O Presidente angolano, João Lourenço, disse hoje que o mundo “já falou bastante” sobre a necessidade da protecção ambiental e agora “é preciso que se façam acções concretas, pequenas ou grandes”, sob pena de se perder “a casa comum”, o planeta. Bem dito. Será possível, a nível interno, adaptar isso à pobreza, à fome, às doenças?
“O apelo que faço é que as populações ganhem consciência da necessidade de fazermos acções concretas em prol da defesa do ambiente. O mundo já falou bastante sobre a necessidade de protegermos o ambiente, mas chegamos a um momento que já não basta falar, já não basta ter consciência de, é preciso que se façam acções concretas pequenas ou grandes”, afirmou hoje João Lourenço, em declarações aos jornalistas.
Segundo o também Presidente do partido que governa Angola há 46 anos (MPLA), que plantou hoje mangais, na zona costeira de Luanda, no quadro da campanha de reflorestação da espécie para redução da emissão de gases com efeito de estufa, a acção que presenciou se “for multiplicada por mil terá impacto na defesa do ambiente”.
Tem razão. O mesmo raciocínio deve ser feito à estratégia do Governo, com visível impacto na redução da forme, quando resolveu (im)plantar grandes áreas de fornecimento gratuito de comida e de acesso livre, para ajudar os nossos 20 milhões de pobres. Os utentes chamam-lhe lixeiras, mas o nome pouco importa.
O mundo “chegou a esta conclusão que era preciso proteger o ambiente, chegou à conclusão de que o responsável pelos danos que vêm sendo causados ao ambiente somos nós, é o homem, a acção do homem que levou à situação actual”, sublinhou o também Titular do Poder Executivo.
João Lourenço apontou a seca, inundações, tufões, furações, tsunamis e incêndios a nível do mundo, considerando que “essas desgraças, que o mundo regista nos últimos 10 anos”, são consequências da “irresponsabilidade” do homem. Tem toda a razão. Já agora, quem serão os culpados de Angola estar, 46 anos depois de independente, com níveis de mortalidade infantil, de pobreza, de assimetrias sociais etc. etc. muito superiores aos deixados pelos portugueses?
“Não importa onde esteja. Este é um problema global e é preciso que cada um ali onde esteja contribua para podermos alterar o actual estado de coisa sob pena de perdermos a nossa casa comum, o planeta”, notou.
O Presidente João Lourenço, ladeado da sua esposa, Ana Dias Lourenço, participou hoje da campanha de reflorestação dos mangais, na comunidade do Tapu, distrito urbano dos Ramiros, litoral sul de Luanda.
Ao contrário das instruções de “plantação” que os peritos do MPLA aconselham, por oposição genética às regras dos portugueses, João Lourenço plantou as mangueiras com a raiz para… baixo.
Após calçar botas de borracha, João Lourenço, Ana Dias Lourenço, activistas ambientais e demais membros da sua delegação fizeram-se à zona húmida daquela localidade e procederam no perímetro, em quase meia hora, à plantação de mangais introduzindo as sementes na terra.
Pelo menos 300 mil pés de mangais devem ser plantados naquela localidade de Luanda, no âmbito de um acordo assinado hoje, no local, entre a petrolífera estatal Sonangol e a associação ambiental Otchiva, que trabalha na plantação e conservação dos mangais.
Questionado pelos jornalistas sobre os conflitos do homem e o ambiente, sobretudo na ocupação de espaços para construção em zonas protegidas, João Lourenço disse que “não há razões para conflitos” porque “o que não falta em Angola são terras”.
“O que não falta em Angola são terras, há muita área para construir, é uma questão de as autoridades competentes instruírem os investidores onde construir, não só resorts como casas de habitação e outro tipo de infra-estruturas, portanto não há razões para haver conflitos”, notou.
Em relação ao acordo rubricado entre a Sonangol e a Otchiva, que visa a implementação do projecto “Carbono Azul”, iniciativa da petrolífera em parceria com a associação, João Lourenço referiu que se enquadra na política do seu Governo para a protecção do planeta.
A Sonangol “é uma empresa pública, representa interesses do Estado, está a disponibilizar recursos, não importa se são volumosos ou não, mas são recursos públicos em prol da defesa do clima, da defesa do ambiente, portanto este projecto em concreto já se enquadra nesta política de se investir dinheiro para proteger o nosso planeta”, sublinhou.
O acordo entre a Sonangol e a Otchiva, que visa a reflorestação dos mangais no litoral de Angola, sobretudo nas províncias de Luanda, Bengo e Namibe, terá a duração de cinco anos renováveis.
Sebastião Gaspar Martins, presidente do Conselho de Administração da petrolífera do MPLA, e Fernanda René, presidente da associação Otchiva, foram os signatários deste acordo que definiu já “acções prioritárias”.
A identificação de espécies de fauna e flora para a construção de uma base de dados regional, a sensibilização e promoção da educação ambiental, a realização de campanhas de reflorestação e de campanhas de limpeza nas zonas de mangais são algumas das “acções prioritárias”, como referiu, na ocasião, o director de Segurança, Saúde e Qualidade da Sonangol, Luís Fernandes.
Fernanda René enalteceu presença de João Lourenço nesta acção, falou da importação da protecção e restauração dos mangais para o ecossistema, exortando a todos a “se reconciliarem com a mãe natureza”.
Defendeu ainda, na sua intervenção, a aprovação de uma legislação no país sobre a conservação dos mangais.
Folha 8 com Lusa