DE PRESSÃO

Frutos de casca rija são alimentos cada vez mais recomendáveis para a nossa saúde alimentar e bem-estar integral. Em relação à matéria dos valores nutritivos, cada um de nós pode fazer a sua investigação, se achar oportuno.

Por Fernando Kawendimba
Escritor

Entretanto, todos nós sabemos que é necessário empreender um certo esforço para se desfazer das crostas dos frutos, de modo a depois tirar proveito daqueles saborosos e valiosos alimentos. Pode desanimar que a casca rija seja um problema a despachar, mas deve animar que o fruto seja uma solução a achar. Sou um daqueles humanos que compreende e crê que os problemas e as respectivas soluções partilham afinidades e graus de parentescos vizinhos. Muitas vezes, o problema revela o rastro e o rosto da solução. Porque vagabundeio nesse não assunto?

Para colhermos e comermos do fruto do bem-estar, em certos casos, percebemos que há cascas como a depressão, as ideações suicidas ou outros estados mentais que representam uma dificuldade muito importante; por isso, nenhuma enfermidade deve ser ignorada ou negligenciada. Nesses espaço e tempo, podemos não quebrar objectivamente esse invólucro, porém, o facto de abordarmos o assunto, já faz com que alarguemos a tenda da nossa consciência sobre esses males de fórum da saúde.

Em 2017, a Organização Mundial da Saúde afirmava que havia em média trezentos e vinte e dois milhões de pessoas com depressão. Ainda numa escala mundial, a população de indivíduos diagnosticados com perturbação depressiva tem sido crescente.

Na nossa Angola, apesar das dificuldades de vária ordem para que se chegue a um diagnóstico bem-feito, há muitos casos caracterizados que apontam o grau aumentativo que esse quadro vai tomando. Trata-se, a meu ver, de uma casca rija. De modo ainda mais lamentável, é que comummente reconhecem-se a depressão e a ideação suicida quando remetem ao pior que pode acontecer. Isto é: o sujeito afoga-se na depressão e a forte e profunda correnteza deste mal leva-o a cometer suicídio. Aliás, pelos meios de comunicação locais acompanhamos reportagens relativas aos mais diversos e deploráveis casos de suicídio.

Sendo familiar, amigo e professor de muitos adolescentes, não são poucas as ocasiões em que fui solicitado para escutar relatos de casos – talvez subclínicos, digo eu – nos quais se reconhecem alguns critérios diagnósticos de depressão. Quem entre nós próprios nunca, em nenhum dia mesmo, sentiu-se como terra fértil para tristeza profunda, indisposição funda? Como saber que se era ou não a pintura de um quadro depressivo? Todos nós, sem excepção, somos potenciais indivíduos com depressão, podemos achar-nos sob pressão da depressão, ou dos seus elementos causais.

A depressão toma posse e assume o controlo dos traços comportamentais do indivíduo a ponto de este perceber-se a si próprio de um modo modificado; e mais: o indivíduo em depressão encara dificuldades agudas como hecatombes sisudas. Os sintomas próprios da perturbação podem ser agitação ou retardo motor, angústia, apatia, pensamentos agressivos, perda de interesse, tristeza, queixas corporais como anorexia, fadiga, insónia. Embora haja outros, destacaria: humor deprimido e perda de interesse.

Estamos a falar da depressão. Ora, também apresentamos a ideação suicida. Quem, entre vós, não sabe que a ideação suicida afigura-se como um dos principais antecedentes do suicídio? A ideação suicida tem como propriedades os pensamentos sobre o ato de planificar a própria morte ou o ato de dar a morte a si próprio. É importante que prestemos imensa atenção a esses fenómenos sociais que afligem, silenciosa e sigilosamente, indivíduos e famílias. Outro conceito que me aparece é da tristeza. Para a depressão, a tristeza equivalente é mais profunda, persistente, geralmente de origem desconhecida ou indescritível para quem a experiencia.

A literatura sugere que anorexia/bulimia, baixa auto-estima, bullying, consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e outras drogas, familiar com alguma dependência de substâncias ou perturbação depressiva, doença crónica, obesidade, relacionamentos problemáticos, ser do género feminino – é isso aí: meninas e moças estão mais propensas a contrair depressão, experiência de ter sido testemunha/vítima violências são alguns factores precipitantes da depressão.

Considerando que não se trata de fraqueza/frescura, familiares, colegas, amigos e toda a sociedade do indivíduo que apresente algum factor de risco deve dedicar maior atenção para prestar ou procurar ajuda, principalmente a ajuda profissional. Para nós, marcados pela cultura tradicional como estas pessoas que buscam a felicidade de modo não individual, devemos nos conservar unidos e solidários para a manutenção da saúde pública. É na colectividade que melhor quebramos a casca muito rija que a depressão é para o fruto do bem-estar integral.

Vale a pena tomar o outro como novo, manifestar a necessidade de o conhecer uma vez mais, a fim de sabermos que está bem. Convém querer actualizar-se sobre o estado físico, mental, espiritual de quem for/estiver próximo a/de nós. Ora, ninguém está mais perto de nós que nós próprios.

Quero dizer que uma pessoa que cuida da sua saúde terá mais facilidade de cuidar da de outrem. Devemos conversar especialmente com quem emita sinais de alarme que se enquadrem em casos tanto de depressão quanto de ideação suicida. Se virmos que os sinais e sintomas vão progredindo, tomemos a decisão, sem hesitação, de nos deixarmos escutar e aconselhar por um profissional como psicólogo ou psiquiatra. O agravamento de um sintoma mora na demora da busca de ajuda para o devido tratamento. Para prevenirmos o suicídio, impeçamos que a depressão tome corpo e mente em nós, entre nós, connosco ou com os nossos.

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