Produtores de café solicitaram ao Governo mais apoio para tornar o produto mais rentável e contribuir para o desenvolvimento económico do país. Esta posição foi manifestada durante a abertura da Campanha da Colheita de Café 2021, no município do Golungo Alto, província do Cuanza-Norte.
No acto, orientado pelo secretário de Estado para a Agricultura e Pesca, João Manuel Bartolomeu Cunha, os produtores afirmaram que o sector precisa de mais atenção no que concerne à aquisição de instrumentos de trabalho, produtos fitossanitários e meios de transporte.
Na ocasião, o secretário de Estado avançou previsões que apontam para uma queda de 30 a 40 por cento da produção de café este ano, devido à seca observada no período da floração do grão. Vá lá que, desta vez, a culpa não foi da UNITA ou até mesmo da colonização portuguesa.
Falando na fazenda MC e Filhos, no município do Golungo Alto, Cuanza-Norte, o secretário de Estado disse que, em 2020, a produção ascendeu a um total de 6.050 toneladas de café comercial, contra 4 369 do ano de 2019, o que representava um aumento de 38 por cento.
Naquele ano, adiantou, a actividade do sector incidiu sobre a renovação do parque cafeeiro nacional, assistência técnica, bem como o acompanhamento e introdução de novas técnicas de produção, incluindo a mecanização de plantações em grandes fazendas. Deu-se, igualmente, o início da produção de mudas de cafeeiros por multiplicação vegetativa, fiscalização, licenciamento e controlo das exportações, dentre outras acções.
Naquele ano, prosseguiu, a colheita positiva resultou das chuvas regulares e bem distribuídas, bem como da entrada em produção de plantações de Café Arábica, em grande parte, no sector empresarial e implantadas em anos anteriores.
Com perto de 16 mil produtores familiares e empresariais em actividade, o país necessita, segundo João Cunha, de continuar o processo de renovação das plantações, havendo registo da produção de mais de 350 mil mudas de Café Robusta, contra as 240 mil do ano anterior.
O secretário de Estado realçou o fomento da produção de Café Arábica na região do Planalto Central, com o Ministério da Agricultura e Pescas a fornecer 104 220 mudas, o que possibilitou a instalação de mais de 54 hectares de novas plantações nas províncias do Huambo, Bié e Huíla.
Além disso, segundo o secretário de Estado, cerca de 100 mil novas plantas de Café Robusta foram postas em local definitivo por produtores particulares em fazendas da região produtora desta variedade, como Bengo, Uíge, Cuanza-Norte e Cuanza-Sul.
Para melhorar a produtividade das plantações, frisou, o INCA (Instituto Nacional de Café de Angola) iniciou, no presente ano, um processo de migração paulatina na produção de mudas de café Robusta, em que cerca de 720 plantas identificadas nas províncias do Cuanza-Sul e Uíge, com produção acima da média nacional, serviram de matrizes para a instalação de jardins clonais e a produção de mudas de origem vegetativa nos próximos anos.
Ao que parece (até prova em contrário só parece) Angola quer usar o café para dar um impulso ao crescimento económico mais sustentável e menos dependente do petróleo. Desde que comprou em saldo (aos portugueses) o país, o MPLA conseguiu que as mais de 230 mil toneladas anuais de café “crescessem” para… 8 mil toneladas.
A Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, diz que o excesso de dependência do petróleo criou “um crescimento volátil e desigual” em Angola, mas acrescenta que a produção de café “pode ajudar o país a mudar de rumo.” Mas será que não mudando de rumo político é exequível mudar de rumo económico? Nos últimos 45 anos a mudança de rumos foi sempre adiada.
Em 2017, Angola produziu apenas 8 mil toneladas de café, uma pequena parte das 230 mil toneladas que produzia no início dos anos 70, quando disputava com a Costa do Marfim e Uganda o título de maior exportador de África.
Quando a guerra civil terminou, em 2002, as reservas de petróleo alimentaram um crescimento económico que durou mais de uma década e que em vez de produzir riqueza apenas produziu ricos (e todos do MPLA, obviamente). O petróleo passou a representar mais de 97% do total das exportações e a Sonangol (tal como o país) foi, é e será a galinha dos ovos de ouro do MPLA.
O director da divisão de África da Unctad, Paul Akiwumi, dizia que esse crescimento “foi notável, mas dependia muito de apenas um produto e era insustentável a longo prazo”. Todos viam isso. Mas o MPLA estava, tal como está, virado para outra realidade.
Em 2014, esse crescimento parou, quando os preços do petróleo caíram e a economia entrou em recessão, se bem que os ricos tenham continuado a enriquecer. A esperança de recuperação foi agora afastada pela crise causada pela pandemia de Covid-19. Importa, contudo, referir que depois virá qualquer outra enfermidade para mascarar o âmago da crise: a criminosa incompetência do MPLA.
Segundo a Unctad, os lucros das exportações de petróleo ajudaram a transformar Luanda numa das cidades mais caras do mundo, mas quase metade dos angolanos ainda vive na pobreza. Apenas cerca de 40% dos 31 milhões de pessoas têm acesso à electricidade. Mas nem tudo são más notícias. Na verdade os angolanos estão muito próximos de serem o primeiro povo do mundo a saber viver sem… comer.
O café foi identificado em 2018 como uma prioridade durante a primeira fase da Revisão Nacional de Exportações, conduzida pela Unctad e com financiamento da União Europeia. A directora da divisão de comércio internacional da Unctad, Pamela Coke-Hamilton, disse que o sector “representa uma enorme oportunidade devido às condições ecológicas adequadas e à alta qualidade dos grãos.”
Primeiro, na impossibilidade de se encontrar um governo competente, é preciso reabilitar o sector. Entre 2016 e 2017, era de menos de 50 mil hectares a área dedicada ao cultivo de café. Na década de 70 eram 500 mil hectares. Será que, quando se foram embora, os portugueses levaram as áreas de cultivo?
O Unctad diz que a indústria pode ser importante para as comunidades mais rurais e distantes da capital. Quase todos os 25 mil produtores de café angolanos trabalham em pequenas fazendas familiares. Além do aumento da produção, também deve ser estudado como se pode acrescentar valor ao produto.
O presidente da Associação de Produtores de Café, Cacau e Palma do país, João Ferreira, disse em tempos que “não se deve produzir mais café apenas por produzir, é importante ter em mente o valor que se pode acrescentar.”
Isso é conseguido embalando e comercializando o produto, em vez de apenas produzir. Para ajudar, a Unctad está a trabalhar com agricultores, o governo e outros envolvidos para avaliar como o país se pode posicionar na cadeia de valor global.
Além do café, a Unctad está a trabalhar para desenvolver o potencial de exportação dos sectores de frutas tropicais, mel e madeira do país.
Enquanto província ultramarina de Portugal, até 1973, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia. Não tenhamos receio de aprender com quem sabe mais e fez melhor, muito melhor. Só assim poderemos ensinar quem sabe menos.
Angola era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.
Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.
Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.
Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.
Noutros tempos, os contratados eram angolanos negros contratados para trabalhar nas roças de café dos brancos. Hoje continuam a ser angolanos negros contratados para trabalhar nas roças de café. Só que agora os donos são negros e em paga, como antes, os contratados recebem desdém, fuba podre, peixe podre, panos ruins, cinquenta kwanzas e… “porrada se refilarem”.
Folha 8 com Jornal de Angola