O analista de Carlos Basto, office managing partner da Ernst & Young Angola, diz que a pandemia levou o sector petrolífero em Angola para a maior quebra de exportações desde 2008 (958 mil barris/dia), mas considerou que os próximos anos deverão trazer novas oportunidades. Desde 2008? Foi nesse ano que a pandemia começou? Ou, afinal, começou em 1975 quando o MPLA comprou Angola aos portugueses?
Carlos Basto, Office Managing Partner da consultora EY, que falava hoje na conferência Luanda Oil&Gas and Renewable Energy, salientou que a nível global os impactos da pandemia no sector petrolífero traduziram-se numa quebra de 9,3% da procura de petróleo e 2,3% na de gás natural.
No entanto, nas últimas semanas a forte subida dos preços do petróleo e gás demonstram a dependência do mundo ainda dos combustíveis fosseis face à retoma da economia global.
Em Angola, prevê-se uma quebra de exportações para o nível mais baixo desde 2008, mas tal como noutros países produtores “os próximos anos vão ser de reposição de capacidade e exploração de novas oportunidades”.
Carlos Basto salientou que a estratégia do executivo angolano passa por atracção de mais investidores, quer para áreas livres quer para novas regiões de exploração e acrescentou que a oferta permanente de blocos e a forma como a reestruturação do sector te sido conduzida é um sinal positivo para os investidores estrangeiros.
Os investimentos na produção serão complementados por três novas refinarias planeadas para Cabinda, Soyo e Lobito “instrumentais para aumentar o valor acrescentado nacional do sector” e dinamizar uma rede de medias empresas em actividades de apoio ao sector petrolífero.
Outros aspectos que considerou críticos para acelerar a capacidade de produção e refinação é a atracção de investimento privado e a criação de talento.
Segundo a análise da EY relativa ao terceiro trimestre deste ano há vários sinais de recuperação na indústria petrolífera mundial: Aumento dos preços das ‘commodities’ e dos lucros estão a valorizar acções das empresas do sector; pressões inflacionárias; produtores estão mais focados agora no crescimento da receita do que na manutenção da stockagem.
Por outro lado, com o retorno a níveis normais da procura, empresas posicionam-se para captar financiamento para novos projectos.
Entre as incertezas que pesam sobre o sector, o especialista apontou a transição energética e alterações climáticas, preocupação redobrada com questões ambientais.
Neste âmbito, continuou, muitas empresas do sector petrolífero desenham estratégias para diversificar os seus negócios no campo das energias renováveis, agora com custos mais competitivos.
Carlos Basto diz: “Através do meu papel de Office Managing Partner de Angola, procuro todos os dias ajudar a economia a ser mais transparente, melhorar a eficiência das empresas, fazer crescer os líderes de Angola de amanhã e apoiar o aparecimento de novos empreendedores. Estive envolvido na criação da equipa de responsabilidade social na EY Angola que tem dinamizado um conjunto de iniciativas de apoio aos mais carenciados em Angola.”
A EY diz que é líder global em auditoria, assessoria fiscal, assessoria de transacções e assessoria de gestão. “Os insights e serviços de qualidade que prestamos ajudam a credibilizar e a construir confiança nos mercados de capitais e em economias de todo o mundo. Desenvolvemos líderes e equipas que trabalham para cumprir as expectativas dos nossos stakeholders. Assim, temos um papel importante na construção de um melhor mundo de negócios para os nossos colaboradores, os nossos clientes e as comunidades em que nos inserimos”, afirma.
Manuel Vicente, na qualidade de Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, foi o responsável, melhor, o padrinho da reentrada triunfal da Ernst & Young, em Angola.
Recorde-se, a mero título de exemplo, que a Ernst & Young foi auditora do Grupo Sonangol no período de 2003 e 2015, somando-se um conjunto de nomeações relevantes enquanto auditores de empresas como o BAI, as seguradoras AAA e ENSA, BCI, EDEL e TAAG.
O filão maior do negócio, depois da mão do mestre Manuel que escancarou as portas palacianas do Futungo de Belas foi o controlo e gestão da dívida pública e não só.
A mais do que provável ilegalidade da dívida pública não foi, obviamente, admitida pelo executivo, que diverge do Fundo Monetário Internacional no entendimento sobre a dívida do Governo Central e dívida de empresas públicas. E faz bem em divergir. Quem sabe da matéria são os peritos do governo (são hoje como eram no reinado anterior de José Eduardo dos Santos) e não, como pensam, os do FMI ou de qualquer outra instituição internacionalmente credível e independente.
Dos cadeirões da Sonangol, com o apoio directo de empresas estrangeiras, sobretudo das de consultoria, o regime determina e explica como é que as contas devem e têm de ser feitas. Em caso de dúvida podem pedir ajuda ao mestre dos mestres, Manuel Vicente.
O problema angolano prende-se com a necessidade de o Governo obter financiamento que compense as quebras nas receitas da exportação de petróleo, recorrendo para tal à emissão de dívida para garantir o funcionamento do Estado e a concretização de projectos públicos, tendo chegando a pagar juros em título de tesouro, a um ano, de 19%.
O contrato com a Ernst & Young foi mesmo milionário e até, por alguns considerado leonino, por ter carácter de exclusividade e controlo exclusivo, nas áreas de Serviços, Consultadoria, Auditoria, Impostos e Transacções Corporativas, ao nível do Ministério das Finanças, sendo ela a responsável pelo pagamento da dívida pública. Quer dizer, o Estado só paga o que tiver a chancela e for validado, pela Ernst & Young. Em linguagem corrente, esta empresa foi de facto o Governo.
Muitos se perguntaram o que fazia afinal o Ministério das Finanças ou, no seu global, o Governo? Este foi (é) apenas um auxiliar (mais ou menos um contínuo, um sipaio) da empresa internacional de consultoria, pois foi um mero instrumento administrativo que recepciona os documentos dos fornecedores de serviços ao Estado e, depois, encaminhava (sem opinar e muito menos contestar) a pasta de cada um para a Ernst & Young.
Ora neste caso, pessoas abalizadas, não descartaram a forma como enriqueceu o deputado Manuel Vicente, pois bem poderia ver pagas facturas de trabalhos não prestados, com base na influência e ou parceria que tinha e tem com esta empresa internacional, que detém, mais do que ninguém todo o acervo contabilístico e não só do Estado angolano. Por outras palavras, tem na mão o Governo.
Com o volume de negócios e o enriquecimento assustador, a empresa adoptou a designação Ernst & Young Angola, mas bem poderia, havendo transparência ter a designação Ernst & Young MV.
Como pode uma empresa que ganha milhões de dólares, por alegados serviços prestados ao Estado, não fornecer a este dados capazes de o prevenirem do descontrolo? Simples. É esse o seu ADN, sobretudo quando consegue ter na mão (ou nos cofres) provas suficientes para – permitam-nos o plebeísmo – mandar prender o legítimo dono do dinheiro que acabaram de “roubar”.
Recorde-se, por exemplo que Luís Marques (então office managing Partner da Ernst & Young) afirmou ao Jornal de Angola, em 6 de Julho de 2017, a propósito de “Angola ter arrebatado, pela segunda vez, em Frankfurt, na Alemanha, o troféu pela boa reputação, não corrupção, inovação e excelência na qualidade dos serviços prestados” que Angola concentra o maior número de investimentos estrangeiros em relação aos outros países de África, vangloriando-se que nos últimos três anos o país desenvolveu mais de 400 projectos com capital privado estrangeiro, nos sectores petrolífero, mineiro, energético e água, entre outros.
Folha 8 com Lusa