humilhação porque reconhecem, com tristeza, que parte deles (jovens) fazem parte da estatística dos milhões de desempregados que o país tem em abono, e o tostão que receberão no final da campanha servirá para alguma coisa, quem sabe para um saco de arroz, uma caixa de frango, cinco litros de óleo e mais nada. E depois do consumo, em menos de um mês, regressarão à rotina da fome. Porém, se a conjuntura fosse o contrário, o Censo 2024 jamais ocorreria porque pelo menos 80% dos recenseadores teriam abandonado os postos.
A falta de comunicação tem sido dos vírus perigosos que em muito adoece a organização e a realização do Censo Geral da População e Habitação 2024, pois, até os formadores que têm servido de intermediários entre o recenseadores e as autoridades legais do Censo, carecem de informações sobre a demora na entrega dos tablets.
“A uns pediram os nomes e números telefónicos e mandaram-nos aguardar por ligações. Daí que, isso pode arrastar-se ao longo dessa semana toda”, frisou “Joaquim Joaquim”.
O casal Presidencial, João Lourenço e a esposa, Ana Dias Lourenço, foi recenseado, esta quinta-feira, às 10 horas, na residência familiar.
Sob o lema “Juntos contamos por Angola”, o Instituto Nacional de Estatística (INE) deu início, a 19 de Setembro, ao Censo Geral da População e Habitação 2024, o segundo depois da Independência Nacional.
A recolha de dados terá a duração de 30 dias e vai abranger os 164 municípios, 562 comunas, distritos, bairros e aldeias das 18 províncias do país, tanto nas áreas urbanas como nas rurais.
A operação envolve mais de 92 mil profissionais, entre logísticos, motoristas, recenseadores e assistentes técnicos que vão chegar até às zonas mais recônditas do país, com o apoio das Forças de Defesa e Segurança.