O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, “eleito” pelo MPLA (via Tribunal Constitucional) apelou aos seus militantes a manterem a serenidade e tranquilidade para preservar a unidade no seio do partido. Samakuva deve ter especial cuidado com os seus comentários, não vá o MPLA decidir que também ele foi escolhido de forma irregular…
Isaías Samakuva retomou a liderança da UNITA, depois de suspensa por decisão do Tribunal Constitucional (TC) – sucursal do MPLA – a presidência de Adalberto da Costa Júnior, por anulação do XIII congresso ordinário que o elegeu em 2019.
Isaías Samakuva disse que decisão do TC “é política, mas também histórica”. Jonas Savimbi diria: “Vocês estão a dormir e o MPLA está a enganar-vos.”
“Política, porque no fundo vem confirmar a posição política expressa pelo Bureau Político do MPLA (partido no Poder há 46 anos) em comunicado oficial, a 3 de Agosto deste ano, quando afirmou que a presidência de Adalberto da Costa Júnior na UNITA estava por um fio”, afirmou Isaías Samakuva, que foi líder do partido de 2003 a 2019.
Segundo o “líder” da UNITA, a decisão do tribunal constitui uma ameaça séria à integridade e coesão da UNITA, porque “pode criar confusão entre militantes, lançar os angolanos uns contra outros, desmobilizar o movimento social para a mudança e impedir a alternância”. O que, a acontecer, é o que o MPLA quer. Mas se não for desta forma será de outra.
“Nós, membros da UNITA devemos manter serenidade e a tranquilidade para preservarmos a unidade, dirigentes e não dirigentes todos devemos neste momento delicado promover a unidade no seio do partido”, apelou Isaías Samakuva.
De acordo com Isaías Samakuva, actos similares a este, “praticados por órgãos do Estado com o mesmo objectivo, em 1975, 1991, 1998 e em 2005, em todos os casos a identidade a integridade política da UNITA foram o alvo aparente, mas no final o ente atingido foi Angola, a entidade prejudicada foi o país todo”.
“Houve confusão, exclusão, Angola ficou parada no tempo e o país não avançou. Estamos perante mais uma armadilha no longo processo da construção da nação angolana. Desta vez não devemos mais cair nessa armadilha”, frisou.
Para Isaías Samakuva, a situação ora criada fornece “uma bela oportunidade” para dialogar mais abertamente sobre o rumo que se pretende dar a Angola.
“Os problemas de Angola são tão graves, a crise está tão aprofundada que não nos devemos distrair com questões que nos dividem. Este é o momento de serenidade, tranquilidade e de unidade. É o momento da defesa da nossa UNITA, fundada em Muangai, pelo nosso presidente fundador Jonas Malheiro Savimbi”, vincou.
“A UNITA é uma instituição perene, que não pode ser abalada por uma simples instrumentalização de quem quer que seja”, acrescentou.
Isaías Samakuva, que liderou o partido do “Galo Negro” durante 16 anos, até Novembro de 2019, volta à presidência até à eleição de um novo presidente, no XIII congresso, cuja data será fixada na segunda quinzena deste mês na reunião do Comité Permanente da UNITA.
O anúncio foi feito em Viana (Luanda), numa conferência de imprensa em que participaram Adalberto da Costa Júnior e Isaías Samakuva.
O acórdão do MPLA (ou do TC, é a mesma coisa) publicado quinta-feira, deu razão a um grupo de militantes da UNITA (devidamente politizados, em dólares, pelo MPLA), que requereu a nulidade do XIII congresso invocando várias irregularidades.
Entre as alegadas irregularidades consta a dupla nacionalidade de Adalberto da Costa Júnior à data de apresentação da sua candidatura às eleições para presidente do partido.
O acórdão é assinado por sete juízes conselheiros e não foi unânime, tendo votado vencida a juíza Josefa Neto. A juíza destaca na sua declaração de voto que o apuramento da candidatura de Adalberto da Costa Júnior, por parte do comité permanente da UNITA, “além de não materializar qualquer violação ao princípio da legalidade, encontra acolhimento pleno à luz do princípio da autonomia, corolário da liberdade de organização e funcionamento das formações políticas”.
A magistrada considerou ainda que a decisão sobre esta matéria configura “não apenas violação ao referido princípio de autonomia, mas também ao princípio de intervenção mínima do Tribunal Constitucional, igualmente necessário para salvaguardar a autonomia dos partidos políticos”.
Já lá vai o tempo em que o MPLA conseguia comprar, no seio da UNITA, mais do que sipaios rudimentares, como agora acontece.
Há mais de 13 anos, o Semanário Angolense (SA) dizia que “as últimas grandes deserções na UNITA foram basicamente norteadas pela busca de um tacho, com se diz na gíria, no novo elenco governativo ou coisa próxima”.
Acrescentava o jornal, mais uma vez bem, que “ao não recompensar, tanto Dinho Chinguji, como Fátima Roque, com um cargo ministerial, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, fez muito bem”.
“A estas horas, os militantes consequentes do «Galo Negro» devem estar a dar largas à sua satisfação pelo facto de nenhuma das três grandes figuras que deixaram o partido de forma algo rocambolesca – Jorge Valentim, Fátima Roque e Eduardo «Dinho» Chingunji – fazer parte do elenco governativo (a nível de ministros)”, escreveu o SA.
Dizia ainda o SA que “não se sabe já se o MPLA ainda os vai recompensar pela «traição» ao «Galo Negro» com algum cargo a nível de vice-ministo”.
Ora foi aqui é que o jornal se enganou. Não foi a nível ministerial mas a recompensa está garantida, nem que seja a nível de uma qualquer embaixada.
É que, honra seja feita, o MPLA não esquece quem o ajuda. Foi assim com os amigos do MFA (Movimento das Forças Armadas) e com o Partido Comunista em Portugal, e será assim com os que ajudaram a decapitar a UNITA.
Primeiro foram os que atraiçoaram Jonas Savimbi e, como se isso não bastasse, colaboraram directa e fisicamente na sua caça e no seu assassinato, depois os que politicamente se venderam a troco de um tacho.
É claro que o MPLA sabe como ninguém (vejam o 27 de Maio de 1977) eliminar todos os que julgam ter direito a pensar livremente, tal como sabe que a maioria dos desertores da UNITA são uma espécie canina que não conhece o dono.
Sabendo disso, tão depressa lhes dará o osso como logo a seguir lhes dará um “tiro”. Mas é certo que haverá uns ossos já agendados para serem distribuídos aos desertores.
A lagosta tem “power”, a mandioca não!
Dizem alguns que “quem vai para o mar avia-se em terra”. Em Angola, quem vai para os negócios avia-se no MPLA. Veja-se, por exemplo, o general (ou seria sargento?) da UNITA “Black Power”.
Outros generais das FALA também se aviaram, e aviam, no MPLA mas, devido à filantropia do regime, nem sequer tiveram necessidade de abandonar a UNITA. No entanto, experiente como é e não vá o Diabo tecê-las, “Black Power” passou-se com armas e bagagens para o lado dos donos do país.
Jonas Savimbi deve estar a dar voltas e voltas na campa. Afinal, ao contrário do que juraram muitos dos seus generais, mais vale ser escravo e comer lagosta do que livre e alimentar-se de mandioca.
No seio do “Galo Negro” todos parecem esquecer que a UNITA, por incapacidade dos seus mais altos dirigentes, assinou a sua própria certidão de óbito logo a seguir à morte de Jonas Savimbi, no dia 21 de Fevereiro de 2002.
E se a assinou com a morte em combate do seu líder, já a tinha rubricado quando alguns dos seus generais não só passaram para o outro lado, como aceitaram dirigir a caça a Jonas Savimbi.
Não adianta por isso continuar a dizer que a vitória seguinte começa com a derrota anterior. Isso faria sentido se o Mais Velho ainda andasse por cá. Como não anda e como os seus discípulos o que querem é apenas lagosta, ao povo que se alimenta da mandioca só resta passar também para o outro lado.
O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não viu nem vê na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida, sobretudo por Jonas Savimbi, António Dembo ou Samuel Chiwale.
Terá sido para ver a UNITA apenas a reagir em vez de agir, a ajoelhar-se, que Jonas Savimbi lutou e morreu? Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus erros, de nada tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o partido e a ribalta da elite angolana.
É pena que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o “Galo Negro”. Se calhar também é pena que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.
Por último, se calhar também é de lamentar que figuras sem passado, com discutível presente, queiram ter um futuro à custa da desonra dos seus antepassados que deram tudo o que tinham, incluindo a vida, para dignificar os Angolanos.
É que, ao contrário do Mais Velho, na UNITA há muitos que preferem ser escravos com lagosta na mesa do que livres embora procurando mandioca nas lavras.
Folha 8 com Lusa