O Governo angolano antecipa um crescimento económico de 3,5% entre 2023 e 2027, impulsionado pela diversificação económica, sobretudo pelo agronegócio que vai contar com um financiamento de 3 mil milhões de dólares.
Os números foram revelados pelo ministro da Economia e Planeamento, Mário Caetano João, que falava à margem do evento “The Angolan Development Roundtable” onde participaram líderes de empresas e responsáveis do executivo angolano e de instituições públicas.
“Estamos a prever crescer pelo menos 4,6% no sector não petrolífero e entre 0,5% a 1% no sector petrolífero”, indicou, acrescentando que isto não significa uma desaceleração dos investimentos no sector petrolífero, mas sim um “acelerar da diversificação”.
O governante sublinhou que o motor dos próximos anos será o investimento no agronegócio, através de linhas de financiamento do Banco de Desenvolvimento de Angola.
Estão já aprovados o Planagrão (Plano Nacional de Fomento para a Produção de Grãos) com cerca de 500 milhões de dólares por ano e um montante equivalente para as infra-estruturas e acessos às áreas de produção e o Planapescas (Plano Nacional de Fomento das Pescas), para o qual o executivo vai canalizar 300 milhões de dólares.
O Governo está também a trabalhar num plano para a pecuária que irá contar também com 300 milhões de dólares, nos próximos três anos, para apoiar a produção animal e derivados, anunciou Mário Caetano João.
No total são mais de 3 mil milhões de dólares, incluindo infra-estruturas públicas, que o executivo chefiado por João Loureço promete fazer chegar ao sector privado para posicionar Angola entre os principais produtores agrícolas africanos.
“Nunca tivemos um investimento maciço como este no agronegócio”, destacou, acrescentando que os planos não foram desenhados apenas tendo em conta os distintos sectores, mas com uma abordagem transversal.
O ministro espera que os planos ajudem a colocar Angola nos lugares cimeiros da produção agrícola em África, já que o país tem, sempre teve, várias vantagens comparativas como a baixa densidade populacional e abundância de recursos hídricos.
“Acreditamos que em cinco anos podemos estar entre os principais produtores de grãos (milho, soja, trigo e arroz), sendo que o milho e a soja formam 95% dos ingredientes para ração animal”, impulsionando também a pecuária e as pescas, frisou o responsável.
Quanto às queixas dos empresários sobre as dificuldades no acesso à banca considerou que “foi necessário criar procedimentos para salvaguardar o bom uso dos recursos” para não repetir erros do passado, bem como trabalhar com o sector privado que demonstra “pouca maturidade” nos seus projectos.
“Estamos a ajudar a transformar projectos emocionais em projectos racionais”, declarou Mário Caetano João.
O ministro realçou que a contribuição actual do sector petrolífero para a economia é de 27%, representando dois terços das receitas e cerca de 95% das exportações pelo que continua a ser um motor importante da balança de pagamentos, mas espera-se que o peso relativo diminua nos próximos anos pelo efeito de aumento da actividade do sector não petrolífero.
BOAS CONTAS FAZEM ELES…
Em Outubro, ou seja há pouco mais de um mês, o gabinete de estudos do Banco Fomento Angola (BFA) reviu em baixa a previsão de crescimento de Angola este ano, para um valor que ficará acima de 4%, estimando ainda um abrandamento em 2023 para entre 2% e 3%.
“Estamos a rever a nossa perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto em ligeira baixa, esperando, ainda assim, uma subida seguramente acima dos 4%”, disse o economista-chefe do banco, José Miguel Cerdeira, no seguimento da nota de análise sobre a evolução do PIB no segundo trimestre.
Em Maio, o BFA previa que o PIB de Angola crescesse entre 5,2% e 5,7% este ano, o que seria o ritmo de crescimento mais elevado desde 2012, quando a economia angolana cresceu 8,5%. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que cresça 2,9% este ano, em linha com a previsão oficial de então, que rondava os 3%.
O PIB de Angola cresceu 3,6% no segundo trimestre em relação ao período homólogo de 2021, e acelerou 0,5% face ao crescimento registado no primeiro trimestre deste ano, de acordo com os dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística angolano, os quais registam um crescimento acumulado de 3,2% no primeiro semestre deste ano.
Face aos números do mesmo período do ano passado, o sector diamantífero representou, no segundo trimestre, a indústria com maior crescimento, progredindo mais de 40%, segundo a nota divulgada em Luanda no princípio do mês.
“A economia como um todo está a acelerar, mas com tendências diferentes no sector petrolífero e não petrolífero”, comentam os analistas do BFA, vincando que “a economia petrolífera que cresceu pela segunda vez desde 2016, resultado de nova produção em vários blocos, provavelmente vai manter-se no ritmo dos dois últimos trimestres, no conjunto do semestre, podendo acelerar pontualmente no terceiro trimestre, mas compensando com menor crescimento no último trimestre do ano”.
A economia não petrolífera, acrescentava-se na nota do BFA, “deverá acelerar, sobretudo do lado do consumo privado, para valores perto dos observados na primeira metade de 2021, o que fará com que o PIB cresça acima de 4% no total do ano”.
“Em 2023, prevemos que o PIB cresça de modo bastante mais lento, mas sobretudo devido à contribuição do PIB Petrolífero, que voltará a ser bastante negativa – de modo mais importante para as condições de vida dos angolanos, o PIB Não Petrolífero deverá voltar a crescer de modo significativo, possivelmente acima dos 5%”, dizia o BFA.
Já o PIB do sector petrolífero “poderá vir a cair mais do que 6%, potencialmente, o que levaria o PIB como um todo a crescer apenas 2 a 3%, voltando a acelerar para um ritmo entre os 3 e os 4% em 2024 e 2025”, concluíam os analistas.
Folha 8 com Lusa