A inflação em Angola voltou a aumentar em Abril, pelo 12.º mês consecutivo, registando uma variação homóloga de 28,02%, um máximo de quase sete anos, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).
A Folha de Informação Rápida (FIR) do Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN) indica que esta variação representa um acréscimo de 17,61 pontos percentuais em relação à observada em igual período do ano anterior. Em Março, a inflação tinha atingido 26,09% em termos homólogos.
É preciso recuar a Junho de 2017, altura em que a inflação se situou em 30,51% para encontrar um valor mais elevado, segundo as estatísticas do site Trading Economics.
Em termos mensais, o IPCN registou uma variação de 2,61% entre Março e Abril de 2024 (2,54% em Março), o aumento mais elevado desde Setembro de 2018, sendo as províncias de Luanda, Huíla e Cabinda, as que registaram maior variação (3,26%, 2,48% e 2,34%, respectivamente)
A classe “Saúde” foi a que registou o maior aumento de preços, com uma variação de 3,25%, destacando-se igualmente as subidas nas classes “Alimentação e bebidas não alcoólicas” (3,13%), “Vestuário e calçado” (2,84%) e “Hotéis, cafés e restaurantes” (2,59%).
Em Luanda, capital do país, os preços dispararam 38,87%, um acréscimo de 28,77 pontos percentuais em relação ao período homólogo.
Pelos vistos nem mesmo o general presidente consegue pôr na ordem, ou minimamente controlada, a inflação. O economista Wilson Chimoco considera que “nenhuma política pública vai conseguir pará-la enquanto não se assistir ao aumento da produção local”.
Em declarações à Lusa no dia 16 de Fevereiro, Wilson Chimoco disse que o Governo decidiu agravar as taxas aduaneiras, na mais recente actualização que fez, para a importação do arroz e trigo, para 40% e 20%, respectivamente, quando sabe que “não tem condições de atender à procura interna”.
A resposta natural a esta medida “é o aumento encadeado dos preços” afirmou o docente universitário, situação que, realçou, “poderá piorar”. Não poderá piorar. Já piorou.
“O Governo não o admite explicitamente, mas o OGE [Orçamento Geral do Estado] indica que em 2024 vai voltar a ajustar os preços dos combustíveis e da electricidade”, frisou, e se isso acontecer vai acelerar ainda mais a inflação. Nem mais. Aí está.
Wilson Chimoco avançou também que Angola está perante um quadro desafiante, porque o aumento da inflação significa que o banco central tem de agravar a política monetária, o que em contrapartida impossibilita o Tesouro nacional de se financiar nos mercados para fazer face às suas necessidades.
“E, claro, os impactos serão imediatos nos atrasos nos pagamentos dos salários à função pública e no crescimento da economia”, sustentou, considerando “outro grave problema” a avaliação que as agências de notação financeira vão fazer sobre o risco de Angola.
De acordo com o economista, uma revisão em baixa vai reduzir as possibilidades do Estado angolano voltar a emitir ‘Eurobonds’ (títulos de divida em moeda estrangeira), com custos baixos ao mesmo tempo que vai obrigar os bancos comerciais a elevar as imparidades para os Títulos Públicos, que detêm nos seus balanços.
“E, pelos desafios previstos para o serviço da dívida em 2024, o Governo poderá ser obrigado a voltar a cativar despesas e, no cenário mais gravoso, pedir uma revisão ao OGE”, argumentou.
Para o docente de macroeconomia na Universidade Católica de Angola, a solução passa por se apresentar um plano claro de desinflação de médio prazo.
“Que deve ser claro nos objectivos e prazos e que deve incluir, necessariamente, uma ancoragem cambial à China e um plano de oferta da produção nacional liderada pela Reserva Estratégica Alimentar”, defendeu o também investigador colaborador do Centro de Estudos e Investigação Científica na Universidade Católica de Angola.
Em Angola, segundo o economista Heitor Carvalho, a principal causa da inflação é, contudo, a variação do rendimento petrolífero. Quando o rendimento petrolífero cresce, a oferta de divisas no mercado cambial aumenta, baixando a quantidade de Kwanzas necessária para comprar uma unidade de moeda externa. Os preços em Kwanzas baixam, fazendo crescer o volume das importações, o que aumenta a quantidade de produtos disponíveis, baixando os preços.
No entanto, simultaneamente, aumenta a procura de divisas no mercado cambial, o que actua em contraponto, até se alcançar um novo equilíbrio ou haver nova variação dos rendimentos petrolíferos, o que normalmente acontece primeiro. Quando os rendimentos petrolíferos baixam, o processo é quase exactamente o recíproco: aumento das taxas de câmbio, subida do preço em Kwanzas, redução das importações, escassez, menor procura de divisas no mercado cambial, até se restabelecer algum equilíbrio após fortes constrangimentos ao consumo, à produção (matérias-primas e serviços às empresas) e ao investimento.
Ao tentar controlar a inflação através da oferta monetária, o Banco Nacional de Angola é muito pouco eficaz para a estabilização estrutural dos preços. A inflação, como toda a economia, sobe e desce ao sabor dos preços do petróleo!
Enquanto a produção nacional decrescer face à procura e continuar dependente de um produto de exportação em fase de declínio da produção e com preços muito voláteis, uma política estritamente monetária pouco poderá fazer para travar a marcha inflacionária da economia.
Sabe-se que a inflação é sentida de forma diferente por cada pessoa e que variações de 1% ou 2% não têm forma de ser percebidas sem cálculo. Porém, quando estamos perante valores completamente diferentes dos sentidos por todos e efectivamente verificados em quase todas as transacções, torna-se impossível permanecer indiferente.
Recorde-se que, no passado dia 19 de Janeiro, o Banco Nacional de Angola (BNA) anunciou que a taxa de inflação deverá atingir os 19% em 2024, estimando que o Produto Interno Bruto cresça 2,2%, suportado (como não poderia deixar de ser) pelo sector não petrolífero. O anúncio foi feito pelo governador do BNA, Tiago Dias, durante uma reunião do Comité de Política Monetária do banco central europeu.
Segundo o responsável, as estimativas de inflação para 2024 têm como base a aceleração dos termos de troca, insuficiência de oferta de bens e serviços e vulnerabilidade da cadeia de abastecimento interna associada a constrangimentos na cadeia logística internacional. Tiago Dias indicou ainda que Angola fechou o ano de 2023 com uma taxa de inflação de 20%.
Quanto ao crescimento económico, fixou-se em 0,7% do PIB em 2023, impulsionado pelo sector não petrolífero que terá crescido 2,1%, perspectivando-se que avance para os 2,2% este ano, em resultado dos impactos esperados dos diferentes programas do governo de estímulo ao sector não petrolífero, que deverá aumentar 4,2%, prevendo-se uma redução da produção petrolífera.