O gabinete para a cidadania e sociedade civil do MPLA (só o nome revela tudo) vai promover, nos próximos dias, actividades festivas com 1.500 crianças social e economicamente desfavorecidas, em três locais distintos da província de Luanda, no âmbito do “Natal Solidário”.
Por Orlando Castro
J á não é mau. O MPLA, partido que – recorde-se – está no poder desde 1975, reconhece que pelo menos existem 1.500 crianças social e economicamente desfavorecidas. É, aliás, uma boa forma para o MPLA as incluir nos seus programas de educação patriótica e, é claro, passar a contar com mais uns tantos militantes.
De acordo com uma nota do tal gabinete para a cidadania, a primeira das três actividades programadas terá lugar nesta terça-feira, no Centro Cultural António Agostinho Neto, na vila de Catete, município do Icolo e Bengo.
No dia 18, quinta-feira, o convívio será com as crianças da Escola nº 2019, localizada perto da administração municipal de Belas, devendo culminar na sexta-feira, dia 19, no Prédio nº 152, na Alameda Van-Dúnem, com os filhos dos antigos combatentes.
Segundo a nota, em todos os actos haverá acções culturais, das quais se destacam recitação de poesia alusiva ao Natal, actuação de grupos infantis, jogo de cadeiras e do saco, concurso de dança, entrega de brinquedos, entre outras manifestações.
O gabinete do MPLA depende metodológica e politicamente do vice-presidente do partido, como é óbvio, e foi criado para que este possa estar cada vez mais próximo dos cidadãos de forma a identificar os problemas que enfrentam no seu dia-a-dia. Problemas esses que, como se sabe, são difíceis de diagnosticar por todos aqueles que não conhecem o país real e que, por coincidência, têm pelo menos três refeições por dia.
A instituição, ou seja, o gabinete do MPLA, trabalha com as camadas mais desfavorecidas e vulneráveis, como as mulheres, jovens, crianças, portadores de deficiência, antigos combatentes e autoridades tradicionais, aos quais procura transmitir a necessidade de uma cidadania activa.
Como afirmou no dia 20 de Junho de 2009 o então governador do Huambo, Albino Malungo, a Organização de Pioneiros Agostinho Neto (OPA) deve continuar a ser parceiro e ajudar o governo a desenvolver programas para o bem-estar das crianças.
Pioneiros? Exactamente. Tal e qual comos nos tempos da militância marxista-leninista do pós-independência (11 de Novembro de 1975). Uma organização similar à Mocidade Portuguesa dos tempos de um outro António. Não António Agostinho Neto, mas António de Oliveira Salazar.
Por manifesta falta de educação patriótica, há quem hoje diga que estes programas deveriam ter acabado há muito, justificando que num Estado de Direito, que Angola diz – pelo menos diz – querer ser, não faz sentido a existência de organismos de lavagem ao cérebro e de viciação dependente de quem está no poder desde 1975, o MPLA.
Mas estão, obviamente, errados. Isto porque o único objectivo da OPA é o amor cego e canino ao MPLA, como se este partido fosse ainda o único, como se MPLA e pátria fossem sinónimos. Isto já para não falar do patriótico culto ao mais alto representante de Deus na Terra, José Eduardo dos Santos.