Um dos primeiros líderes dos BRICS (bloco de países emergentes este ano presidido pela Rússia) a manifestar-se a propósito da morte (assassinato) do russo Alexei Navalny, o Presidente Lula da Silva, disse que era importante evitar “especulações” e aguardar os resultados da autópsia, desde logo porque ele “morreu porque estava doente”.
Por Orlando Castro
O presidente brasileiro foi claro: “Acho que é uma questão de bom senso (…) Se a morte foi suspeita, é preciso investigar primeiro para saber de que morreu o cidadão. Os peritos forenses vão dizer qual a causa da morte. Então, na altura, poderão julgar”.
Vladimir Putin é o “grande chefe” dos BRICS, acrónimo de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, ao qual se juntaram recentemente outros países emergentes.
Lula da Silva sublinhou que Alexei Navalny podia estar doente ou ter outro problema de saúde, mostrando-se apreensivo com a “banalização” de acusações de homicídio. “Não quero especulações”, disse o “ladrão de nove dedos” (assim retratado por José Filipe Rodrigues), acrescentando que “compreende os interesses daqueles que acusam imediatamente (…) mas não é esse o meu lema”.
Entre um palerma de direita (Jair Bolsonaro) e outro de esquerda (Lula da Silva) os brasileiros escolherem o segundo. E este, sempre que abre a boca sai asneira.
Lembro-me, por exemplo, de que as primeiras declarações de Luiz Inácio Lula da Silva durante a sua visita oficial a Angola (Agosto de 2023) foram feitas no Palácio Presidencial, em Luanda, onde foi condecorado com a Grande Ordem Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, assassino e genocida que mandou assassinar 80 mil angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977.
Noutro momento da visita após a deposição de uma coroa de flores no sarcófago de António Agostinho Neto, Lula da Silva mostrou-se honrado com a condecoração.
“Quando o ser humano chega na idade que eu estou [77 anos] muita gente pensa que está na hora de parar e quando eu recebo uma Ordem, a mais importante de Angola, que leva o nome de um símbolo desse país [o assassino e genocida que mandou assassinar 80 mil angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977], da pessoa que morreu antes do tempo, eu vou carregar essa medalha com o compromisso de que quem tem uma causa não pode parar de lutar”, salientou o putinesco chefe de Estado brasileiro, “assumindo o compromisso de tentar fazer uma campanha mundial contra a desigualdade”.
“Espero que com essa medalha no peito, alimentado pelo pensamento revolucionário de Agostinho Neto [o assassino e genocida que mandou assassinar 80 mil angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977], possa vencer no intento de convencer a humanidade a se indignar contra a desigualdade”, disse o “ladrão de nove dedos”, na sala onde foi condecorado no Palácio Presidencial, perante o Presidente angolano (general João Lourenço) e uma vasta comitiva de responsáveis brasileiros.
No caso da invasão (Lula acha que é apenas uma desavença de vizinhos) da Ucrânia pela Rússia, a Coreia do Norte acusou os Estados Unidos de serem “a causa raiz da crise ucraniana”. Curiosamente, Lula da Silva veio dizer o mesmo. Nesta matéria, quem sabe se não haverá outras, o presidente brasileiro está em sintonia total e inequívoca com Kim Jong-un.
Washington prosseguiu uma política de “supremacia militar, desafiando a legítima exigência da Rússia pela sua segurança”, pode ler-se numa mensagem publicada no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte. Tudo indica que Lula da Silva subscreve também esta tese.
“A causa raiz da crise ucraniana reside também no autoritarismo e arbitrariedade dos Estados Unidos”, acrescentou.
Na mesma nota critica-se os EUA por terem “dois pesos e duas medidas” em relação ao resto do mundo. Acusou os EUA de interferir nos assuntos internos de outros países em nome da “paz e estabilidade”, enquanto “denunciava injustificadamente as medidas de autodefesa tomadas por [esses] países para garantir a sua própria segurança nacional”.
“Os dias em que os Estados Unidos reinavam terminaram”, afirma Kim Jong-un e… Lula da Silva também, embora numa linguagem menos assertiva.
O Brasil, já na era de Lula da Silva, votou em conjunto com mais de 140 países na ONU para condenar a agressão russa e apelar à sua cessação e ao apelo à Rússia para que retire os seus soldados de todo o território da Ucrânia nas suas fronteiras internacionalmente reconhecidas. Eis senão quando, comunista uma vez, marxista sempre, o Presidente brasileiro, Lula da Silva, diz, no final de uma visita à China: “Os Estados Unidos devem parar de encorajar a guerra (na Ucrânia) e começar a falar de paz, a União Europeia deve começar a falar de paz”.
Em Julho de 2010, os presidentes da Guiné-Equatorial e do Brasil, Teodoro Obiang e Lula da Silva, assinaram em Malabo um acordo para a supressão de vistos aos detentores de passaportes diplomático e de serviço.
É assim mesmo. Que se lixem os direitos humanos, a democracia e as regras de um Estado de Direito. Há valores mais altos e, na circunstância, os que sofrem até não são brasileiros…
Lula da Silva assinou com o seu homólogo equato-guineense outros acordos em matéria de Defesa e formalizou a criação de uma Comissão Mista de Cooperação. O saldo desta deslocação à Guiné-Equatorial saldou-se ainda pela assinatura de um Memorando de Entendimento no domínio da Formação e Intercâmbio de Experiências nos sectores diplomático e consular.
No comunicado conjunto então distribuído à imprensa, os dois presidentes expressaram a sua disposição em salvaguardar os princípios democráticos e a vontade em cooperar na luta contra o crime organizado.
É mesmo para rir. Teodoro Obiang a falar de princípios democráticos bate aos pontos Jean-Bédel Bokassa, também conhecido como Imperador Bokassa I e Salah Edddine Ahmed Bokassa, Idi Amin Dada ou Mobutu Sese Seko.
É claro que para Lula da Silva, como aliás para todos os restantes (ir)responsáveis da CPLP, a democracia e os direitos humanos têm, talvez por força do Acordo Ortográfico, um significado diferente.
Tão diferente que, em Janeiro de 2006, a Petrobras adquiriu à empresa norte-americana Chevron um bloco para explorar petróleo na Guiné-Equatorial em águas profundas, especialidade da petrolífera brasileira. Tão diferente que a construtora Andrade Gutierrez também tem actuado no país por intermédio de sua subsidiária em Portugal.
Angola “não tem razões para deixar de reconhecer o Governo” da Venezuela, pois é “legítimo e eleito”, disse em Março de 2019 o chefe da diplomacia angolana, Manuel Augusto, que defendeu o diálogo como a única solução para a crise naquele país. O Partido Comunista Português (PCP), por exemplo, diz a mesma coisa. Lula da Silva também. Quem sai aos seus…
Em Portugal, no dia 16 de Abril de 2023, o líder da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, defendeu que a Assembleia da República “não pode receber um aliado de Putin como Lula da Silva no 25 de Abril”.
Na rede social Twitter, Rui Rocha escreveu que “a Assembleia da República que convidou Zelensky para discursar em 21 de Abril de 2022 não pode receber um aliado de Putin como Lula no 25 de Abril. E o Presidente da República que atribuiu a Ordem da Liberdade a Zelensky não pode estar confortável com a presença de um aliado de Putin como Lula no 25 de Abril”.
A IL já tinha criticado que a sessão de boas vindas ao Presidente do Brasil no parlamento português tivesse sido marcada para o mesmo dia da sessão solene do 25 de Abril e anunciou que apenas se faria representar institucionalmente na sessão dedicada a Lula da Silva.
O líder parlamentar, Rodrigo Saraiva, defendeu então que esta coincidência de datas significava “uma instrumentalização dessa data de liberdade” que representa o 25 de Abril para Portugal.
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