Quando era secretário de Estado da Comunicação Social, Celso Malavoloneke, aconselhou as instituições públicas e privadas a criarem gabinete de comunicação de crise para dar resposta a acontecimentos súbitos, imprevisíveis e negativos que as possam atingir. Se calhar criar também gabinetes de “educação patriótica” não seria má ideia…
Por Orlando Castro
Celso Malavoloneke falava num fórum sobre “Harmonização da Comunicação Institucional e do Marketing no Sector dos Transportes”, referindo que as instituições ou empresas devem estar preparadas para comunicar atempadamente sobre eventuais situações que belisquem sua imagem, sob pena de perder credibilidade e dar azo a especulações e falsas informações.
Socorrendo-se de factos ocorridos no sector dos transportes, como foi na altura o apagão no “Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro”, Celso Malavoloneke explicou que tal situação é de crise e exige das empresas melhor preparação para lidar com tais eventos e evitar fugir da comunicação social.
Para prevenir esse tipo de situações, segundo o então secretário de Estado da Comunicação Social, as empresas deviam criar um plano de comunicação de crise e capacitar os técnicos deste gabinete.
Os gabinetes de comunicação de crise, no entender de Celso Malavoloneke, que falava sobre o tema “comunicação de crise”, devem integrar no mínimo três pessoas, nomeadamente o principal responsável da instituição, o gestor do gabinete jurídico e o de comunicação e imagem.
Durante uma crise, na óptica deste perito, deve-se pôr em acção o comité de gestão de crise, seguir à risca o plano de comunicação de crise, com serenidade, rigor, disciplina e flexibilidade.
Entre as várias ferramentas de comunicação que devem ser utilizadas para comunicar em situações de crise, apontou a figura de um porta-voz (especialista), comunicado de imprensa, conferência de imprensa e encontros específicos com jornalistas para dar informações.
Estas habituais lições pedagógicas, tarefa em que alternavam o então ministro João Melo e o secretário de Estado Celso Malavoloneke, visavam o que o Governo chama de jornalismo mais sério, baseado no patriotismo, na ética e na deontológica profissional. A tese, embora adaptada do tempo de partido único, aparecia com vestes mais libertárias.
Na altura o Folha 8 irritou o secretário de Estado quando perguntou quem era ele, ou o ministro, ou o próprio Titular do Poder Executivo para nos vir dar lições do que é um “jornalismo mais sério, baseado no patriotismo, na ética e na deontológica profissional”?
Mas afinal, para além dos leitores, ouvintes e telespectadores, bem como dos eventuais órgãos da classe, quem é que define o que é “jornalismo sério”, quem é que avalia o “patriotismo” dos jornalistas, ou a sua ética e deontologia? Ou, com outros protagonistas e roupagens diferentes, estamos a voltar (se é que já de lá saímos) ao tempo em que patriotismo, ética e deontologia eram sinónimos exclusivos de MPLA?, escreveu o Folha 8.
Para alcançar tal desiderato, Celso Malavoloneke dizia que o Ministério da Comunicação Social iria prestar uma atenção especial na formação e qualificação dos jornalistas, para que estes estejam aptos para corresponder às expectativas do Governo.
Como se viu, o gato escondeu o rabo mas deixou o corpo todo de fora. Então vamos qualificar os jornalistas para que eles, atente-se, “estejam aptos para corresponder às expectativas do Governo”? Ou seja, serão formatados para serem não jornalistas mas meros propagandistas ao serviço do Governo, não defraudando as encomendas e as “ordens superiores” que devem veicular.
Celso Malavoloneke lembrou que o Presidente da República, João Lourenço, no seu primeiro discurso de tomada de posse, orientou para que se prestasse uma atenção especial à Comunicação Social e aos jornalistas, para que, no decurso da sua actividade, pautem a sua actividade pela ética, deontologia, verdade e patriotismo. E fez bem em lembrar. É que ministros e secretários de Estado também recebem “ordens superiores” e, por isso, não se podem esquecer das louvaminhas que o Presidente exige.
Aos servidores públicos, segundo Celso Malavoleneke, o Chefe de Estado recomendou para estarem abertos e preparados para a crítica veiculada pelos órgãos de Comunicação Social, estabelecendo, deste modo, um novo paradigma sobre a forma de fazer jornalismo em Angola.
Nós por cá, correndo o risco de nos acontecer o mesmo que a Jan Kuciak, um repórter eslovaco de 27 anos conhecido pelo seu trabalho sobre corrupção e fraude fiscal e que foi, conjuntamente com a namorada, assassinado a tiro, vamos continuar a (tentar) dar voz a quem a não tem.
Vamos, em síntese, estar apenas preocupados com as pessoas a quem devemos prestar contas: os leitores. Se calhar, citando Celso Malavoloneke, não seremos tão patrióticos como o Governo deseja. Para nós, se o Jornalista não procura saber o que se passa é um imbecil. Se sabe o que se passa e se cala é um criminoso. Daí a nossa oposição total aos imbecis e criminosos.
No dia 13 de Agosto de 2018, o Governo do MPLA (em 45 anos é único da nossa história) preparava o seu Grito do Ipiranga. O Ministério da Comunicação Social pretendia estabelecer parcerias com as associações empresariais das províncias do Namibe, Cunene e Huíla, no sentido de – noticiou a Angop – “encorajá-las a investir no mercado publicitário, visando engrandecer as despesas do sector na região sul do país”.
A intenção foi manifestada à Angop, no Lubango, pelo então secretário de Estado da Comunicação Social, Celso Malavoloneke, no quadro da sua visita aos órgãos do sector, onde recebeu informações sobre o seu funcionamento.
Segundo o, digamos, D. Pedro da era do MPLA, o objectivo passava por assegurar receitas que são geradas por via da publicidade e também de patrocínios de programas temáticos. Isso, em concreto, significa o quê? Talvez, pensamos nós, uma declaração de menoridade que o Governo passa aos empresários.
D. Celso sublinhou que o empresariado, neste tempo de crise, precisava, igualmente, de fazer conhecer os seus produtos, as suas marcas, os seus serviços e as suas ideias, porque o público consumidor tem agora um poder de compra reduzido.
Cada cavadela, cada minhoca. E os bagres que se cuidem. O Governo anda à pesca. Ou será à caça? Como em tempos de crise não se olha aos anzóis, até as granadas servem para apanhar peixes…
Do alto da sua cátedra e na perspectiva de livrar o seu chefe de posto (João Melo) destes ridículos enciclopédicos, Celso Malavoloneke considerou que este processo de intermediação, entre o público consumidor, produtores, empresários, provedores dos serviços e os geradores de ideias, é feito precisamente pelos órgãos de Comunicação Social. Quem diria? Esta bem poderia ser assumida pelo nosso Paul Joseph Goebbels.
Daí a proposta, explicou o perito do MPLA com funções comediantes delegadas, da parceria com a classe empresarial como uma forma de potenciar o mercado publicitário, para que se gere mais emprego para os jovens recém-formados nas universidades em Ciências de Comunicação nos vários órgãos de Comunicação Social, se combata a cólera, a malária, a lepra etc. e se incentive a venda de pentes para carecas, luvas para manetas e, é claro, o estudo do achatamento polar das batatas.
Justificava brilhantemente o nosso Celso “Goebbels” que esta estratégia visava também “facilitar que estes sectores possam cumprir cabalmente o seu papel de potenciadores da economia e do desenvolvimento económico e social da província”.
Celso Malavoloneke acrescentou que a reacção dos empresários nesta direcção é salutar e, a qualquer momento, as distintas direcções dos órgãos de Comunicação Social poderão sentir os efeitos da implementação desta parceria.
Como sabemos, é verdade que qualquer parceria com MPLA é mais do que meio caminho andado para o sucesso do… MPLA. Por regra, numa sociedade solidária como é a nossa, o MPLA entra com as ideias e os empresários com o dinheiro. Quando chegar a altura da colheita dessa parceria, o resultado é inequívoco: Os empresários ficaram com as ideias e o MPLA com o dinheiro.
Na altura, relativamente ao candente e basilar “problema” da Carteira Profissional, Celso “Goebbels” esclareceu ser agora da competência da ERCA (Entidade Reguladora da Comunicação Social do MPLA), cujos membros já tinham tomado posse e o seu estatuto remuneratório já ter sido criado e, doravante, é a essa organização a quem deverão ser dirigidas todas as preocupações ligadas ao assunto. Para uns bastava ter cartão do MPLA, para outros ter cartão do MPLA… bastava.
Recorde-se, entretanto, que Celso Malavoloneke afirmou em Junho de 2013, em entrevista ao programa “Angola fala só”, da VoA, que os órgãos de informação estatais são “uma vergonha” para os jornalistas, e que, meses antes (Março), dissera também à VoA, que Angola “corria o risco de ser a lixeira de Portugal” por, na altura, se assistir à substituição de jornalistas angolanos por profissionais provenientes do estrangeiro, sobretudo portugueses.