A transportadora aérea angolana TAAG anunciou hoje que chegou a acordo com todos os sindicatos associados à companhia, sendo as componentes remuneratórias aplicadas a partir de Novembro.
Segundo um comunicado na empresa, foram alcançados entendimentos com o SINPROPNC (Sindicato Provincial do Pessoal Navegante de Cabine) e com o SPLA (Sindicato dos Pilotos de Linha Aérea).
Estes juntam-se ao acordo já celebrado em Outubro com o Bureau Sindical que representa, a nível nacional, todas as classes do Pessoal Não Navegante, estando agora alcançados acordos aplicáveis a toda a força laboral.
A TAAG salienta que “as condições contidas nos acordos com os sindicatos estão já em fase de operacionalização e implementação, sendo as componentes remuneratórias aplicáveis a partir do corrente mês de Novembro”.
Acrescenta que o transporte colectivo entra já em vigor “para os colaboradores afectos à área operacional, e a partir de Janeiro de 2023, para os demais grupos funcionais”.
O comunicado acrescenta que as negociações foram caracterizadas “pelo diálogo e concertação”, tendo as partes assumido o compromisso de manter encontros regulares e participar em equipas de trabalho “para soluções de longo prazo, como o processo de reforma”.
A companhia aérea angolana, que tem em curso um (mais um) processo de reestruturação, enfrentou nos últimos meses uma intensa conflitualidade laboral que se reflectiu em greves e cancelamento de voos.
A TAAG disponibiliza actualmente 14 destinos domésticos e 12 destinos internacionais.
A TAAG continua a ser notícia, quase sempre por maus motivos para os angolanos mas bons para os estrangeiros que negoceiam (e comandam) com os donos do país, o MPLA.
Em 2016, Peter Hill, presidente da TAAG, dizia que reduziu em 70 milhões de dólares as despesas da companhia. Era uma, mais uma, mentira. O que ele fez foi tirar aos angolanos para dar aos estrangeiros.
Na altura (como hoje) a direcção da TAAG está toda povoada de estrangeiros, que ganham em divisas, daí a acusação feita na altura de que Peter Hill não gostava de pretos.
Esse sentimento crescente aliado à não promoção de muitos pilotos angolanos bem como o abandono de outros, estava na altura na base de uma crescente contestação.
O então ministro dos Transportes, Augusto da Silva Tomás, foi acusado de cumplicidade pois sabia das falcatruas e dos prejuízos reais, admitindo-se que a estratégia visava sacar e desviar avultadas verbas levando a que, perante a catástrofe, a companhia fosse privatizada a preço de saldo.
Como é que Peter Hill podia dizer que reduziu as despesas da TAAG se – por exemplo – o seu carro custou 250 mil dólares e dos seus pares, todos estrangeiros, 150 mil dólares sem que ninguém saiba onde foram comprar viaturas tão caras, perguntava o Folha 8 em artigo publicado em 3 de Novembro de 2016.
As direcções da companhia eram todas chefiadas por estrangeiros, ingleses ou portugueses, que estavam desempregados nos seus países. Mesmo assim, a TAAG foi buscá-los, quase parecendo uma agência de empregos. Qualquer semelhança com a actualidade (não) é mera coincidência.
Os angolanos existentes só lá estavam (só lá estão) para colorir, para dar uma ténue imagem local, já que são figuras decorativas, sem qualquer tipo de poder real. Esse poder está nas mãos de um qualquer assessor estrangeiro que despachava com Peter Hill e hoje despacha com o espanhol Eduardo Farien Soria.
Não espanta pois que, numa entrevista da época, Peter Hill tenha dito que as empresas angolanas deveriam ser geridas por estrangeiros, uma autêntica ofensa aos complicados dirigentes angolanos (sempre do MPLA) mais interessados em roubar do que no país.
Peter Hill mandou muitos angolanos para a reforma devido, alegava, à idade. No entanto, esse não era um factor impeditivo à contratação de estrangeiros com mais de 65 anos.
TAAG remete privatização para 2023 ou 2024
A privatização da companhia aérea TAAG não deverá acontecer antes de 2023 ou 2024, admitiu hoje o presidente executivo da transportadora angolana.
“Lamentavelmente continuamos em pandemia o que afectou muitos países, sobretudo na Europa e América do Sul, e não sabemos quando vai acabar”, afirmou Eduardo Farien Soria em Luanda, numa conferência de imprensa, durante a qual o então novo Conselho de Administração fez um balanço dos seus primeiros 100 dias à frente da TAAG, que têm tido como foco a contenção de custos, liquidez e antecipação da procura.
“Estamos num cenário muito instável e uma privatização neste cenário não parece a melhor decisão”, continuou, dizendo que a empresa está a aproveitar para “ir crescendo e fazer poupanças”, pelo que só em finais de 2023 ou 2024 deverá estar em condições para ser vendida ou encontrar novos parceiros.
“As empresas valem o que estamos dispostos a pagar por elas. O valor da TAAG é claramente superior ao valor que tinha quando chegámos, mas ainda estamos longe de entrar num processo de privatização ou parceria”, considerou.
O objectivo da equipa de gestão é “vestir muito bem a noiva” e deixar a companhia preparada para quando chegar o momento de fazer avaliações.
“Agora não é um bom momento para encontrar um investidor porque muitas companhias aéreas estão com muitos problemas, possivelmente em 24 meses teremos um cenário global, e não só em Angola, algo diferente. Agora é um exercício de pura sobrevivência a nível global”, complementou Eduardo Soria.
O presidente executivo da TAAG abordou também o tema da renegociação das dívidas e dos contratos, afirmando que se pode conseguir poupanças significativas, se for feito com tempo e transparência.
A empresa tem conseguido poupar cerca de 20% tanto nos novos contratos como na renegociação de dívidas anteriores, gerando “poupanças significativas”, o que permitirá “criar uma base de custo da operação que permita competir com outras companhias, umas que estão aqui [Angola] a operar e outras que vão vir por que a TAAG tem de competir no mercado internacional”, comentou.
A presidente do conselho de administração da empresa, Ana Francisco Major, salientou no balanço dos 100 dias que a actual equipa recebeu a TAAG “com uma fragilidade agravada pela pandemia”, tendo posto em prática várias mudanças operacionais para assegurar a sobrevivência da companhia, e destacando alguns resultados alcançados, nomeadamente a nível de tesouraria que passou de 6 para 180 dias de caixa.
Também no campo das melhorias apontou o facto de se ter passado a concentrar numa só área as compras que antes estavam deslocalizadas, prosseguindo-se o diagnóstico da empresa para travar o sangramento de recursos financeiros, já que a equipa continua a encontrar todos os dias “algumas surpresas”.
Dentro do processo de restruturação de que a TAAG está a ser alvo, cabem também as relações de trabalho e a busca de recursos próprios para que a transportadora não dependa apenas do suporte do Estado, acrescentou.
Questionado sobre o valor da dívida, o antigo presidente executivo e agora administrador não executivo Rui Carreira adiantou que esta se situava em 1,2 mil milhões de dólares (1,05 mil milhões de euros) e que foi possível ressarcir parte da dívida com fornecedores ligados ao Estado graças ao reforço de 700 milhões de dólares (612 milhões de euros) injectado pelo Estado angolano, que permitiu também à TAAG ficar com capitais próprios positivos.
Quanto à dívida com fornecedores estrangeiros, rondava os 250 milhões de dólares (218 milhões de euros), mantendo-se ainda próxima deste valor.
Folha 8 com Lusa