O MPLA, partido no poder em Angola há 48 anos, acusou hoje a UNITA (o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite) de ser “irresponsável” e de querer ascender ao poder “sem legitimação”, afirmando que os seus deputados vão tomar providências para impedir que o parlamento angolano seja instrumentalizado.
O ‘bureau’ político do MPLA fez baixar uma ordem superior e chamou hoje a imprensa para a leitura de uma declaração, democraticamente sem direito a perguntas, um dia depois de a UNITA, ter anunciado que vai apresentar na Assembleia Nacional um pedido de destituição do Presidente da República, João Lourenço.
“Face à realidade constatada, a gravidade das acusações e dos actos que têm vindo a ser protagonizados de forma irresponsável pela UNITA, contra o Presidente da República, chefe de Estado, Titular do Poder Executivo e Comandante em Chefe das Forças Armadas Angolanas, o Bureau Político do MPLA orienta o seu grupo parlamentar a tomar todas as providências para que o parlamento angolano não venha a ser instrumentalizado, para a concretização de desígnios assentes numa clara agenda subversiva, imatura e de total irresponsabilidade política”, disse o secretário para a informação, propaganda e tudo o mais que for necessário do Bureau Político do MPLA.
Rui Falcão, que leu a declaração, referiu que a UNITA “com este comportamento irresponsável e antidemocrático” indicia que “pretende assumir uma atitude de ruptura com o diálogo institucional, sobretudo em sede da Assembleia Nacional”.
“Esta acção protagonizada no sentido de destituir o Presidente da República, sem factos que encontrem fundamento respaldados na Constituição só é possível ser criada por uma organização política que, consciente da sua notória e cada vez mais evidente incapacidade de conviver numa sociedade democrática e pluralista, não hesita em provocar um ambiente institucional contrário ao que o MPLA, através do seu grupo parlamentar, proclamou ainda há poucos dias, no sentido de um maior diálogo de inclusão no debate político”, referiu o sipaio de serviço.
O secretário para informação do MPLA recordou “que a própria direcção da UNITA, que saudou a iniciativa de diálogo apresentado pelo grupo parlamentar do MPLA e que, em face disso, apresentou uma proposta de agenda de diálogo, vem com o seu pronunciamento acabado de tornar público, demonstrar uma total ausência de seriedade, de sentido de Estado, de disponibilidade, para a sã e harmoniosa convivência institucional”.
Segundo o secretário para Informação, o MPLA tem vindo a acompanhar a estratégia do principal partido da oposição, “relativamente à tomada do poder fora do quadro institucional informal, em total desrespeito pelo povo angolano e pela sua vontade soberana” manifestada nas últimas eleições gerais.
“A estratégia de criação de um clima de instabilidade institucional, há muito denunciada, tem vindo a ser aplicada com recurso permanente ao descrédito das instituições do Estado e à tentativa de criar um quadro político que justifica a sublevação popular e a ascensão da UNITA ao exercício do poder, sem a necessária legitimação democrática, sabendo ela que essa será a única via para algum dia ser poder em Angola”, referiu Rui Falcão.
A declaração sublinha que “alguns dirigentes de topo” da UNITA têm “noção clara de que a insurreição armada do passado pode agora ser travestida de uma eventual insurreição popular, como têm apregoado nas diversas localidades por onde têm passado”.
O dirigente do MPLA realçou que, depois de o povo angolano ter dado o seu voto de confiança ao líder do partido, “a UNITA sentiu de forma profunda, o facto de a sua oportunidade de ser poder ter sido adiada por mais cinco anos”.
“E não hesitou em criar um conjunto de suspeitas para alicerçar o argumento da ilegitimidade da vitória, com o propósito único de impedir o livre exercício do poder pelo MPLA”, destacou.
Rui Falcão afirmou ainda que o maior partido da oposição angolana “nunca teve coragem de assumir que o MPLA saiu vitorioso em 143 dos 164 municípios do país e que em dez províncias, o MPLA venceu em todos os municípios”.
“Nomeadamente no Bié, Huambo, Huíla, Namibe, Cunene, Moxico, Lunda Sul, Cuanza Norte, Cuando Cubango e em Malanje, esta é a verdade nua a crua”, frisou.
De acordo com Rui Falcão, “o povo angolano, conhecedor do passado recente e da actual estratégia da UNITA, jamais se disponibilizará para a criação de situações que perturbem a paz social, a harmonia e a estabilidade, conquistadas” que permitem aos angolanos conviverem na diferença e na diversidade.
“O bureau político apela a todos os cidadãos angolanos a manter a serenidade, a coesão e o respeito pela diferença e os seus militantes, amigos e simpatizantes a manterem o alto sentido de vigilância e cerrar fileiras em torno da firme liderança do camarada presidente João Lourenço”, concluiu o rapazito.
Folha 8 com Lusa