O ex-presidente do BES Angola (BESA), Álvaro Sobrinho, assegurou hoje que os mais de três mil milhões de euros de crédito concedido pelo BES à entidade angolana, que não foram reembolsados, nunca saíram de Portugal.
N a sua audição na Comissão Parlamentar de inquérito ao caso BES/GES, que ainda decorre no Parlamento português, Álvaro Sobrinho refere que, “dizer que este dinheiro saiu para financiar o BESA não é verdade.”, porque “o dinheiro ficou no BES Portugal”.
Álvaro Sobrinho justificou que “todas as operações com moeda estrangeira eram feitas, sempre, pelo BES”, pelo que os montantes em falta “nunca saíram do BES para o BESA”.
Segundo o ex-presidente do BESA, “a concessão de crédito do BESA seguia regras próprias”, passando por um comité de crédito.
“As propostas, como em todos os bancos, eram feitas de maneira a que quando fosse tomada uma decisão, a gestão de risco do banco já tinha parecer, pelo que fica para a comissão executiva e o conselho de administração do BESA a sua aprovação”, afirmou Álvaro Sobrinho.
“A linha do BES ao BESA é uma grande questão para toda a gente. Esta linha foi feita, se não me engano, em 2008. Iniciou-se com 1,5 mil milhões de dólares e tinha como finalidade a tomada firme, a subscrição, de um fundo de desenvolvimento do Estado angolano”, relatou Álvaro Sobrinho, acrescentando que “parte deste dinheiro foi usado para comprar obrigações do Estado, com uma maturidade de 10 anos. Em relação ao resto do dinheiro… o BESA pagou 700 milhões de dólares de juros por esta operação nos últimos três anos”.
Álvaro Sobrinho referiu também que o BESA tinha um “custo de financiamento de 10%”, continuando a descrever os procedimentos normais de crédito do banco angolano no âmbito deste financiamento recebido pelo BES.
“Parte desta linha foi feita via ‘trade finance’ a empresas portuguesas exportadoras. O BESA emitia as cartas de crédito, o BES confirmava-as e pagava e o BESA fazia as transferências”, sublinhou.
De acordo com o responsável, “muitos desses clientes, além de exportadores, eram importadores”.
E reforçou: “O crédito ficava no BESA, mas o BES recebia o dinheiro. Mesmo a operação das obrigações, o dinheiro não saiu do BES para o BESA”, sublinhando que foi directamente para o Banco Nacional de Angola (BNA).
Questionado pela deputada Cecília Meireles, do CDS-PP, se as notícias que apontam para que 80% da carteira de crédito do BESA, correspondentes a cinco mil milhões de dólares, está em risco, Álvaro Sobrinho negou-o.
“A única coisa que eu posso dizer acerca dessa matéria é que não”, vincou.
Entretanto, Álvaro Sobrinho disse também que não tem conhecimento sobre uma alegada retirada do seu estatuto de idoneidade pelo banco central angolano (BNA).
“Que eu saiba, até agora, não”, respondeu o responsável perante a questão sobre a matéria colocada por Carlos Abreu Amorim, deputado do PSD.
O político explicou que a pergunta tinha como base o objectivo de esclarecer uma notícia que saiu em Setembro num jornal português, tendo Álvaro Sobrinho dito que a mesma era falsa.
Sobrinho esteve mais de uma década à frente do BESA, tendo ajudado a criar o Banco Valor depois de sair da subsidiária do Banco Espírito Santo (BES) em Angola, e continua a ser ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES.
Álvaro Sobrinho escusou-se também a confirmar o valor anual superior a dois milhões de euros que receberia do BES. “Ganhava mais de dois milhões de euros por ano”? questionou Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda.
“Não lhe vou responder a essa pergunta do foro pessoal”, respondeu Ávaro Sobrinho, dizendo não compreender a utilidade da pergunta para os objectivos da Comissão de Inquérito.
Mariana Mortágua explicou que pretendia perceber como é que um homem que foi gestor de bancos, por melhor que fosse remunerado, tinha conseguido acumular uma fortuna pessoal como a de Sobrinho.
A deputada bloquista referiu as participações detidas por Álvaro Sobrinho no capital de grupos de ‘media’, como a Newshold, o jornal i e o semanário Sol, bem como no Sporting.
“Faço parte de uma família angolana com posses. Os meus pais compraram-me uma casa em Cascais e um carro e vim para Portugal estudar”, ilustrou Álvaro Sobrinho, acrescentando: “Eu tenho os investimentos que eu tenho, mas não é o âmbito desta comissão. Quando esta comissão colocar estas perguntas a todas as pessoas que aqui vêm, que até podem ter mais do que eu, poderei responder”.
Álvaro Sobrinho relatou que entrou como técnico para o BES, tendo desempenhado funções quase sempre ligadas à área de activos financeiros.
“Entre 2002 a 2012 trabalhei como presidente da Comissão Executiva do BESA e vice-presidente do Conselho de Administração do BESA. Saí da ESAF em finais de 2001 para começar com a operação [do BESA] que começou em 2002”, informou.
O ex-presidente executivo do BESA acusou o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, de ter sido “deselegante” na Comissão de Inquérito quando falou na sua cunhada: “A minha cunhada sempre esteve na área comercial”, declarou Álvaro Sobrinho.
Aquando da sua audição na comissão, Ricardo Salgado havia dito que Álvaro Sobrinho tinha nomeado a cunhada como responsável da concessão de crédito do BESA. Sobrinho declarou que a cunhada estava na área comercial e “nunca mudou de área”
Sobre a declaração de Ricardo Salgado, classificou-a de “no mínimo deselegante”.
As insuficiências de capital na entidade angolana, que levaram à criação de uma garantia presidencial de Angola sobre 3,3 mil milhões de euros, têm sido um dos pontos centrais da comissão de inquérito.
O BESA, de onde Álvaro Sobrinho saiu no final de 2012 da presidência, cedeu empréstimos superiores a 5,7 mil milhões de dólares, montante em local indefinido.
A Comissão de Inquérito arrancou a 17 de Novembro e tem um prazo de 120 dias, que pode eventualmente ser alargado.