E QUE TAL TURISMO DE TERROR?

O Governo angolano está a envidar “enormes esforços” para desenvolver o turismo, que ajuda a diversificar as receitas do Estado e criar empregos directos e indirectos, reconheceu hoje, segunda-feira, o director para África da Direcção Nacional de Turismo de Marrocos, Admed Oumaarir.

E tem razão. Veja-se que, o mês passado, um navio cruzeiro denominado “CH Vega”, proveniente da Cidade do Cabo, África do Sul, atracou no Porto do Namibe com… 29 turistas. Que melhor prova dos “enormes esforços” do Governo poderemos querer?

É também de crer que o MPLA resolva agora dar um impulso decisivo ao turismo. Numa versão mais “soft” a aposta deve ser nos safaris turísticos nas lixeiras, onde os turistas poderão fotografar essas criaturas parecidas com pessoas que nelas se alimentam…

Em declarações à ANGOP, o director para África da Direcção Nacional de Turismo de Marrocos, Admed Oumaarir, realçou que os esforços das autoridades angolanas “são visíveis” na construção de grandes infra-estruturas que vão melhorar o turismo, no país.

Admed Oumaarir falava no quadro da sua participação na sétima edição da Bolsa Internacional de Turismo (BITUR 2024), realizada de 2 a 4 de Maio corrente, na cidade do Lubango, capital da província da Huíla.

Citou como exemplo o novo aeroporto internacional de Luanda, assassino António Agostinho Neto, inaugurado recentemente no sudeste da capital angolana, com capacidade para receber os maiores aviões comerciais da actualidade.

A infra-estrutura será um dos maiores aeroportos de África, podendo movimentar, anualmente, até 15 milhões de passageiros e 50 mil toneladas de carga diversa numa superfície de 1.324 hectares, sendo ela própria uma pedra basilar do chamado turismo do terror, se para tal os guias turísticos tiverem engenho e arte. Nem todos os países podem gabar-se de ter como único herói nacional um genocida responsável pelo massacre de milhares de angolanos, em Maio de 1977.

Com duas pistas duplas, foi concebido para receber os aviões B747 e A380, actualmente os maiores aviões comerciais, não se sabendo, ainda, se nos voos de aproximação à pista sobrevoam os locais onde poderão estar enterrados alguns milhares angolanos mandados assassinar por gostinho Neto.

Admed Oumaarir ficou igualmente impressionado com o desenvolvimento da zona turística de Cabo Ledo, a cerca de 120 quilómetros a sul de Luanda, que oferece, segundo ele, boas vistas panorâmicas, um ambiente descontraído e a possibilidade de desfrutar do sol e do mar.

O director do turismo marroquino elogiou ainda o Governo angolano pela organização da BITUR 2024, que, no seu entender, proporcionou um fórum de reflexão e partilha de experiências entre países irmãos.

Um dos objectivos do evento foi apresentar as potencialidades turísticas de Angola e as iniciativas institucionais existentes no sector a nível nacional, bem como trocar ideias e partilhar experiências.

Admed Oumaarir admitiu que o certame permitiu, efectivamente, abrir um debate com profissionais e intervenientes do sector, a fim de obter recomendações importantes para o desenvolvimento do turismo.

Na sua óptica, a realização deste evento “é um forte sinal” de que as autoridades angolanas estão determinadas a promover o sector do turismo.

Nesta sua primeira visita a Angola, disse ser difícil falar com exactidão sobre o potencial turístico do país, mas manifestou-se impressionado pelo “calor humano” e pelo acolhimento dos angolanos.

“Constatei também que o país tem muitas praias bonitas, uma diversidade de paisagens, bem como uma flora e fauna muito ricas”, referiu.

Sob o lema “O turismo como factor chave na diversificação da economia angolana”, a sétima edição da BITUR contou com a participação de representantes de Angola, África do Sul, Brasil, Cabo Verde, Espanha, Moçambique, Marrocos, Portugal, Zâmbia e Zimbabwe.

Em defesa das potencialidades do turismo de terror em Angola, recordamos a visão estratégica que João Lourenço já tinha há muito sobre esta fonte de receitas. Estávamos a 17 de Setembro de 2016. O então ministro da Defesa de Angola e vice-presidente do MPLA, João Lourenço, denunciou tentativas de “denegrir” a imagem de Agostinho Neto, primeiro Presidente angolano.

João Lourenço discursava em Mbanza Congo, província do Zaire, ao presidir ao acto solene das comemorações do dia do Herói Nacional, feriado alusivo precisamente ao nascimento do primeiro Presidente angolano.

“A grandeza e a dimensão da figura de Agostinho Neto é de tal ordem gigante que, ao longo dos anos, todas as tentativas de denegrir a sua pessoa, a sua personalidade e obra realizada como líder político, poeta, estadista e humanista, falharam pura e simplesmente porque os factos estão aí para confirmar quão grande ele foi”, afirmou.

João Lourenço nunca se referiu ao caso na sua intervenção, mas o bureau político do MPLA criticou em Julho de 2016, duramente, o lançamento em Portugal de um livro sobre o MPLA e o primeiro Presidente angolano, Agostinho Neto, queixando-se então de uma nova “campanha de desinformação”.

Em causa estava (continua a estar) o livro “Agostinho Neto – O Perfil de um Ditador – A História do MPLA em Carne Viva”, do historiador luso-angolano Carlos Pacheco, lançado em Lisboa a 5 de Julho de 2016, visado no comunicado daquele órgão do Comité Central do partido no poder em Angola desde 1975.

Carlos Pacheco disse na altura que a obra resulta de uma década de investigação histórica e que “desmistifica” a “glória” atribuída ao homem que conduziu os destinos do movimento que lutou pela libertação do jugo colonial português em Angola (1961/74). Contudo o livro tem sido fortemente criticado em Luanda, por parte de dirigentes e elementos afectos ao MPLA e da fundação com o seu nome.

“A República de Angola está a ser vítima, mais uma vez, de uma campanha de desinformação, na qual são visadas, de forma repugnante, figuras muito importantes da Luta de Libertação Nacional, particularmente o saudoso camarada Presidente Agostinho Neto”, lê-se no comunicado do bureau político.

Na intervenção em Mbanza Congo, João Lourenço, que falava em representação do chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, sublinhou que Agostinho Neto “será sempre recordado como lutador pela liberdade dos povos” e um “humanista profundo”.

“Como atestam as populações mais carenciadas de Cabo Verde, a quem Agostinho Neto tratou gratuitamente, mesmo estando ele nas condições de preso politico. É assim como será sempre lembrado, por muitas que sejam as tentativas de denegrir”, afirmou o então ministro da Defesa e hoje Presidente da República.

“Em contrapartida”, disse ainda João Lourenço, os “seus detractores não terão nunca uma única linha escrita na História, porque mergulhados nos seus recalcamentos e frustrações, não deixarão obra feita digna de respeito e admiração”.

“Não terão por isso honras de seus povos e muito menos de outros povos e nações. A História encarregar-se-á de simplesmente ignorá-los, concentremos por isso nossas energias na edificação do nosso belo país”, disse João Lourenço.

Sabendo o que dizia mas não dizendo o que sabe, João Lourenço alinhava (e alinha) na lavagem da imagem de Agostinho Neto numa altura em que, como sabe o regime, os angolanos começam cada vez mais a pensar com a cabeça e não tanto com a barriga… vazia.

Recorde-se que o Presidente general João Lourenço, pediu ao novo ministro do Turismo (Márcio Daniel) aquilo que já tinha pedido ao anterior titular da pasta, que o Titular do Poder Executivo (João Lourenço) tinha solicitado ao anterior do anterior, sendo que o Presidente do MPLA, João Lourenço, havia feito ao anterior do anterior e que este fizera ao seu antecessor….

Ou seja, o Presidente quer um diagnóstico para apurar por que razão o país não conseguiu ainda “verdadeiramente atrair turistas”, apesar de “todas as condições que Angola tem”. Numa linguagem mais terra-a-terra, João Lourenço quer saber porque razão as couves plantadas com a raiz para cima… morrem.

Artigos Relacionados

One Thought to “E QUE TAL TURISMO DE TERROR?”

Leave a Comment