Em carta subscrita pelo seu presidente, António Marcos Soqui, a Frente Revolucionária de Cabinda pede à CEAST (Conferência Episcopal de Angola e São Tomé) a intervenção das autoridades religiosas na construção da paz e resolução do conflito político de Cabinda.
Eis, na íntegra e “ipsis verbis”, o documento enviado à CEAST, com cópia à Igreja Metodista, CICA ˗ Conselho de Igrejas Cristãs em Angola, Igreja Kimbanguista e Igreja Tocoista:
«Nós a Frente Revolucionária de Cabinda, sendo uma organização firme, coesa na defesa das aspirações do povo de Cabinda, vimos por intermédio desta missiva, instar às autoridades religiosas angolanas na qualidade de representantes de Deus na terra, para não continuarem a calar diante das atrocidades, sentido levados acabo pelas autoridades governamentais angolanas, no território de Cabinda. Quem cala perante as atrocidades humanitárias, é porque consente a favor das mesmas.
A igreja deve privilegiar a concórdia entre os povos, critérios universalmente aceite, sendo uma entidade religiosa neutra, apolítica e capaz de unir os Cabindas no processo de paz com Angola.
Gostaríamos que a igreja nos ajude a criar uma plataforma comum de diálogo em Cabinda, pois a igreja pode afirmar o seu compromisso de mediar e facilitar o processo de paz entre Cabinda e Angola, de forma a garantir a paz, a estabilidade e o desenvolvimento do território de Cabinda e o bem-estar do seu povo.
Sempre sonhamos por uma Angola justa, livre e democrática. Todavia nós temos felicitado a Igreja Católica pela coragem que tem demonstrado, pelas cartas pastorais que tem enviado por toda Angola em prol da promoção da paz, para falar da paz e do regresso, da normalidade social e política das populações de Cabinda, e considerámo-las uma acção patriótica louvável. Ninguém devia ter receio de que nós aplaudimos a Igreja Católica.
Porém, a bíblia advoga no livro de S. Mateus capítulo 18:18, Tudo o que Deus separou na terra, o mesmo está separado nos céus. No livro de Deuteronómio Capitulo 27:17, diz-nos o seguinte: Maldito aquele que mudar de lugar os marcos divisórios do terreno do seu vizinho e todo o seu povo dizer (Amém). Na verdade alguns males que os nossos povos sofrem é fruto do mal que fazemos aos outros povos. Deus faz a sua justiça de várias maneiras a favor dos injustiçados.
Sua Eminência senhor Bispo, Cabinda tem sido palco de represálias das autoridades governamentais, nas matas, vimos muita gente a morrer por causa do conflito, por essa razão suficiente que, pedimos a Igreja a pronunciar-se sobre a Paz e a Democracia no seio das populações locais de Cabinda. Temos a plena certeza que os partidos passam, as pessoas morrem, mais Angola e os Angolanos nunca acabarão, por isso o povo quer Paz! Muito obrigado igreja católica que muito faz para o bem desta sociedade Angolana. Reconhecemos o papel social da igreja na pacificação dos espíritos, daí há esperança de que, a igreja Católica está a desempenhar dignamente o seu papel como entidade religiosa, porque antes pactuava quase com o diabo porque olhava pavidamente o maltrato dos angolanos por um partido maquiavélico sem dar quaisquer pronunciamentos a favor do povo, muito particularmente o povo de Cabinda.
O papel da igreja é dizer a verdade, porque a verdade é que conduz a vida eterna. A igreja deve continuar a ser um grande defensor dos sem vozes em Cabinda.
Cientes estamos que, o povo angolano ainda carrega consigo uma profunda dor causada pela guerra civil que ceifou milhares de milhares de vidas de pessoas inocentes nestes últimos anos, pois a história se repete em Cabinda, muito desses filhos da pátria angolana poderiam contribuir no desenvolvimento e crescimento do país.
Excelência, o diferendo que opõem Cabinda e Angola e que coexiste no contexto da conjuntura regional, é razão bastante que nos leva advogar os bons ofícios da Igreja Católica Apostólica Romana na mediação deste impasse.
Tendo em conta o contexto actual, julgamos ser necessário uma intervenção da Vossa Alta Personalidade, razão pela qual submetemos este pedido de audiência.
Que haja a paz para todos os povos do mundo em nome do nosso Senhor Jesus Cristo.
Exprimindo antecipadamente a minha profunda gratidão, queira aceitar, Vossa Excelência Senhor Presidente, os meus votos da mais alta estima e consideração.»
[…] Source: Folha 8 […]