O Presidente de Angola, general João Lourenço, nomeou hoje Rui Falcão ministro da Juventude e Desportos, substituindo no cargo Palmira Barbosa, nomeada em Setembro de 2022, informou hoje a secretaria de imprensa da presidência. E assim vai o jardim zoológico. Depois de um pinto chegou agora um falcão…
Por Orlando Castro
Zurrando perante os microfones dos jornalistas, no âmbito das celebrações dos 67 anos de fundação do MPLA, Rui Falcão disse que o MPLA é um partido unido (sobretudo quando este é o epicentro da corrupção), que convive com opiniões diferentes, desconhecendo a existência interna de “abelhas ou marimbondos”, imagem associada pelo próprio e actual presidente do MPLA, general João Lourenço, aos políticos envolvidos em corrupção.
Recorde-se que o próprio Presidente do MPLA, João Lourenço, bem como Presidente da República, João Lourenço, o Titular do Poder Executivo, João Lourenço, e o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, João Lourenço, afirmaram que viram roubar, ajudaram a roubar, beneficiaram do roubo mas que – tal como Rui Falcão – não são (quem diria?) ladrões.
“Somos um partido unido, um partido democrático, onde as pessoas têm a liberdade de ter opiniões diferentes e nós já estamos habituados a conviver com isso e não há nenhum laivo hoje de falta de unidade ou de coesão no seio do partido”, assegurou Rui Falcão. Bem que o, na altura, secretário para a Informação do Bureau Político do MPLA (hoje promovido a ministro da Juventude e Desportos) poderia, deveria mesmo, ter citado o único herói nacional que o MPLA permite, o assassino e genocida António Agostinho Neto, quando mandou assassinar milhares e milhares de angolanos do MPLA, nos massacres de 27 de Maio de 1977.
Sobre o alegado desgaste do partido para a resolução dos problemas do país, argumento de vários círculos da sociedade civil e de partidos na oposição, Rui Falcão disse já estarem habituados a esta “retórica”, que apenas “fortalece o MPLA”. Nesta fase da erudita dissertação já o odor começava a ser devastador. Nada de novo, aliás. É sempre assim quando os que têm o cérebro ligado aos intestinos abrem a boca. Comprovadamente ficou hoje a saber-se que, afinal, também o Presidente do MPLA sofre dessa inovação cerebral…
“Ainda bem que há esta retórica de alguns, porque foi assim que perderam (as eleições) em 1992, perderam em 2008, em 2012, em 2017, perderam em 2022 e vão perder em 2027”, assegurou Rui Falcão referindo-se implicitamente à UNITA, maior partido na oposição. Esqueceu-se de falar da tentativa de decapitação da UNITA que, em 1992, levou mais uma vez o MPLA a massacrar milhares de angolanos em Luanda.
Em relação ao actual quadro socioeconómico das famílias angolanas (20 milhões de pobres), marcado pela subida galopante dos produtos da cesta básica (que não atinge, obviamente, os latos dirigentes do partido), o novo ministro da Juventude e Desportos, disse que o partido está preocupado com a situação, referindo que as medidas do executivo, “a seu tempo” vão sentir-se, e que “não há nenhum país do mundo que viva no paraíso”. Até lá, é claro, os angolanos vão continuar a aprender a viver sem comer.
“Nos Estados Unidos da América vai encontrar cidadãos debaixo da ponte, agora mesmo foi dito que em Portugal há 10.000 famílias a viver na rua, portanto, cada país tem a sua idiossincrasia, seus problemas e realidade, mas ninguém vive no paraíso”, argumentou, renegando as teses do seu próprio “querido líder” que diz estarmos perto desse paraíso.
Rui Falcão apontou ainda a existência de jornais, rádios e televisões privadas em Angola para refutar a aludida inexistência de liberdade de imprensa e de expressão no país, considerando existirem casos que não devem ser generalizados. Nesta fase os alarmes contra o cheiro intestinal dispararam… Terá sido nesta altura que João Lourenço foi alertado para a urgência em higienizar o ambiente, retirando Rui Falcão de espaços públicos fechados.
“Não podemos generalizar actos isolados de um agente qualquer, agora que nós temos coisas para corrigir enquanto sociedade, isso temos, mas aqui se um polícia tem uma atitude incorrecta lê-se de uma maneira, gostaria de ver os mesmos órgãos a falar do que acontece em França, na Inglaterra, em Espanha ou lá o cacete é diferente?”, questionou, referindo-se às liberdades de reunião e de manifestação.
Recorde-se que no dia 20 de Julho de 2023, o ‘bureau’ político do MPLA fez baixar uma ordem superior e chamou a imprensa para a leitura de uma declaração, democraticamente sem direito a perguntas, um dia depois de a UNITA, ter anunciado que iria apresentar na Assembleia Nacional um pedido de destituição do Presidente da República, João Lourenço.
“Face à realidade constatada, a gravidade das acusações e dos actos que têm vindo a ser protagonizados de forma irresponsável pela UNITA, contra o Presidente da República, chefe de Estado, Titular do Poder Executivo e Comandante em Chefe das Forças Armadas Angolanas, o Bureau Político do MPLA orienta o seu grupo parlamentar a tomar todas as providências para que o parlamento angolano não venha a ser instrumentalizado, para a concretização de desígnios assentes numa clara agenda subversiva, imatura e de total irresponsabilidade política”, disse Rui Falcão que, em simultâneo, quis mostrar que afinal sabe… ler.
Rui Falcão, que leu a declaração, referiu que a UNITA “com este comportamento irresponsável e antidemocrático” indicia que “pretende assumir uma atitude de ruptura com o diálogo institucional, sobretudo em sede da Assembleia Nacional”.
“Esta acção protagonizada no sentido de destituir o Presidente da República, sem factos que encontrem fundamento respaldados na Constituição só é possível ser criada por uma organização política que, consciente da sua notória e cada vez mais evidente incapacidade de conviver numa sociedade democrática e pluralista, não hesita em provocar um ambiente institucional contrário ao que o MPLA, através do seu grupo parlamentar, proclamou ainda há poucos dias, no sentido de um maior diálogo de inclusão no debate político”, referiu o sipaio de serviço que, a partir de hoje, vai passar a ensinar a juventude (do MPLA) e os desportistas a – tal como ele – fazer uso dos intestinos sempre que queiram mostrar que pensam.
Rui Falcão recordou “que a própria direcção da UNITA, que saudou a iniciativa de diálogo apresentado pelo grupo parlamentar do MPLA e que, em face disso, apresentou uma proposta de agenda de diálogo, vem com o seu pronunciamento acabado de tornar público, demonstrar uma total ausência de seriedade, de sentido de Estado, de disponibilidade, para a sã e harmoniosa convivência institucional”.
Segundo a criatura, o MPLA tem vindo a acompanhar a estratégia do principal partido da oposição, “relativamente à tomada do poder fora do quadro institucional informal, em total desrespeito pelo povo angolano e pela sua vontade soberana” manifestada nas últimas eleições gerais.
“A estratégia de criação de um clima de instabilidade institucional, há muito denunciada, tem vindo a ser aplicada com recurso permanente ao descrédito das instituições do Estado e à tentativa de criar um quadro político que justifica a sublevação popular e a ascensão da UNITA ao exercício do poder, sem a necessária legitimação democrática, sabendo ela que essa será a única via para algum dia ser poder em Angola”, referiu Rui Fal… cão.
A declaração sublinhou que “alguns dirigentes de topo” da UNITA têm “noção clara de que a insurreição armada do passado pode agora ser travestida de uma eventual insurreição popular, como têm apregoado nas diversas localidades por onde têm passado”.
O dirigente do MPLA realçou que, depois de o povo angolano ter dado o seu voto de confiança ao líder do partido, “a UNITA sentiu de forma profunda, o facto de a sua oportunidade de ser poder ter sido adiada por mais cinco anos”.
“E não hesitou em criar um conjunto de suspeitas para alicerçar o argumento da ilegitimidade da vitória, com o propósito único de impedir o livre exercício do poder pelo MPLA”, destacou.