O Presidente angolano, João Lourenço, parte amanhã para Paris onde irá participar numa reunião de alto nível sobre economias africanas e reunir-se com os seus homólogos de França e África do Sul e o primeiro-ministro português, António Costa.
O evento, que se realiza na terça-feira, é uma iniciativa do Governo francês, com o envolvimento da União Africana, e vai permitir debater aspectos como a dívida dos países africanos (crucial, no caso de Angola, para que o Governo continue a confundir a obra-prima do Mestre com a prima do mestre de obras), o investimento privado, a construção de infra-estruturas e as reformas económicas das nações africanas.
Segundo uma nota da Casa Civil do Presidente da República, à margem do evento, João Lourenço terá reuniões bilaterais com o Presidente francês, Emmanuel Macron, com o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa e com o primeiro-ministro de Portugal, António Costa.
O regresso do chefe de Estado a Luanda está programado para quarta-feira, adianta a mesma nota.
No encontro participam outros líderes africanos, entre os quais o presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, e europeus como Mário Draghi, primeiro-ministro italiano, ou Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol.
No dia 28 de Maio de 2018 o Presidente francês manifestou, em Paris, “todo o apoio às reformas iniciadas pelo Presidente” João Lourenço. O mesmo tinha feito François Hollande em relação a José Eduardo dos Santos.
“Dou todo o meu apoio às reformas iniciadas pelo Presidente Lourenço. A luta contra a corrupção, a facilitação de vistos para os empresários, homens de negócios ou assalariados e a reforma do quadro do capital da economia que permite limitar os constrangimentos e abrir a economia angolana a parceiros, investidores e actores económicos estrangeiros, a meu ver vão na boa direcção”, afirmou Emmanuel Macron.
O Presidente francês destacou que esse é o caminho para “melhorar o crescimento do país, criar mais oportunidades e mais emprego e acelerar a diversificação da economia que é indispensável nos próximos meses e anos”.
As declarações foram feitas após a assinatura de quatro acordos de cooperação no domínio da defesa, da agricultura, da economia e da formação de quadros, acordos que, no entender de Emmanuel Macron, “vão levar a um maior empenho da França” em Angola.
Emmanuel Macron indicou, por exemplo, que na sequência de um acordo assinado em Março desse ano, a Agência Francesa de Desenvolvimento iria investir, numa primeira etapa, 100 milhões de dólares no domínio da agricultura e dar uma subvenção de 500 mil euros para a identificação de novos projectos.
O Presidente francês também disse que foram assinados acordos no sector petrolífero e sublinhou que o encontro do Presidente de Angola com 80 empresários franceses no MEDEF Internacional (Movimento das Empresas de França) ia nesse sentido.
Emmanuel Macron declarou-se “muito sensível” por João Lourenço “ter escolhido França para primeiro destino na Europa desde a sua eleição”, manifestou-se “muito empenhado no reforço das relações entre França e Angola” e disse que se trata de uma “etapa suplementar para reforçar a cooperação em todos os domínios”, incluindo o militar e de segurança marítima.
A França foi a primeira visita oficial de João Lourenço a um país ocidental, depois de ter realizado visitas a vários países africanos, como África do Sul, República Democrática do Congo, Zâmbia ou Namíbia desde que foi empossado como terceiro Presidente da República de Angola, em Setembro de 2017.
Em Abril de 2014 José Eduardo dos Santos visitou também França. Almoçou no Palácio do Eliseu com François Hollande, contando as crónicas que o repasto foi concluído com o “armistício” entre os dois países e o reforço das posições francesas na economia angolana e não apenas no sector do petróleo.
Terá sido, de acordo com os relatos da imprensa francesa, uma visita histórica que encerrou o caso “Angolagate” (venda de armamento russo a Angola, processos judiciais em Paris relativos a “infracções à legislação sobre as armas” e alegadas comissões ocultas a personalidades dos dois países).
A visita de José Eduardo dos Santos aconteceu depois de o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, se ter deslocado a Luanda e a seguir à conclusão, favorável a Angola, em 2011, do processo judicial em Paris (a “justiça” do MPLA não exigiu o envio do processo para Angola…) sobre o “Angolagate”.
Em termos políticos, diplomáticos e de segurança regional, a França contava e conta em África com Angola como aliado estratégico para controlar situações complicadas de crise na República Centro-Africana e na República Democrática do Congo.
José Eduardo dos Santos, que depois seguiu para o Vaticano, fez-se acompanhar por seis ministros (Negócios Estrangeiros, Petróleos, Finanças, Comércio, Ensino Superior e Agricultura) e por diversos empresários angolanos.
Foi igualmente dado um impulso para Paris reforçar posições em Angola no domínio da exploração do petróleo, energia, águas, transportes e finanças.
“Apesar dos fortes litígios políticos, jurídicos e diplomáticos que se verificaram entre ambos os países nos últimos anos, França manteve sempre, através da empresa Total, a maior fatia na exploração de petróleo angolano. A Total produzia, até agora, mais de 600 mil barris de petróleo por dia e pode passar a mais de 800 mil, em 2016, com a exploração de um novo projecto em Kaombo”, escrevia na altura o jornal português Expresso.
Certamente que João Lourença irá explicar ao seu homólogo francês a razão pela qual, quarta-feira (dia 12), o embaixador de França em Angola, Daniel Vosgien, deixou a província de Benguela, sem conseguir avistar-se com o governador provincial, Luís Nunes, mau grado a a audiência estar devidamente programada.
Era intenção de Daniel Vosgien analisar com Luís Nunes as perspectivas de investimentos, mormente em relação às concessões no Porto do Lobito e no Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB).
Daniel Vosgien acabou por ser recebido pela vice-governadora para a área política e económica, Deolinda Valiangula, que justificou a ausência do governador com questões de agenda, mas nem isso evitou “amargos de boca”.
O director do Gabinete do governador provincial, André Adriano, disse ter explicado à Embaixada de França as razões do desencontro, que preferiu não apresentar à imprensa, e “que foi percebido”.
O embaixador que visitou empresas do corredor económico fez notar que “para além deste (petróleo) estamos em outros sectores, com cerca de 70 empresas ou filiais em Angola. Temos vários projectos, queremos dar emprego a jovens angolanos’.
Luís Nunes esteve nesse dia à conversa com empresários, num encontro em que até defendeu mais investimento externo para Angola.