O volume II do livro ” Os Bantu na visão de Mafrano”, uma colectânea a título póstumo do escritor e etnólogo angolano, Maurício Francisco Caetano, foi apresentado na cidade do Huambo.
A sessão de autógrafos da obra, apresentada oficialmente em 2023, com 471 páginas, subdividido em 21 capítulos, decorreu na Biblioteca provincial do Huambo, com uma plateia constituída por académicos, autoridades tradicionais e entidades religiosas, entre os quais o Rei do Huambo.
Trata-se de um livro resultante da recolha, pela família do autor, dos textos dispersos, dentre outros, no jornal católico “O Apostolado”, entre 1957 e 1982, onde o angolano foi correspondente.
Durante a apresentação do livro, o historiador Venceslau Casese disse que a obra é uma visão completa dos povos africanos “Bantu”, desde a sua génese linguística à identidade cultural, acrescentando que o livro narra a caracterização dos africanos, independentemente da sua zona de origem, que têm como hábitos a partilha dos momentos de alegria e de tristeza, usos e costumes, com a noção da preservação dos valores sagrados e da vida.
Em breves declarações, o jornalista José Caetano, um dos filhos de Mafrano, disse que a obra é uma recolha de textos de antropologia cultural de várias regiões de Angola, sobretudo, nas províncias do Bengo, Cabinda, Cuanza-Norte, Luanda e Malanje, para além de algumas referências históricas do Planalto Central.
José Caetano informou que o volume III da obra poderá ser apresentado, este ano, dada a necessidade do reconhecimento da cultura angolana, desde a era colonial, com aspectos importantes que eram ignorados na altura.
Por sua vez, o chefe do departamento da Acção Cultural da província do Huambo, Pascal Pedro Nhanga, enalteceu a família do autor pela iniciativa da publicação da obra, que traz à tona a convivência do passado comum do povo angolano e africano, no geral, apelando à juventude a ler mais sobre a obra, por demonstrar diversos exemplos de persistência e práticas dos ancestrais africanos, para estudos e pesquisas essenciais, com foco no desenvolvimento da riqueza sócio cultural angolana.
De recordar que o Volume I da colectânea foi colocado à disposição em 2022, tendo sido apresentados em Luanda, Huíla, Namibe, Cuanza-Norte e Cabinda e em países como Moçambique, Cabo-Verde, São Tomé e Príncipe e Portugal.
Maurício Caetano, nascido a 24 de Dezembro de 1916, foi membro fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA) e destacou-se como professor de Português e de Filosofia em vários estabelecimentos de ensino, dentre os quais o Liceu Ngola Kiluanji, os instituto Makarenko, PIO XII e de Ciências Religiosas de Angola (IGRA).
Segundo registos mais antigos, Maurício Caetano trabalhou como colaborador do Jornal Independente «Angola Norte», em Malanje, onde fez publicar um artigo sobre «O perfil etnográfico do negro Jinga», em 1947, que foi dedicado nesse ano a Lázaro Manuel Dias, seu amigo íntimo e anos mais tarde ministro da justiça em Angola e, também, membro do «Processo dos 50».
O autor foi, igualmente, colaborador da revista Angola, da Liga Nacional Africana, dos jornais «Farolim» e correspondente do Jornal «O apostolado», em Cabinda, Dembos e Cuanza-Norte, desde 1954.
Na apresentação da obra, Venceslau Casese (Historiador, antropólogo e linguista) afirmou:
«Quero, em primeiro lugar, saudar Sua Majestade o Rei do Huambo; a ilustre família Mafrano e, finalmente, saudar de igual modo a todas e todos os presentes!
Agradeço em ter sido convidado a apresentar esta magna obra e também agradecemos em ter sido contemplada a província do Huambo para colher este acto de apresentação da obra do Sr. Maurício Francisco Caetano, “Mafrano”, num dia em que comemoramos mais um aniversário da Libertação da África Austral.
Maurício Francisco Caetano é uma figura que se deu à grande pesquisa da cultura dos povos Bantu, à semelhança de outras ilustres figuras como Carlos Estermann, Heli Chatelin, Óscar Ribas, Raúl Altuna, Mário Milheiros, dentre outros tantos.
Em poucas palavras, podemos dizer que Mafrano tocou em todos os aspectos da vida dos Bantu, desde a dimensão social, cultural, política, religiosa e até mística.
Como dominador da cultura greco-latina faz um paragono, ou comparação, entre a concepção do mundo negro-bantu e a indo-europeia, sobretudo no concernente a mitos, mitologias, lendas, ciências, técnicas, tecnologias; filosofias e outros saberes da vida, chegando à sublime conclusão de que o que nos separa é muito insignificante. Com esta abordagem, desabam por terra os preconceitos contra os ditos aborígenes, como seres desprovidos de valências humanas como acontece com outros seres humanos de outras latitudes ou geografias.
Mafrano é considerado como um dos maiores senão mesmo o maior antropólogo de Angola, por sua Reverendíssima Dom Zacarias Kamwenho, constitui motivo de orgulho para Academia Angolana e exemplo a seguir para os estudantes de diversos níveis e para o escol de investigadores de Ciências Sociais, Filosóficas, Antropológicas, Culturais e quiçá Humanas no seu verdadeiro sentido.
Parabéns família Mafrano, parabéns Angola e parabéns África Negro-bantu, em particular.»
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