BOLSA DE VALORES SOMA E MULTIPLICA

O volume de negócios na bolsa angolana aumentou 132,22% em Julho, face ao período homólogo de 2023, atingindo 782,91 mil milhões de kwanzas (775 milhões de euros) um crescimento mensal de 133,62%, segundo um relatório oficial.

Para o aumento das negociações na Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA) neste período contribuíram as negociações de “REPOs” (acordo de recompra de activos), representando 84,71% das transacções, refere a Performance do Mercado de Capitais de Julho.

A Comissão do Mercado de Capitais (CMC) angolana destaca também o aumento do número de negócios nos mercados regulamentados da BODIVA, de 34,32%, com o período a encerrar com 818 negócios (dos quais 46,33% foram realizados no Mercado de Bolsa de Títulos de Tesouro).

No mês em análise, as OT-NR (Obrigações de Tesouro Não Reembolsáveis) voltaram a ser o valor mobiliário mais transaccionado em mercado regulamento, totalizando 489,04 mil milhões de kwanzas (484 milhões de euros).

As Obrigações do Tesouro em Moeda Externa, com 281,43 mil milhões de kwanzas, Bilhetes de Tesouro (10,81 mil milhões de kwanzas) e as Obrigações do Tesouro Indexadas à Taxa de Câmbio (1,08 mil milhões de kwanzas) surgem nas posições imediatas.

Relativamente à participação dos investidores na BODIVA, no período em análise, 94,16% das compras de instrumentos financeiros foram feitas por investidores institucionais e o restante feito por investidores não institucionais.

O sector bancário liderou as negociações na perspectiva de compra com um peso de 88,48%, seguido dos particulares com 3,53%. Na perspectiva de venda, a Unidade de Gestão da Dívida liderou nas negociações, com um peso de 54,13%, seguida pelo sector bancário.

Foram ainda abertas um total de 536 contas na Central de Valores Mobiliários de Angola, indicando um aumento de 29,78% face ao mês de Junho e um aumento de 70,16% em relação ao período homólogo.

Pelo menos 32 organismos de investimento colectivo encontravam-se registados na CMC até final de Julho, nomeadamente 22 organismos de investimento colectivo mobiliários, entre fundos de capital de risco, sociedade de capital de risco e fundos de investimentos, e 10 organismos imobiliários.

Recorde-se que a BODIVA obteve um resultado líquido de três mil milhões de kwanzas (3,4 milhões de euros) em 2023, um crescimento de 798% comparativamente ao ano anterior.

O crescimento em relação a 2022 “evidencia a tendência de desempenho positivo dos últimos anos, tanto das finanças da sociedade, como do mercado”, lia-se no comunicado da sociedade gestora de mercados regulamentados, em que anunciou os resultados e resume o Relatório e Contas do exercício económico de 2023 aprovado.

O volume de negócios em 2023 cifrou-se em 7,1 mil milhões de kwanzas (7,8 milhões de euros), derivados essencialmente pelo aumento do volume transaccionado em mercado secundário (sete biliões de kwanzas (7,7 mil milhões de euros), com destaque para as operações REPO, assim como pelas comissões de manutenção à negociação e custódia dos emitentes privados.

Relativamente aos custos operacionais no ano em referência, totalizaram 3,4 mil milhões de kwanzas (3,7 milhões de euros), com destaque para custos com pessoal e fornecimento de bens e serviços, em especial de suporte à infra-estrutura tecnológica.

O relatório indicava ainda um aumento do activo líquido de 10 mil milhões de kwanzas (11 milhões de euros), 68% mais do que em Dezembro de 2022, bem como um capital próprio cifrado nos 7,6 mil milhões de kwanzas (cerca de 8,4 milhões de euros).

Estes resultados traduziam-se “num retorno sobre o activo (ROA) de 31%, retorno sobre o património líquido (ROE) de 40% e rácio de autonomia financeira de 78%”.

Em Dezembro de 2023, a BODIVA estava a estudar a criação de um mercado de mercadorias para transaccionar produtos agrícolas e ajudar a financiar este sector, anunciou um responsável da entidade.

Segundo Nivaldo Matias, director do departamento de desenvolvimento de mercados da BODIVA, que falava no dia 19 de Dezembro de 2023 num encontro com jornalistas, a BODIVA queria ser um parceiro estratégico no sistema financeiro angolano e estar ao serviço da economia. Estava por isso a avaliar novos mercados que possam ajudar a solucionar alguns problemas, nomeadamente riscos cambiais.

Já em 2024 pretendia lançar um mercado cambial que foi preparado com outros intervenientes como o Banco Nacional de Angola (BNA) e a banca comercial “para mitigar o risco cambial” e dar mais “tranquilidade aos contribuintes angolanos e investidores estrangeiros”, introduzindo instrumentos que possam proteger os seus interesses.

Na mesma perspectiva, a BODIVA estudava a criação de um mercado de mercadorias “para transaccionar na nossa praça financeira produtos agrícolas produzidos no nosso país”, salientou.

Nivaldo Martins considerou que este é um mercado essencial para Angola e que pode atingir grandes volumes de negociação.

Os responsáveis da BODIVA recolheram experiências de outros países onde já existem bolsas do género, como a Etiópia e criaram um grupo de trabalho para preparar o projecto.

Raul Dinis, director do departamento de Negociação, adiantou que entre os produtos que poderão ser incluídos numa fase inicial estão o sal, o trigo e o milho, cujo preço será definido pela oferta e procura do mercado.

Em, 2024, deverão decorrer os estudos, levantamento e preparação do projecto que, idealmente, será lançado em 2025, indicou.

Os produtos agrícolas não são mas deveriam ser a base do desenvolvimento económico de Angola, desde logo porque são mercadorias indispensáveis para a sobrevivência humana. Por serem tão importantes em países desenvolvidos ou em vias disso (o que não é o caso angolano), são negociados como activos financeiros, embora cada unidade de medida se refira a bens físicos. Ou seja, por exemplo, quando alguém compra ou vende unidades de milho, não está a negociar o produto em si, mas o valor de mercado.

A tradução literal de “commodity” é mercadoria. Sendo assim, as “commodities” agrícolas são aqueles artigos primários e homogéneos que resultam da agricultura. No entanto, nem todos os produtos agrícolas têm essa designação.

Para considerar um produto como uma “commodity”, ele deve ser negociado na bolsas de valores e mercadorias em todo o mundo através da compra e venda e, para atingir esse objectivo, o produto deve ter um alto valor comercial e/ou estratégico.

Como exemplo, veja-se o caso da soja. É cultivada e vendida como grão, sendo assim, um produto homogéneo, que possui alto valor no mercado internacional e que passou a ter relevância estratégica nos países em que constitui um dos principais produtos exportados pelo país e, dessa forma, é um dos principais responsáveis por alavancar a economia.

Outra característica das “commodities” é de terem o seu preço definido pelo mercado internacional. Ou seja, é a bolsa de valores que determina o quanto valem as “commodities”, baseando-se na oferta e procura das acções destes produtos homogéneos. Quanto maior é a oferta de acções das “commodities”, menor é o seu preço, ou mesmo inversamente, quanto maior é a procura por essas acções, maior é o seu preço.

Além disso, as “commodities” agrícolas apresentam uma outra característica fundamental. A partir delas, podem ser fabricados diversos outros produtos. É o caso da soja, milho, trigo e algodão. Já outras são tão largamente consumidas que, até mesmo tendo bens substitutos, os seus mercados continuam gigantescos, como é o caso do café.

Folha 8 com Lusa

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