Vladimir Putin falou hoje ao telefone com João Lourenço, por iniciativa do Presidente angolano, como relata o serviço de imprensa do Kremlin. Bons e velhos amigos servem exactamente para isso. Quem sabe se o MPLA não vai usar em Angola a estratégia russa na Ucrânia, alegando que a única maneira de se defender é “desnazificar” a UNITA…
Segundo a agência russa RIA Novosti, a pedido de João Lourenço, o Presidente Putin “informou sobre as causas e objectivos da operação militar especial para proteger o Donbass e também fez avaliações fundamentais da situação das negociações com representantes ucranianos”.
A “satisfação com o nível de relações amistosas alcançadas foi expressa por ambos os lados”, indica a agência russa.
“Os compromissos com o seu desenvolvimento, incluindo a cooperação das esferas comercial, económica, científica e técnica” foram igualmente assinalados na conversa, adianta a agência de propaganda do regime russo.
O Presidente angolano conversou hoje ao telefone com o Presidente russo, Vladimir Putin, e com o Presidente do Conselho de Ministros italiano, Mario Draghi, visando um “cessar-fogo imediato e o regresso às conversações” devido ao conflito (conflito ou guerra?) na Ucrânia.
João Lourenço conversou com ambos os dirigentes em momentos diferentes e o diálogo, como refere uma nota da Secretaria de Imprensa do Presidente angolano.
As conversas decorreram em ambiente de “bastante cordialidade e visaram conseguir-se um cessar-fogo imediato”.
Tiveram também como propósito “o regresso à mesa das conversações para a busca de uma paz duradoura não apenas para a Ucrânia mas também para a Europa”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, acusou no dia 3 de Março os líderes ocidentais de terem planos para uma “verdadeira guerra” contra a Rússia, que só poderá ser nuclear. Eritreia, Bielorrússia e Coreia do Norte subscrevem sem rodeios. Angola e Moçambique também subscreveram mas de forma não formal, como o MPLA explicou em “off” ao chefe Putin.
“Todos sabem que uma terceira guerra mundial só pode ser nuclear, mas chamo a vossa atenção para o facto de que isto está na mente dos políticos ocidentais, não na mente dos russos”, disse Sergei Lavrov numa videoconferência de imprensa a partir de Moscovo, citado pela agência francesa AFP.
Sergei Lavrov referiu-se a comentários dos seus homólogos francês, Jean-Yves Le Drian, e britânica, Liz Truss, sobre a dissuasão nuclear e o risco de guerra com a Rússia.
“Se algumas pessoas estão a planear uma verdadeira guerra contra nós, e eu penso que estão, deveriam pensar cuidadosamente”, disse Lavrov. “Não deixaremos que ninguém nos desestabilize”, assegurou. Bem que poderia parafrasear Agostinho Neto e dizer que “não vamos perde tempo com julgamentos”.
Ao anunciar a intervenção militar russa na Ucrânia, iniciada em 24 de Fevereiro, Putin também fez uma ameaça que foi interpretada como uma referência a armas nucleares.
“Quem nos tentar impedir, quanto mais criar uma ameaça ao nosso país, ao nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será imediata e infligirá consequências nunca vistas na sua história”, disse Putin, na altura.
Na conferência de imprensa, Sergei Lavrov acusou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) de estar a tentar reforçar a segurança do Ocidente à custa da Rússia e comparou os Estados Unidos a Napoleão e a Hitler.
“No passado, Napoleão e Hitler tinham um objectivo de subjugar a Europa. Agora, os norte-americanos fazem-no”, disse, citado pela televisão britânica BBC.
O chefe da diplomacia russa descreveu a questão ucraniana como um “filme de Hollywood” escrito pela comunicação social ocidental, em que a Rússia desempenha o papel de “mal supremo”. Ainda bem que Vladimir Putin conta com ajuda do MPLA… Sergei Lavrov repetiu que o regime ucraniano é neonazi, um dos argumentos usados por Moscovo para justificar a invasão da Ucrânia.
Se calhar, porque a UNITA tem sobre este assunto uma posição diametralmente oposta à do MPLA, talvez os sipaios do MPLA venham a utilizar nesta campanha eleitoral a tese de que UNITA é um partido neonazi. Podem, aliás, citar o actual ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Gomes Cravinho, que em tempos disse que Jonas Savimbi era um Hitler…
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar e “desnazificar” o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender. Ora, o MPLA também pode alegar que a única maneira de se defender é “desnazificar” a UNITA.
[…] Source: Folha 8 […]