A consultora NKC African Economics prevê que o kwanza (moeda de Angola) se vá desvalorizar até final do ano para 666 kwanzas por dólar, pressionando as despesas das famílias com produtos importados, nomeadamente os alimentares. Mas nem tudo são más previsões para o MPLA. Algumas são…péssimas. O Cedesa diz que é preciso vender participações e património no exterior e negociar com os suspeitos em casos de corrupção, como Isabel dos Santos, para combater o défice de capital.
“Antevemos que a taxa de câmbio do kwanza face ao dólar se vá depreciar até final do ano, com a recuperação dos preços do petróleo, atingindo os 666 kwanzas por dólar”, lê-se num comentário da NKC African Economics, filial africana da britânica Oxford Economics aos últimos números da evolução dos preços em Angola.
A inflação em Agosto em Angola subiu para 26,1% face ao mesmo mês do ano anterior, aumentando também face aos 25,7% registados em Julho, e registou a taxa mais elevada desde Outubro de 2017.
“A seca severa no sul de Angola, a pior em quatro décadas, e a fraca época de pescas na costa angolana exacerbaram o aumento da inflação nos preços dos alimentos”, escreve-se na nota da NKC African Economics.
Como o preço do petróleo deverá atingir o pico do ano no terceiro trimestre e a taxa de inflação deverá subir para 23,7%, acima dos 22,2% registados no ano passado. No entanto, concluem os analistas, “os dados mais elevados que o previsto deverão motivar um aumento da projecção de inflação na próxima ronda de previsões”.
A inflação em Angola manteve-se praticamente inalterada, subindo ligeiramente 0,03% em Agosto face a Julho, enquanto que os preços aumentaram 2,68% face a Agosto do ano passado, para 26,09%.
Por outro lado, o Cedesa, centro de pesquisa sobre Angola, considera que o país precisa de vender participações e património no exterior e entrar em negociação com suspeitos em casos de corrupção, como Isabel dos Santos, para combater o défice de capital.
“O país tem défice de capital e esse problema tem de ser resolvido para haver crescimento”, refere o Cedesa, numa análise em que defende medidas de curto e médio prazo para combater o problema.
Assim, “este aspecto tem de ser um dos guias da futura política económica. Há que traçar um objectivo de fazer subir a taxa FBCF [Formação Bruta de Capital Fixo]/PIB [Produto Interno Bruto] para níveis superiores, possivelmente, para os 25% ou 26%, que aconteceram em 2007 ou 2012, que asseguram níveis de crescimento do PIB – embora baseados no petróleo – de 14% e 8%. Agora, tem de se proceder a nova capitalização não apenas baseada no petróleo”, acrescentam.
Neste contexto, o grupo de académicos considera que Angola necessita de fazer mais “no curto prazo, para aumentar o investimento” e o crescimento económico. O Titular do Poder Executivo, João Lourenço, está atento ao assunto, razão pela qual em quatro anos o Governo já teve quatro ministros da Economia. Solidários com esta estratégia estão, refira-se, o Presidente do MPLA e o Presidente da República.
Desde logo, o Cedesa considera que o Estado deve reforçar o investimento público, tornando-se num “indutor de investimento e que as mais-valias que surjam da subida do preço do petróleo e de eventuais apreensões na luta contra a corrupção sejam aplicadas em investimentos reprodutivos, com resultados a curto prazo”.
Mas, como “uma boa parte das poupanças obtidas pelos angolanos em Angola foi remetida para o exterior, descapitalizando o país”, Luanda deveria, em primeiro lugar, “vender as participações e património ‘adormecidos’, ou em que não haja interesse estratégico muito relevante, que tem no exterior”. O resultado dessa venda deveria permitir ao Executivo angolano a constituição de “um fundo de investimento para aplicar dentro de Angola”.
Neste cenário enquadra-se a participação da petrolífera do MPLA, Sonangol, no Millennium BCP, que “deveria ser vendida e transformada em capital de investimento”, sugere o Cedesa, referindo ainda a “participação indirecta na Galp” como outro exemplo, “se não for possível chegar a um acordo estratégico com a família Amorim [da Amorim Energia] para melhor rentabilizar a posição angolana”.
No que respeita ao famigerado mas fátuo combate à corrupção, o Cedesa considera que é necessário “sair de um certo protelamento em que se entrou e dinamizar a recuperação de capitais”.
Para o centro de pesquisas, o “governo deveria abordar directamente aqueles a que chama ‘marimbondos’ e propor-lhes uma solução negociada para a sua situação: Ou entregam os bens que estão no estrangeiro para investimento em Angola, ou terão de cumprir longas penas de prisão”.
Depois, “desde que os preços de mercado fossem aceitáveis, tudo seria vendido e o capital retornaria a Angola para investimento de acordo com uma fórmula acordada entre ambas as partes”, defende.
“Terá de haver uma radicalização em ambos os sentidos no combate à corrupção”, com melhor “eficácia na punição ou no perdão com repatriamento” de verbas, referem os analistas. Recorde-se que o próprio Presidente do MPLA, João Lourenço, reconhece que viu roubar, participou nos roubos e beneficiou dos roubos. Desconhece-se se o Titular do Poder Executivo, João Lourenço, e o Presidente da República, João Lourenço, dizem a mesma coisa..
A avançar esta medida, o grupo de académicos sugere que “poderia ser vendida a participação de Isabel dos Santos [filha do antigo Presidente José Eduardo dos Santos] na NOS [empresa de telecomunicações], a do general Kopelipa [antigo chefe dos serviços secretos angolanos] no banco BIG e em vários empreendimentos hoteleiros, os apartamentos que as antigas figuras possuem no Estoril”, entre outros bens.
Quanto ao destino a dar ao resultado destas vendas, o Cedesa defende as receitas regressariam a Angola onde este capital “seria investido em termos a acordar entre o Estado e os antigos titulares” daqueles bens.
Já a médio prazo, os académicos consideram que o essencial seria “não existir corrupção desenfreada, serem criadas boas infra-estruturas de comunicação, um aparato legal amigo do investidor e com tribunais rápidos e não corruptos”.
Uma estratégia para estimular o investimento privado e estrangeiro no país é outra das questões levantadas pelo Cedesa, que considera que o governo de Luanda “ainda não comunicou com toda a amplificação mundial, a abertura de Angola para os negócios”.
Folha 8 com Lusa