Acedi ao convite que me foi formulado pelo Ministério da Indústria e Comércio, não apenas pela importância de que se reveste este evento tendo em conta as experiências anteriores, mas especialmente pelo carácter sugestivo do lema desta 5ª Edição da Expoindústria: «É Possível Caminharmos Juntos».
Por João Lourenço (*)
De facto, as nossas acções, os nossos programas, os nossos planos, só podem lograr êxitos se caminharmos efectivamente juntos.
O contexto actual da indústria transformadora nacional oferece-nos hoje bastantes desafios, oportunidades mas também constrangimentos, que caracterizam o contexto global e específico da indústria nacional, num momento em que Angola continua a marcar passos bastante precisos no seu processo de abertura ao exterior, procurando caminhos para diversificar a economia através da substituição das importações, do fomento das exportações e da diminuição da dependência do país da economia petrolífera.
O Executivo angolano continua a envidar esforços para assegurar a defesa dos direitos e garantias dos cidadãos e agentes económicos, combatendo efectivamente a corrupção e a impunidade, assegurando assim a defesa dos direitos e garantias de todos os cidadãos e dos agentes económicos.
Para atingirmos os objectivos de crescimento e diversificação da economia, melhoria dos níveis de emprego e, consequentemente, o progresso e o bem-estar social dos cidadãos, é fundamental o desenvolvimento sustentável da indústria nacional.
Apesar dos constrangimentos causados pela pandemia da Covid-19 a nível mundial, a indústria transformadora nacional tem-se mostrado bastante resiliente.
O Instituto Nacional de Estatística de Angola destaca a variação positiva da produção no ramo alimentar, particularmente na moagem de cereais e fabricação de amidos e féculas, produção de bebidas e processamento de tabaco.
De 2018 a 2022, a taxa de crescimento do PIB real para a indústria transformadora registou um acumulado de 7,7%, com maior destaque para o ano de 2022 que teve um crescimento na ordem de 6%, superando a projecção prevista no OGE para aquele ano.
Neste mesmo período, no âmbito do investimento privado foram aprovados e implementados mais de duzentos novos empreendimentos de grande impacto no domínio da indústria transformadora, distribuídos pelas diferentes províncias nos mais variados subsectores de actividade, contribuindo com mais de dez mil postos de trabalho, com maior destaque para o sector da alimentação, uma aposta do Executivo no aumento da produção industrial com vista a garantira autossuficiência em bens essenciais de consumo.
Precisamos de continuar a estimular e a impulsionar o aumento da produção nacional para reduzir os preços, reduzir as importações, aumentar as exportações e fazer face à competitividade decorrente da adesão do país aos protocolos da Zona Livre da SADC, à Zona deComércio Livre Continental Africana e à Zona de Comércio Livre Tripartida.
Assim, devemos todos continuar a fazer um esforço organizado, sistemático e persistente para atrair o investimento privado nacional e estrangeiro, para estarmos na rota certa e atingirmos o nível de industrialização estabelecido pela SADC, fixando o nosso olhar sobretudo para a Zona de Comércio Livre Continental.
Esta tarefa não é fácil, na medida em que a concorrência entre países para atrair investimento directo estrangeiro é bastante forte.
É notório o esforço que o país vem realizando nos últimos anos no aumento e melhoria das infra-estruturas de apoio às indústrias e à economia no seu todo.
Aumentou consideravelmente a oferta de energia eléctrica de fontes de produção hidroeléctrica e fotovoltaica, reduzindo consequentemente a produção a partir de fontes térmicas que são não só poluentes como sabemos, mas que encarecem o preço da energia vendida ao consumidor quer doméstico quer empresarial.
Estamos a apostar na construção das linhas de transporte da energia produzida na bacia do baixo Kwanza, em Capanda, no Laúca, em Cambambe e no Ciclo Combinado do Soyo, todas elas já interligadas através da rede nacional de transporte para levar essa capacidade disponível para o leste, sudeste e sul do país, com vista a termos as províncias da Lunda Sul, da Lunda Norte, do Moxico, do Cuando Cubango, da Huíla, do Cunene e do Namibe ligadas à rede nacional.
Investimentos importantes estão programados também no sector das águas um pouco por todo o país. Para Luanda, principal centro industrial do país, estamos esperançados que os projectos Bita e Quilonga venham desafogar a situação da cidade, que tem um grande déficit na produção e distribuição do precioso líquido para cerca de dez milhões de habitantes e inúmeras indústrias já instaladas e para as perspectivadas.
A resiliência demonstrada pelos nossos industriais mesmo durante o período mais difícil da pandemia revelou-se fundamental para que agora possamos verificar um crescimento acentuado da nossa produção industrial.
O sector dos têxteis, o da produção alimentar, o da indústria extractiva e transformadora das rochas graníticas e ornamentais, o da refinação do sal e também o da metalomecânica, são exemplos acabados do desenvolvimento das cadeias de valor produtivas nacionais, desde a matéria-prima até ao produto transformado.
Com o arranque das três fábricas têxteis, cuja produção tende a crescer nos próximos anos à medida que aumenta também a produção interna da principal matéria prima – o algodão -, prevemos e encorajamos o crescimento da indústria de confecções e da moda para satisfazer as necessidades básicas em vestuário para a grande maioria da nossa população.
A produção agrícola tem vindo a crescer ano após ano e traz consigo a necessidade premente do nascer da agroindústria para a transformação dos produtos do campo, seu processamento, embalagem e criação de centros logísticos de distribuição às grandes superfícies, à rede hoteleira e outros.
O país precisa de mais moageiras para transformar os cereais que serão produzidos no âmbito do PANAGRÃO, precisa de matadouros para o abate do gado cuja oferta vai crescer com o programa de fomento da pecuária, mas precisa ainda de uma indústria de cortumes para o aproveitamento das peles, hoje desperdiçadas mas que podem abrir a oportunidade do surgimento da indústria do calçado e de uma vasta gama de artigos feitos à base do couro e das peles.
O país precisa de estaleiros para a construção das embarcações de pesca de todos os tamanhos, precisamos de indústrias das artes de pesca para que as redes, os anzóis, já não sejam importados se queremos ver o peixe e outros produtos do mar chegarem a preços módicos à mesa do consumidor.
Para acompanhar e complementar os grandes investimentos que vêm sendo feitos em infra-estruturas e no capital humano do sector da saúde, precisamos de atrair as multinacionais da indústria farmacêutica a implantar fábricas em Angola para produzir os medicamentos e as vacinas que consumimos e exportar o excedente.
Pelas oportunidades de emprego que dá, interessa-nos também atrair para Angola a indústria de montagem de automóveis ligeiros e pesados, de tractores e alfaias agrícolas.
Com a perspectiva que temos da retomada da exploração do minério de ferro e sua transformação em aço, são bem-vindos todos aqueles investidores privados que queiram apostar na indústria naval com estaleiros para a construção e reparação de embarcações para a indústria petrolífera, pesqueira, para a marinha mercante, para a marinha de guerra ou ainda para fins de recreio.
Vamos continuar com as reformas estruturais da sociedade angolana em todos os seus aspectos desde as áreas económica, financeira, cambial e social, até à segurança, à justiça, à educação e qualificação das pessoas, passando pela organização do Estado e do território e em todos os aspectos que façam de Angola um país cada vez mais atractivo para o investimento.
Com o investimento público ou público-privado, vamos continuar a aumentar e melhorar a rede de estradas, vamos continuar a aumentar a oferta de água e de energia eléctrica, vamos electrificar o país, mas como acreditamos que é possível e necessário caminharmos juntos, com o investimento privado vamos industrializar o país.