SAMAKUVA “CONTRA” ADALBERTO BENEFICIA LOURENÇO & MPLA

Uma guerra com contornos sinuosos, entre dois grandes “maninhos” do Galo Negro, domina a arena política, em Julho de 2024, com “impressões” digitais do regime, com datas e actores…

Por William Tonet

As mágoas, nunca saradas, são antigas, remontam do fim da era “samakuvista”, com a ascensão de um sucessor fora da sua órbita. Logo depois emergem os “caiques”, com assessoria do regime e da comunicação social pública, intentando no Tribunal Constitucional, um pedido de verificação sobre alegadas irregularidades no XIII Congresso da UNITA de 2019, dentre as quais a dupla nacionalidade e a violação dos Estatutos, por parte do então candidato e à época, presidente Adalberto Costa Júnior.

Foi o início de uma caminhada de traições, denúncias e o império do cinismo, arremessados por uma maioria de ex-militantes da UNITA e alegados infiltrados do regime (Manuel Diogo Pinto Seteco, Domingos Pedro, Cândido Moisés Uasmuene, Wilson Nuno Domingos Gomes, Dino Luís da Silva Chamucassa, Flávio da Costa Mucawa, Madilu Samuel Bandeca, Dombaxe Sebastião Mafuta Garcia, Santo Fonseca Gouveia Diniz e Feliciano Gabriel Castro Kututuma), aceites pelo MPLA & Tribunal Constitucional…

O regime sorria, ante o avançar sub-reptício de uma estratégia, que conta(va) com o peso de alianças internas, com links no bureau político do MPLA, que em comunicado ameaçou derrubar o eleito (ACJ) por estar “preso por um fio” ao ousar desafiar, no 15.12. 2021, em declaração de voto, o OGE/2022: “A principal prioridade do OGE para o Exercício Económico de 2022 é a dívida pública, dívida esta não auditada e nem certificada que representa 50% da despesa global. O segundo sector prioritário são os serviços dos órgãos de soberania, com 24% da despesa global. O sector social, com 19% da despesa global é o penúltimo posicionado na escala de prioridades do Executivo. O último sector ou simplesmente o menos prioritário para o Governo é o sector económico que serviria de alavanca da economia, mas infelizmente representa apenas 7% da despesa global”.

Foi, uma bomba, sendo imperioso, abalroar, mais uma vez, o novo líder. E, para consumação do dito, exportou, no 19 de Agosto 2021, um(a) membro do bureau político (entre Junho de 2019 – Agosto 2021), para o Tribunal Constitucional; Laurinda dos Prazeres Cardoso, que “cortou o fio” de Adalberto Costa Júnior, anulando, dois anos depois (2019) o XIII Congresso da UNITA (07.10. 2021, através do Acórdão 700/2021, ordenando que a direcção da UNITA seja retomada pela anterior liderança. Inédito!

As inesperadas navalhas e punhais, são arremessadas com a imposição do regresso à liderança de Isaías Samakuva (presidente da UNITA entre 2003 e 2019), amigo de João Lourenço, que no “regresso imposto” (Setembro de 2021 e Março de 2022) o saudou efusivamente, numa reunião do Conselho da República: “espero que tenha vindo para ficar…”

O MPLA e o seu líder provaram, com estes actos, ter interesse na instabilidade e fragilização da UNITA…

Mas, na repetição do XIII congresso, a estratégia governista não vingou, porque os eleitores do Galo Negro renovaram, esmagadoramente, o voto em Adalberto Costa Júnior…

Motivado, mobiliza políticos (FPU) e a sociedade civil para a união de todos, nas eleições gerais de 2022, visando a alternância. Ganha no voto! Mas perde no poder!

Foi então aí, que as armas e canhões do regime de viés ditatorial, saíram dos arsenais ameaçando com um “oceano de sangue”, a oposição vencedora, caso “promulgasse” manifestações contestatárias de resgate do resultado eleitoral, nas ruas, vilas, cidades e províncias.

No 24 de Setembro de 2022, num dos maiores comícios da UNITA, em Luanda, Adalberto denúncia a batota eleitoral da CNE, a cumplicidade do Tribunal Constitucional, que adulteraram a vitória eleitoral da UNITA, conferindo de forma ilegítima, o poder a João Lourenço.

Em reacção o bureau político do MPLA, no 28.09.22 reage com violência, contra ACJ, negando, doravante, qualquer possibilidade de aproximação com João Lourenço. Até hoje, cumpre-se a profecia.

E, no ajuste, os 90 deputados, da UNITA na Assembleia Nacional adoptam novas formas de luta, quais bisontes na trompa do elefante…

Foi nesta senda que emergiu a mais contundente “ferradura constitucional”; artigo 129.º (Destituição do Presidente da República), elencando responsabilidade criminal de João Lourenço, dentre outros, no crime de genocídio (Kafunfu), imprescritível e insusceptível de amnistia (art.º 61.º vs 127.º), no de suborno (art.º 127.º CRA), com o excesso de contratação simplificada ao arrepio da Lei da Contratação Pública.

Caiu o Carmo e a Trindade, tal como as avenidas de boçalidade jurídica e política, que não conseguindo interpretar as normas jurídico-constitucionais evocadas, impuseram (bancada parlamentar maioritária), a lei da força ao arrepio da constituição e da lei, chumbando a discussão em plenário e especialidade.

Mas, independente deste quadro inquisitorial, os cidadãos aplaudiram o maior abano nos pilares do regime de 49 anos, bem como a alta tensão causada nos corredores palacianos.

Restava ao regime, um “plano B” e nada melhor que “apadrinhar” o projecto da Fundação Jonas Savimbi… O(a)s filho(a)s pede(m), tal como o regime, coincidentemente, que seja, mais uma vez, Samakuva o coordenador do projecto – fundação.

Norberto Garcia, secretário da Presidência, denuncia, postando-se ao lado de Nzinga Savimbi, no gabinete e, depois, com a mãe…

O palácio já não esconde as unhas e ante o esmero do velho Samas na engenharia, o “amigo João Lourenço”, escancarou as portas do reconhecimento, aprovação e legalização da fundação (Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos-Cartório Notarial da loja dos Registos do Cazenga, publicação no Diário da República III Série, n.º 92/6964 de 17 de Maio de 2024).

Em política não há coincidências, nem almoços grátis, daí o mundo ter tomado conhecimento (02.07.24) de um antes segredo a dois: Samakuva versus João Lourenço: “não posso fugir a compatriotas e muitos deles são do MPLA. Quando fui à Cidade Alta o Presidente da República disse que está aberto a receber qualquer cidadão”, assegurou Isaías Samakuva.

Nas palavras fica subjacente que, afinal, Adalberto só é rejeitado por ousar, querer ser recebido, na qualidade de líder do maior partido da oposição e não como “cidadão qualquer”, segundo o coordenador da Fundação Jonas Savimbi adiantando: “é preciso mudarmos a forma de pensar, os angolanos têm de mudar”…

A sugestão, qual “giboice”, aponta o caminho da submissão de ACJ, aos desígnios do regime, a que este se nega aceitar “presentes envenenados, porque quando a esmola é demais o pobre desconfia…”.

No 10.07.24, nas vestes de coordenador da FPU, apresenta um retrato dantesco do país real: aumento da pobreza, desemprego, inflação, desvalorização da moeda, controlo da soberania económica, pelos especuladores estrangeiros, (in) justiça cafricada, selectividade do combate à corrupção, excesso da contratação simplificada, aumento de créditos adicionais, sem fundamentação, aumento da corrupção, intolerância, assassinatos selectivos e má gestão económica, social e política de João Lourenço.

No 11.07.24, coincidentemente, o visado (Presidente da República foi ao Bié, terra do amigo), não responde, cabendo as “horas de antena” a Samakuva, que entre outros tópicos revela, ser por esta contundência de apontar o dedo na ferida, que nunca “concordei com a criação da Frente Patriótica Unida, porque os membros que a criaram não respeitaram alguns princípios.”

A justificativa, na sua opinião, está na composição da bancada parlamentar, “veja o que foi dado à UNITA; 73 deputados; 11, para o “PRA-JA Servir Angola”; 5 para o Bloco Democrático; um para a sociedade civil e isso não beneficia o partido”. E, sem freios, ao questionamento de um possível regresso a liderança do partido foi lacónico: “já fiz o meu papel como presidente da UNITA, mas dizer que não, também, não depende da minha vontade”.

É claro, que não, mas será que quis dizer, se o toque vier da cidade alta, hasteia os estatutos, que não tem freios de contenção, para como disse, sair do “meu cantinho. Há aqueles que dizem não apareça mais aqui. Há outros que sentem essa falta…”

Honestamente, Samakuva, sem pruridos, “plantou” Adalberto Costa Júnior como adversário a abater, ainda que tenha negado agir como peão do MPLA e do amigo João Lourenço…

Em reacção, a toda esta cruzada o líder da oposição minimizou os maus fígados do antecessor (IS), assegurando não haver divisões internas, mas questões importantes no país, que devem merecer preocupação de todos militantes e dirigentes da UNITA, tais como a realização das autarquias, visando materializar um dos sonhos dos angolanos, que auguram uma vida melhor e um sistema político de liberdades e democracia, sem fraude eleitoral, como em 2022, em que a UNITA ganhou, mas “a ditadura se arrogou não sair pela lei da força e dos canhões, do poder”.

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