João Lourenço, Presidente angolano, também do MPLA, apelou hoje ao diálogo entre as (suas) duas televisões públicas (só para efeitos de financiamento) do país (TPA e TV Zimbo) e a UNITA, depois de estas terem decidido (para agradar ao patrão, o MPLA) boicotar a cobertura do maior partido da oposição, após actos de intimidação a jornalistas numa manifestação.
Questionado pela imprensa no Cuanza Norte sobre decisão tomada pela Televisão Pública de Angola (TPA) e a TV Zimbo de não mais cobrir qualquer iniciativa política da UNITA, João Lourenço considerou que os canais se sentiram visados pelas acções dos apoiantes do maior partido da oposição, durante uma marcha realizada sábado passado, convocada pela UNITA.
As televisões “é que sentiram na pele a intolerância por parte de um determinado partido político, sentiram a vida dos seus jornalistas, dos seus profissionais, em causa, em perigo, e reagiram da forma que todos nós vimos”, disse o Presidente, recordando que a decisão de não cobrir mais acções da UNITA coube aos “ofendidos, no caso os órgãos de comunicação social”.
Será que João Lourenço também viu que, por falta de voluntários (mesmo que bem pagos), a TPA e a TV Zimbo (com o canino apoio do deputado João Pinto, do MPLA) tiveram de recrutar a imagem do jornalista guineense Adão Ramalho, que foi espancado no passado dia 12 de Março, em Bissau?
O chefe de Estado angolano, que hoje termina uma visita de dois dias à província do Cuanza Norte, disse acreditar “que a guerra dos comunicados” que se gerou depois, de parte a parte, também “não ajuda”.
“Antes pelo contrário, acirra cada vez mais os ânimos, faz aumentar o nível de tensão, que nós, enquanto responsáveis políticos desse país, devemos procurar evitar”, considerou, supostamente autocriticando-se por ser ele próprio presidente do MPLA.
Para João Lourenço, “é uma questão de diálogo, de conversarem”, acreditando que, se “isso acontecer, os ofendidos acabarão por perdoar e vai voltar tudo ao normal”.
“O nosso país já passou por situações bem piores a esta e, digamos, que os responsáveis por tais situações acabaram por pedir desculpas e os lesados aceitarem estas mesmas desculpas, portanto, é uma questão de conversarem e acredito que nos próximos dias o clima estará bastante desanuviado”, salientou.
Na terça-feira, o Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) apelou também ao diálogo para tentar ultrapassar a decisão dos canais públicos (do MPLA) de televisão de suspenderem a cobertura de actividades da UNITA, por queixas de intimidação por parte de apoiantes do partido da oposição.
Em nota assinada pelo secretário-geral, Teixeira Cândido, o SJA pediu ainda aos jornalistas que se abstenham de participar em disputas políticas, referindo que o contexto político, a um ano das eleições gerais em 2022, exige “serenidade” e assinalando que o presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, repudiou no mesmo dia as ameaças e obstrução à actividade dos jornalistas daqueles canais.
Para o sindicato, é necessário “manter a paz social e o estado democrático e de direito”, apelando por isso às direcções da TPA e da TV Zimbo (quase parecendo que são elas que mandam) que usem o diálogo como o “caminho mais sensato para salvaguarda de todos os interesses em jogo”.
Num comunicado divulgado após o pronunciamento dos dois canais, a UNITA salientou que a decisão vem “confirmar e oficializar a reiterada censura” e violação das leis e deontologia.
Um comunicado do Secretariado Executivo do Comité Permanente da Comissão Política, em que o órgão partidário analisou “todas as envolventes e consequências” da marcha do passado sábado organizada pelo partido a favor de eleições livres em Angola e convidou a tutela e os gestores daqueles órgãos “a reflectirem sobre a sua reiterada prática panfletista e exclusivista contra a UNITA e o seu líder”.
O partido recordou que o seu presidente, Adalberto da Costa Júnior, condenou logo na altura “as acções dos jovens que impediram as reportagens dos correspondentes das televisões públicas” e assinala que “a legítima defesa dos colaboradores” dos canais “não pode resvalar no argumento de não lhes mandar cobrir futuros eventos organizados pela UNITA”.
O Secretariado Executivo tomou também “boa nota” das preocupações da Comissão multi-sectorial de combate à Covid-19, que repudiou a atitude da UNITA durante a marcha de sábado, em Luanda, por violar as medidas previstas para a situação de calamidade pública devido à pandemia, e recomenda que essas preocupações “sejam extensivas a todos os actores, incluindo o MPLA”.
O MPLA, partido do poder há 46 anos, anunciou para sábado uma “Marcha dos Milhões” para demonstrar a sua popularidade e apoio ao Presidente angolano, João Lourenço. Ao que tudo indica estarão presentes cerca de 32 milhões de angolanos, faltando apenas confirmar se José Eduardo dos Santos estará presente…
A iniciativa surge em resposta à marcha da UNITA, que juntou em Luanda milhares de angolanos, incluindo de outras forças políticas da oposição e elementos da sociedade civil.
Folha 8 com Lusa