Os bispos católicos angolanos disseram hoje que cresce no país a “cultura da intimidação, geradora do medo e da insubordinação”, e consideraram que as últimas eleições ajudaram a perceber a “necessidade urgente” de se investir em instituições republicanas. Os prelados estão a abusar, pensa com certeza o DDT (Dono Disto Tudo) do reino.
Segundo os bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), as quintas “eleições” gerais angolanas, realizadas em 24 de agosto de 2022, foram um acontecimento importante, que “apesar das várias perplexidades” permitiram manter a continuidade governativa. Permitiram, acrescente-se, de forma fraudulenta como muito bem sabem os prelados.
“Mas, ao mesmo tempo, ajudaram a perceber a necessidade urgente de se investir nas instituições republicanas que estejam acima dos interesses partidários e na reforma profunda do Estado”, referem, num comunicado a propósito da abertura da I Assembleia Plenária da CEAST, que se iniciou hoje, em Luanda.
Bem que os bispos poderiam explicar ao Povo angolano que, do ponto de vista (e da prática) de quem é dono do país, o MPLA continua a ser Angola e que Angola continua a ser (também com a cobertura da Igreja Católica) do MPLA.
Para os bispos católicos, a consciência cívica e política dos cidadãos “felizmente cresce dia após dia clamando não por uma Angola de militantes, de patriotas comprometidos e consequentes, não por uma Angola de intriguistas, intolerantes e elitistas, mas por uma Angola de todos e para todos”.
Os bispos pedem ainda uma Angola “inclusiva, acolhedora e cultora do mérito, da competência, do diálogo consensual e da alegria para todos os seus filhos e filhas e incentivadora da convivência plural, cordata e fraterna”. Ou seja, pedem tudo o que Angola não é há 47 anos.
“Não obstante as dificuldades próprias, inerentes ao mundo político governativo, continuamos a alimentar a esperança de dias melhores para o nosso país”, afirmam. “Continuamos” não é aforma verbal correcta, pois durante décadas a Igreja Católica foi conivente com as violações claras e inequívocas do MPLA às mais básicas regras da democracia e dos estados de Direito.
Na mensagem assinada pelo presidente da CEAST, José Manuel Imbamba, e apresentada à imprensa pelo vice-presidente da conferência episcopal, Estanislau Marques Chindecasse, os prelados saúdam também os esforços do executivo na luta contra a pobreza. Ora aí está. Uma no cravo outra na ferradura, uma em Deus e outra no Diabo. Combater a pobreza? Onde, senhores bispos? É isso que dizem os nossos 20 milhões de pobres.
Os bispos enaltecem a aposta na reconstrução e recuperação de estradas, principalmente primárias, a construção de escolas, hospitais e de mais empreendimentos estruturantes, mas alertam para a “tensão”, que dizem existir, entre as obras de âmbito central e provincial. Mais uma vez, a Igreja Católica não está interessada em dar voz a quem a não tem, em dar de comer a quem tem fome. Pelo sim e pelo não joga em vários tabuleiros, tentando agradar e gregos e troianos. Santa hipocrisia!
“Estas provocam inércia e lentidão em situações que exigem respostas rápidas”, sinalizam os bispos da CEAST, lamentando, no entanto, a “preocupante” situação de pobreza em que se encontram muitas famílias angolanas.
“Apesar da vontade expressa, o quadro social do país continua a inspirar muitos cuidados, o nível de pobreza das nossas famílias continua preocupante”, afirmam às segundas, quartas e sextas, enquanto às terças, quintas e sábados dizem que o MPLA/Estado está a fazer “esforços na luta contra a pobreza”.
Aludindo a um relatório da organização não-governamental Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), os bispos referem que os angolanos que vivem em zonas mais recônditas do país sentem a pobreza “numa proporção asfixiante”. “Daí a vulnerabilidade a que estão expostos diante de muitos charlatões e burladores”, realçam.
Criticam também o “elevado índice” de desemprego, sobretudo no seio dos jovens, considerando que a situação está a provocar a fuga de muitos deles para outras paragens do mundo.
A “delinquência e a violência estão a aumentar por conta também do uso substâncias psicoactivas que pouco a pouco vão ganhando mercado, novos corruptos e corruptores estão a nascer adiando sempre o desenvolvimento do país e a satisfação dos cidadãos”, apontam.
Alertam ainda que “está a crescer a cultura da intimidação, geradora do medo e da insubordinação”, deploram o elevado número de crianças fora do sistema de ensino e afirmam mesmo que o sistema de saúde do país “se mantém doente”.
“Enfim, a estrutura social continua desestruturada potenciando situações de violência, vício generalizado e injustiças endémicas”, acrescentam.
No entender dos bispos da CEAST, a solução para os referidos problemas passa pelo “envolvimento de todas as forças activas da sociedade, incluindo a igreja”, e urge a “reforma autêntica do Estado”, a renovação interior de todos os cidadãos, bem como a concretização do sonho das autarquias.
“Impõe-se uma escolarização forte, desde o pré-escolar ao superior, com o foco na ética e valorizando a figura do professor”, defendem.
Encorajam igualmente o espírito de “diálogo permanente” com as classes associativas e profissionais, visando encontrar melhores caminhos de satisfação e motivação, e consideram que o Estado deve “potenciar as famílias”, com o necessário, para a garantia da dignidade e paz social.
A auto-sustentabilidade da Igreja em Angola, Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 e o Acordo Quadro entre a Santa Sé e o Estado angolano, assinado em 2019, são alguns dos temas em reflexão nesta plenária da CEAST, que se estende até à próxima quinta-feira.
Os trabalhos, que congregam bispos oriundos de todas as províncias angolanas e de São Tomé, decorrem na sede da conferência episcopal, na capital angolana.
Folha 8 com Lusa