Já aparecem os primeiros resultados de mais uma Oferta Pública de Venda de Angola que, recentemente, João Lourenço apresentou ao seu homólogo norte-americano, Joe Biden, na Sala Oval da Casa Branca. A empresa norte-americana All-American Rail Group vai desenvolver um projecto ferroviário para ligar Luanda à Republica Democrática do Congo (RD Congo).
O projecto foi avaliado em 4,5 mil milhões de dólares (cerca de 4,2 mil milhões de euros), de acordo com o comunicado divulgado pelo Ministério dos Transportes (Mintrans) do MPLA.
O acordo de entendimento foi assinado no domingo, sendo a fase seguinte a criação de um grupo de trabalho presidido pelo titular da pasta dos Transportes, Ricardo Daniel Sandão Queirós Viegas de Abreu, e composto por responsáveis da Direcção Nacional para a Economia das Concessões, do Caminho-de-Ferro de Luanda, a Agência Nacional de Transportes Terrestres, e do All-American Rail Group.
O comunicado do Mintrans salientou que “a interligação com a RD Congo vai possibilitar a exportação de petróleo, madeira e minerais para os países do Atlântico” e que o projecto está pensado para reforçar a segurança alimentar de Angola, apoiando a expansão agrícola das províncias angolanas do norte (Uíge, Kwanza-Norte, Bengo, Malanje e Zaire) em “sinergia com as plataformas logísticas do Soyo, Malanje, Luvo e Lombe”.
Citado no comunicado, Mustafa Ocalir, membro do Conselho de Administração da empresa norte-americana, salientou que este memorando é primeiro passo para apoiar o plano de expansão da rede ferroviária angolana, através do Corredor Norte: “pretendemos construir e integrar a ferrovia com plataformas logísticas e com um porto nesta região agrícola”.
O ministro dos Transportes do MPLA destacou que o Plano Director ferroviário “preconiza a extensão dos três corredores nacionais para as fronteiras com os países vizinhos, com o objectivo prioritário de potenciar as ligações aos respectivos portos do litoral, a facilitação do comércio transfronteiriço e a dinamização da economia real em Angola”, referiu na mesma nota.
Ricardo Viegas de Abreu apontou também o potencial de desenvolvimento do Corredor Norte, que apesar de terminar em Malanje, pode estender-se para o norte e leste do país, as regiões mais populosas e “com características naturais propícias à implementação de actividades de agronegócio, comércio, indústria e turismo”.
O All-American Rail Group (AARG) é um consórcio ferroviário com sede em Houston, no Texas, composto por seis empresas ferroviárias e de infra-estrutura norte-americanas.
Nos últimos cinco anos, o AARG e parceiros facturaram 19,7 mil milhões de dólares (cerca de 18,3 mil milhões de euros), tendo construído e assumido a gestão de três mil projectos ferroviários nos Estados Unidos.
O consórcio dispõe de financiamentos do Export-Import Bank, dos Estados Unidos, e deve abrir em breve um escritório de representação em Luanda.
Os EUA anunciaram recentemente que vão disponibilizar mil milhões de dólares (cerca de 929 milhões de euros) para apoiar o desenvolvimento do Corredor do Lobito, que liga Angola, a República Democrática do Congo e a Zâmbia.
O tema foi um dos destaques do encontro, a 30 de Novembro, entre o Presidente angolano, João Lourenço e o homólogo norte-americano, Joe Biden.
O investimento nesta infra-estrutura ferroviária, que liga as regiões ricas em minério da Zâmbia e da RD Congo ao porto angolano do Lobito, é vista como uma resposta norte-americana e europeia à iniciativa chinesa “Uma faixa, Uma Rota”, também conhecida como Nova Rota da Seda e que visa melhorar as ligações internacionais da China.
Caminho de Ferro de Luanda… desde 1848
O primeiro escrito a favor do caminho-de-ferro é de 1848 da autoria de Pompeu de Carpe, um visionário, que esboçou uma ligação ferroviária de Luanda a Calumbo. Em 1877 foi tomada a decisão (Ministro Andrade Corvo) de levar o caminho-de-ferro, a todo o custo, até ao Lucala, cuja construção se iniciou em 1886 inaugurava-se o primeiro troço de 45 km de Luanda à Funda.
Era a acção da Companhia Real dos caminhos-de-ferro através de África, criada em 1883 e conhecida por Companhia de Ambaca! O projecto era ligar Luanda ao Congo, África Central e posteriormente aos caminhos-de-ferro, existentes ou em projecto, África Central e Moçambique.
As obras iniciais foram dirigidas com grande competência pelo engenheiro João Burnay. Tratando-se dum trajecto difícil, é de notar que foram executadas com poucos desvios face à actualidade, numa área de actividade iniciada pelos engenheiros portuguese, a da engenharia ferroviária.
Em 1888 era inaugurado o primeiro troço de 45 km entre Luanda e Funda, do Caminho de Ferro de Ambaca, muna iniciativa da Real Companhia dos Caminhos de Ferro através de África. A Funda era a primeira estação para paragem do comboio, depois da Estação Central do Bungo.
Dos primeiros 45 km de Luanda à Funda o CFA atinge os 364 km em 1899 até o rio Lucala, na bitola de um metro. Antes, por volta de 1885/86, são construídas igualmente as Oficinas em frente da estação Central de Luanda, que serviram até 1918 – fim da 1ª Guerra Mundial -, às necessidades daquele caminho-de-ferro e, depois, até 1975, às do Caminho de Ferro de Luanda.
1909 – Chegada do Caminho-de-Ferro a Malange
Impunha-se a ligação o mais rápido possível à cidade de Malange. O Governo de então mandou iniciar os estudos e construir uma linha que apesar de independente, tivesse, contudo, íntima ligação com a que parara no Lucala. Essa linha entrava em exploração, pelo Estado, em 1909.
Na mesma bitola de um metro, a linha ligava finalmente Luanda a Malange via Lucala e os seus 140 km passaram a ser complemento da linha do Caminho-de-Ferro de Ambaca.
Neste meio tempo, o Estado procedia à construção do ramal de Golungo Alto em dois lanços, um de Canhoca a Cambondo (14 km), o outro de Cambondo a Galungo Alto (17 km).
A Administração da Linha de Ambaca, entretanto, tinha deixado de corresponder às exigências da circulação ferroviária. Má conservação da linha e deficiente material circulante estavam na base das críticas. O Caminho de Ferro de Ambaca deixava de assegurar o bom êxito da sua missão, principalmente no que dizia respeito ao escoamento das riquezas da produção da região dos Dembos.
1918 – Criação dos Caminhos de Ferro de Luanda
Num acto de surpresa, não de todo inesperado, o Diário do Governo inseria em 13 de Julho de 1918, o Decreto nº 4600, pelo qual o Caminho de Ferro de Ambaca passava imediatamente para as mãos do Estado.
Assim nascia o Caminho de Ferro de Luanda, iniciando a exploração de 504 km na linha geral que já atingia Malange, e de mais 31 km do Ramal do Golungo Alto, sendo o percurso entre o km 5 e Catete feito pelo Vale do Bengo.
A variante de 52 km, entre o Zenza e Luinha foi inaugurada em 1931, encurtando o antigo trajecto em 22 km. Antes, em Dezembro de 1925, já havia sido aberto à exploração o ramal de Calumbo, numa extensão de 30 km. Os últimos quilómetros de via-férrea construídos no CFL, fora da área da cidade de Luanda, compreenderam o troço final do ramal do Dondo, que ligou Cassoalala ao Dondo (26 km), inaugurado em 28 de Maio de 1944.
Assim, no início de 1953, a Rede do Caminho de Ferro de Luanda era a seguinte.
Com a Bitola de 1 metro. Linha Geral – composta pelos antigos 363, 440 km do Caminho de Ferro de Ambaca e pela antiga Linha de Malange (140 km), construída pelo Estado e concluída em Setembro de 1909 que após os melhoramentos do traçado, ficou com 424 km.
Linha do Bengo – correspondente ao troço que ligava Luanda a Catete, num percurso de 94 km. Desenvolvendo-se ao longo da margem esquerda do Rio Bengo, servia toda a rica região do Vale do Bengo onde se cultivava a maioria dos géneros frescos consumidos em Luanda. As condições e extensão desta linha determinaram que tivesse lugar a construção de uma variante que passou a ligar directamente Luanda a Catete, aberta à exploração em Julho de 1924.
Ramal do Dondo – com início na Linha Geral ao km 134 (Zenza do Itombe) com términos na Vila do Dondo, permitindo drenar para Luanda a produção da rica região do Libolo, foi constituído pelo antigo troço de Zenza do Itombe a Cassoalala (29 km) e pelo prolongamento de Cassoalala até ao Dondo (26 km), inaugurado em 28 de Maio de 1944.
Ramal de Calumbo – com início ao km 21 da Linha Geral e terminando na povoação de Calumbo situada na margem direita do Rio Kwanza (31 km), ficou concluído em 1925, destinava-se a transportar os produtos agrícolas das fazendas situadas nas margens do Kwanza, em resultado da grande dificuldade em demandar a barra do rio.
Com a Bitola de 0,60: Ramal de Golungo Alto – com início na Estação da Canhoca (km 208 da Linha Geral) desenvolvia os seus 31 km- os únicos em bitola de 0, 60 – através de uma região montanhosa e luxuriante, rica na produção de café e oleaginosas.
O apetrechamento foi-se mantendo até que os então chamados Caminhos de Ferro de Luanda foram dotados do melhor e mais moderno material circulante que se construía na altura, quer de tracção quer para passageiros ou carga.
Foram os primeiros Caminhos de Ferro que em Angola, tiveram em circulação “automóveis de linha de 8 lugares” (e automotoras) para o transporte rápido de passageiros, em serviço regular de horário ou por fretamento.
Estava assim concluída com bons resultados, abem da economia e do interesse público, a grande fase de renovação a que o Estado se viu obrigado a proceder para salvar o que fora o Caminho de Ferro de Ambaca.
Em fins de 1950 foram ordenados estudos com o fim de levar a efeito a construção de uma linha que, saindo da Estação Central de Luanda e seguindo por terrenos da Boavista e Vale do Sororoca até ao alto do Musseque Rangel, fosse ligar à Linha Geral além do km 5. A intenção era simplesmente permitir o desenvolvimento da cidade.
Em 28 de Maio de 1951 era inaugurada a “Nova Linha de Saída” dos Caminhos de Ferro de Luanda, na extensão de pouco mais de nove quilómetros, ligando a Estação Central ao km 8 da linha geral, actual Estação dos Musseques. Obra pequena, mas de grande importância, a “Nova Linha de Saída” dos Caminhos de Ferro de Luanda, veio dar a solução a muitos problemas que a antiga linha causava.