O MPLA, qual virgem sagrada, repudia manifestações discursivas que contrariam a acção imediata do executivo angolano (que, de facto, perdeu as eleições) e acções que visam alterar o sentimento expresso pelos angolanos nas eleições e diz que jamais se alinhará com partidos que não respeitam a Constituição. A ser verdade, o MPLA estaria incompatibilizado com o próprio MPLA.
O Bureau Político do MPLA (no poder desde 1975), em comunicado, considera contraproducentes quaisquer manifestações discursivas que contrariam a acção imediata do executivo, consubstanciada em fazer aquilo que não fez nos últimos 47 anos, trabalhar mais e comunicar melhor.
Neste momento, diz o MPLA, está focado na implementação efectiva do programa de governo sufragado nas urnas, tendo como premissa fundamental, melhorar as condições de vida da população. Com 20 milhões de pobres, teria muito para fazer se roubasse menos e trabalhasse mais.
O MPLA “exorta todo o povo angolano no sentido de repudiar, veementemente, todas as acções explícitas e veladas, que visem alterar o sentimento expresso pelos angolanos nas urnas, e opor-se às narrativas eivadas de intenções que atentam contra a soberania nacional e seus titulares, bem como a dinâmica de desenvolvimento do país”.
O MPLA supostamente venceu as eleições de 24 de Agosto e elegeu 124 deputados contra os 90 da UNITA, que apesar de contestar os resultados os seus deputados ocuparam os assentos no parlamento e o seu líder foi investido como conselheiro do Presidente angolano, João Lourenço.
Adalberto da Costa Júnior, presidente da UNITA, disse no sábado passado, no final de uma marcha convocada pelo seu partido e em que participaram milhares de angolanos (embora a TPA de Portugal – a RTP – e a Angop de Portugal – Lusa – apenas tenham visto centenas), que vai usar o seu poder (que é nulo) como conselheiro de João Lourenço para o “aconselhar mesmo” e prometeu trabalhar lado a lado com o Presidente angolano “por Angola e pelos angolanos”.
Por outras palavras, o líder da UNITA diz que o MPLA o roubou mas, mesmo assim, vai conviver com o ladrão e aconselhá-lo a deixar de roubar. Adalberto da Costa Júnior encarna a figura de Santo António e quer pregar aos peixes: “Perder tempo a dar conselhos a quem não presta atenção ou falar a quem não percebe ou a quem despreza o que se lhe diz”.
O presidente da UNITA prometeu igualmente “lutar dentro das instituições do Estado” para a democratização do país e realizar várias manifestações de rua.
Em resposta ao discurso do líder da UNITA, o MPLA afirma que “jamais alinhará com forças políticas que não respeitam a Constituição e a lei, promovem subversão, incitam actos de violência e vandalismo, recusam-se a respeitar a vontade popular, chegando ao ponto de não felicitar o vencedor, a quem agora se arrogam ao direito de convidar para caminhar lado a lado”.
“O MPLA, como partido sério com responsabilidades de Estado, caminhará, sim, com as forças políticas que defendam o patriotismo e a unidade nacional, promovam a paz e a estabilidade e contribuam para o fortalecimento da democracia e o desenvolvimento de Angola”, lê-se no comunicado.
O Bureau Político do MPLA considera igualmente “grave” os “discursos injuriosos de incitação à subversão, feitos por aqueles que na Assembleia Nacional juraram perante o povo angolano em cumprir e fazer cumprir as leis” do país.
Apelos para que militantes, simpatizantes e amigos do MPLA para que “mantenham a calma, e serenidade, abstendo-se de provocações” e deixando que as autoridades competentes “respondam com força legal o irresponsável protagonismo que determinados atores políticos evocam para si”, constam também da nota do MPLA.
O partido dos “camaradas” insta ainda a população em geral a pautar por uma conduta de cidadania “em que se eleva a protecção dos direitos individuais e colectivos, no intuito de preservar a paz, a estabilidade” e “desaconselha” actos de desrespeito às autoridades.
É um bom conselho. De fato, os angolanos continuam a aceitar as aulas práticas de patriotismo ministradas pelo MPLA, nomeadamente nas disciplinas de morrer sem ir aos hospitais e de apender a viver sem comer. Todos os dias há angolanos a doutorarem-se nestas disciplinas. Morrem sem ir aos hospitais (nem todos podem fazer como presidente do MPLA, que para tratar uma bitacaia vai ao estrangeiro) e também morrem porque quando estão quase, quase mesmo, a saber viver sem comer… finam-se.
Assim, a UNITA não deve perguntar o que Angola pode fazer por ela, mas sim o que ela pode fazer por Angola. Esta frase, dita para os EUA, que a história atribui a John F. Kennedy, afinal parece ter outro “pai”, como estava para ser demonstrado pelo ex-ministro da Cultura (Turismo e Ambiente) do MPLA, Jomo Fortunato. A dúvida estava apenas em saber se o autor era o actual Presidente do MPLA, ou o actual Presidente da República ou, ainda, o actual Titular do Poder Executivo.
Reconheça-se que o actual MPLA está com uma pujança assinalável. Longe vai o tempo dos mísseis intercontinentais e similares, e as figuras de proa não deixam os seus créditos por mãos alheias. Assim, em breve, será revelado o contributo do MPLA (inédito e de alcance mundial) para que as pessoas consigam viver sem comer.
Para tal, os peritos do MPLA levaram a efeito um longo estudo, com mais-valias científicas registadas nos mais antigos papiros de que há memória, e que inclui um longo depoimento do indiano Prahlad Jani (recolhido pelo emblemático intelectual e cientista social Celso Malavoloneke), que morreu com 90 anos em 20 de Março de 2020 e que garantia ter estado 80 anos sem comer nem beber.
E é baseado no caso Prahlad Jani que o Presidente da República (João Lourenço), certamente com a colaboração institucional do Presidente do MPLA (João Lourenço) e do Titular do Poder Executivo (João Lourenço) reforçou o investimento necessário para ensinar os angolanos a, pelo menos, viver sem comer.
Até agora, sobretudo porque os angolanos são uns desmancha-prazeres (ou são estrangeiros ou da UNITA), os resultados em Angola não são animadores. Os que tentaram seguir (todos voluntariamente obrigados) o método de Prahlad Jani estiveram muito perto mas, quando estavam quase lá… morreram.
Data, aliás, dessa altura a tese do MPLA de que seria capaz de pôr os angolanos a viver sem comer. Como não encontrou voluntários, obrigou-os pela força da miséria e do desemprego a enveredarem por esse caminho. João Lourenço segue a mesma metodologia, convicto de que, tal como aconteceu com a descoberta da pólvora, o MPLA vai também descobrir a receita.
Jani chegou a ser sondado para vir a Angola falar da sua experiência, e tinha já preparado o mesmo discurso para a altura em que chegasse a Angola. Sabe-se que diria: “Eu estou forte e saudável porque é assim que João Lourenço quer que eu esteja”.
Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) indicava que, em Angola, em 2018, 23,9% da população passava fome. 23,9% equivale a que 6,9 milhões de angolanos não tenham acesso mínimo a alimentos. O Presidente João Lourenço reparou nisso. Mesmo que fossem 6,9 milhões (são muito mais), é muita gente. E, na impossibilidade de dar comida a quem tem fome, aposta em ensiná-los a viver sem comer. Digam lá que não é brilhante?