O Presidente de Timor-Leste destacou hoje, no Parlamento do MPLA, a “inspiração” do primeiro Presidente de Angola, o genocida Agostinho Neto, para a independência do país asiático, e considerou Angola um exemplo para ultrapassar períodos sangrentos da história. Claramente, e nem sequer é novidade, Ramos-Horta não sabe o que diz e não diz o pouco de racional que sabe.
José Ramos-Horta, que falava de improviso e “de coração” (como é regra de qualquer bajulador que se preze) durante sessão solene no Parlamento angolano, no âmbito da sua visita de Estado a Angola manifestou-se honrado pela sessão plenária extraordinária em sua homenagem.
“É uma honra estar aqui nesta sala da democracia ao lado do busto do fundador de Angola, médico, poeta e escritor Agostinho Neto, perante ele, a memória de Agostinho e de tantos angolanos heróis que tombaram por este país, curvo com respeito e também com gratidão”, disse Ramos-Horta ultrajando voluntária a conscientemente a memória de milhares (talvez 80 mil) de angolanos que Agostinho Neto mandou assassinar nos massacres de 27 de Maio de 1977.
O Presidente timorense referiu que as relações entre Angola e o seu país datam desde o período da proclamação da independência angolana, em 11 de Novembro de 1975, ocasião, em que, recordou, estava em Angola uma pequena delegação de Timor-Leste.
Angola, juntamente com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), bem como Portugal e Brasil, estiveram sempre juntos de Timor-Leste ao longo dos 24 anos de luta pela independência, realçou.
José Ramos-Horta destacou, no seu discurso perante o plenário da Assembleia Nacional de Angola, os 22 anos de restauração da independência de Timor-Leste, após a desanexação da Indonésia, referindo que tal passo “não seria concretizado sem a solidariedade internacional”.
“Não teria acontecido sem o compromisso de países como Angola, Cabo Verde, Guine Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Portugal e Brasil, não teríamos conseguido sem a inspiração de Agostinho Neto e de tantos outros líderes angolanos e também de outros países de língua portuguesa”, notou Ramos-Horta.
Hoje Timor-Leste “é livre, vive em paz, e a seguir à restauração da independência optamos pelo sarar de feridas, reconciliar a sociedade, reconciliar o país, normalizar relações com a nossa vizinha Indonésia”, referiu.
O estadista timorense enalteceu a coragem política e a seriedade de Angola, afirmando que “é um grande exemplo” de como ultrapassar períodos sangrentos da história, reconciliar a nação, sarar as feridas, reconstruir e desenvolver o país.
“Timor-Leste é (também) um desses exemplos, não olhamos para trás, honramos os mortos, curamos as feridas, e recusamos a justiça dos vencedores. Hoje Timor-Leste vive em paz, em plena democracia (…)”, disse.
Considerou, no entanto, “inaceitáveis” os altos níveis de extrema pobreza, da mortalidade infantil e a subnutrição que persistem em Timor-Leste, admitindo que o país tem ainda um grande caminho a percorrer, tendo apontado a auto-suficiência alimentar como um dos desafios do actual executivo.
Carolina Cerqueira, presidente do Parlamento angolano, agradeceu, por sua vez, as palavras “sinceras e com muita alma” que José Ramos-Horta exteriorizou sobre Angola.
O Presidente de Timor-Leste disse hoje que o país deve tornar-se, em 2025, o 11.º membro da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) o que trará novas oportunidades para os países lusófonos.
José Ramos-Horta, que falava em conferência de imprensa após um encontro com o seu homólogo João Lourenço, no Palácio Presidencial, destacou o potencial de cooperação dos dois países e a dimensão económica dos PALOP, afirmando que a adesão à ASEAN será uma grande oportunidade para a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).
“Com a nossa adesão à ASEAN, é minha convicção que Timor-Leste pode ser o grande armazém para produtos de países PALOP ou CPLP, para a sua redistribuição na área, a exemplo de Singapura que, além de um grande centro financeiro é dos maiores centros de ‘transhipment (transbordo) do mundo”, disse o chefe de Estado timorense, apontando este país e o Dubai como placa giratória de comércio para o sudeste asiático.
“Isto é possível, desde que os nossos dois governos incentivem o sector privado com apoio, com empréstimos, com juros sustentáveis (…) para passarmos das declarações anuais, românticas, de influência latina para uma coisa mais prática de resultados concretos para os nossos países”, enfatizou.
Ramos-Horta abordou os progressos de Angola desde o fim do conflito, destacando que “firmada a paz, Angola deu grandes exemplos de como solucionar conflitos, de como sarar feridas, de como reconciliar a grande nação angolana”.
Exemplo seguido por Timor-Leste, continuou, que normalizou as relações com a vizinha Indonésia e outros países da comunidade internacional sendo a entrada na ASEAN, em 2025, o corolário destes “esforços internos e diplomáticos”.
O Presidente timorense agradeceu o facto de países como Angola e outros da comunidade lusófona terem ajudado Timor na “batalha ética e diplomática” pela independência, esperando estar presente nas comemorações dos 50 anos de Independência de Angola.
No encontro com João Lourenço abordou também o potencial da cooperação bilateral Angola/Timor-Leste, mas ainda o potencial económico dos PALOP e da CPLP, tendo em conta o facto de Timor-Leste, enquanto membro da ASEAN fazer parte de um mercado regional de cerca de 700 milhões de consumidores com um Produto Interno Bruto de quatro biliões de dólares.
Este conjunto de países “traz grande oportunidade, a nível da CPLP, de passarmos de declarações sobre a importância da dimensão económica para a concretização de alguns actos de cooperação”, disse Ramos-Horta.
A ASEAN é uma organização regional que compreende dez países do sudeste asiático, que promove a cooperação intergovernamental e facilita a integração económica, política, de segurança, militar, educacional e sociocultural entre seus membros e outros países da Ásia.
Ramos-Horta considerou ainda que Angola não tem sido suficientemente reconhecida pela sua gestão do pós-conflit, e disse que Luanda está “irreconhecível” apontado as “grandes obras arquitectónicas que são símbolo da nova Angola”.
Acrescentou que João Lourenço será recebido “com todo o calor humano” em Timor-Leste, depois do chefe de Estado angolano confirmar que aceitou o convite do seu homólogo para visitar o país asiático.
Em Março de 2015, o então ex-Presidente da República timorense, José Ramos-Horta, considerou uma “falsidade” atribuir a Timor-Leste um papel de relevo no “lobby” para a adesão da Guiné Equatorial à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Escrevendo na rede social Facebook no dia em que foi tornado público um texto do Presidente português, Cavaco Silva, que justificou a entrada da Guiné Equatorial com os “danos” diplomáticos que provocaria a Timor-Leste – que acolheu a cimeira onde a adesão foi ratificada –, Ramos-Horta recordava que Angola e o Brasil sempre lideraram o lóbi favorável a Malabo na CPLP.
“O lóbi forte pela admissão da Guiné Equatorial na CPLP foi sempre desencadeado por Angola e Brasil, apoiado por todos os outros países africanos da CPLP, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tome e Príncipe”, escreveu Ramos-Horta.
“A reunião ministerial da CPLP que precedeu a Cimeira de Díli já tinha acordado, consensualmente, na adesão da Guiné Equatorial. Perante a postura firme de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Angola, Portugal anuiu. Timor-Leste simplesmente secundou esta posição”, escreveu ainda.
No prefácio do Roteiros IX, o então Presidente da República portuguesa justificou a aceitação, por parte de Portugal, da entrada da Guiné Equatorial com o facto de não colocar em causa a coesão da CPLP e de não prejudicar Timor-Leste.
Cavaco Silva considerou que se Portugal se isolasse face à vontade conjugada de todos os outros Estados-membros, “numa comunidade em que o multilateralismo deve prevalecer sobre o unilateralismo, Portugal veria ainda a sua posição dificultada pelo facto de ser o antigo poder colonial europeu”.
Ramos-Horta criticou as tentativas de “atribuir a Timor-Leste a responsabilidade pela admissão da Guiné Equatorial na CPLP”, o que considera ser um “falsidade que tem sido propagada nos media portugueses desde a Cimeira de Díli de Julho de 2014”.
“De lembrar que na Cimeira de Luanda de 2010 registou-se um forte embaraço diplomático quando o Presidente da GE, estando presente e confiante que o seu país iria ser admitido, foi humilhado pelo veto de Portugal”, escreveu Ramos-Horta. “