O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou o desbloqueio de 487,5 milhões de dólares (401,3 milhões de euros) para Angola, quando o país continua igual ao que sempre foi, com excepção da pandemia de Covid-19, ou seja a registar fracas receitas na indústria petrolífera e sem conseguir fazer o que o MPLA promete há 45 anos: diversificar a economia.
O FMI “concluiu a quarta revisão do programa económico de Angola, apoiado por um acordo alargado ao abrigo do Mecanismo de Financiamento Alargado”, o que “permite um desembolso imediato de (…) 487,5 milhões, elevando o total dos desembolsos ao abrigo do acordo para (…) cerca de três mil milhões [de dólares], pode ler-se no comunicado.
O acordo alargado a três anos para Angola foi aprovado a 7 de Dezembro de 2018, no montante de cerca de 3,7 mil milhões de dólares, para restaurar a sustentabilidade externa e fiscal, melhorar (supostamente) a governação, e diversificar (supostamente) a economia para promover um crescimento económico sustentável, liderado pelo sector privado.
Aquando da terceira revisão, o FMI também aprovou o pedido das autoridades de um aumento de 765 milhões de dólares (630 milhões de euros) para apoiar os esforços das autoridades para mitigar o impacto da Covid-19 e sustentar a implementação da (igualmente suposta) reforma estrutural.
Agora, o FMI salientou que “a natureza multifacetada do choque da Covid-19 continua a ter um impacto negativo na economia e na população de Angola” e que “a produção e os preços do petróleo continuam fracos”. Situação que, diga-se, não impede o país de aumentar o número de militantes do MPLA milionários e de aumentar igualmente o número de pobres, superior a 20 milhões para uma população total de cerca de 30 milhões.
Contudo, a instituição sediada em Washington, Estados Unidos da América, sublinhou que as autoridades angolanas “conseguiram um ajustamento fiscal prudente em 2020 que incluiu ganhos de receitas não petrolíferas e contenção nas despesas não essenciais, preservando ao mesmo tempo as despesas essenciais em redes de saúde e segurança social”, e que a “aprovação do orçamento de 2021 em Dezembro consolida estes ganhos”.
Refira-se que as contas do FMI se baseiam nas contas do MPLA e não na realidade do país onde, por exemplo, os angolanos adoptaram as peregrinações aos caixotes do lixo como a mais eficaz forma de enganar a barriga vazia.
Por outro lado, nesta quarta revisão também se apontou que “as autoridades também permitiram que a taxa de câmbio actuasse como um amortecedor de choques e começaram a implementar uma mudança gradual no sentido de um aperto monetário para fazer face ao aumento das pressões sobre os preços”.
A instituição liderada por Kristalina Georgieva “também aprovou o pedido das autoridades de derrogações de aplicabilidade e não observância de critérios de desempenho e modificação de alguns critérios de desempenho, objectivos indicativos, e parâmetros de referência estruturais”, anunciou o FMI, sem mais detalhes. Aliás, não aprofundar os detalhes é a melhor forma de ocultar, ou branquear, a criminosa política e económica e social de um partido que está no Poder há 45 anos mas que, até agora, ainda não percebeu que as couves devem ser plantadas com a raiz para baixo.
A directora-geral adjunta, Antoinette Sayeh, frisou que, “apesar dos desafios da pandemia (…), as autoridades angolanas têm demonstrado um forte empenho em políticas sólidas no âmbito do acordo apoiado pelo FMI” e que a resposta do país “permitiu a Angola resistir a grandes choques externos, sobretudo a receitas petrolíferas mais baixas, e mitigar o seu impacto macroeconómico, protegendo ao mesmo tempo os mais vulneráveis”.
Dizer que o governo está a “proteger os mais vulneráveis” só pode corresponder ao arroto de quem acabou de ter uma refeição frugal, tipo trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas e umas garrafas de Château-Grillet 2005…
A mesma responsável afirmou que “a estabilização das finanças públicas continua a ser a pedra angular da estratégia das autoridades”, que “conseguiram um forte ajustamento fiscal em 2020”, mas alertou que “o progresso contínuo nas reformas do sector financeiro é crítico, particularmente a conclusão da reestruturação dos dois bancos públicos em dificuldades”.
Por outro lado, concluiu, “as autoridades também precisam de manter o ímpeto de outras reformas estruturais que apoiem um crescimento mais forte e diversificado, reforcem a governação, e combatam a corrupção”.
A propósito da falta de autoridade moral de alguns organismos internacionais, onde se inclui o FMI, recorde-se que, em Julho de 2008, os líderes das oito economias mais industrializadas do mundo (G8), reunidos no Japão numa cimeira sobre a fome, causaram espanto e repúdio na opinião pública internacional, após ter sido divulgada aos órgãos de comunicação social a ementa dos seus almoços de trabalho e jantares de gala.
Reunidos sob signo dos altos preços dos bens alimentares nos países desenvolvidos – e consequente apelo à poupança -, bem como da escassez de comida nos países mais pobres, os chefes de Estado e de Governo não se inibiram de experimentar 24 pratos, incluindo entradas e sobremesas, num jantar que terá custado, por cabeça, a módica quantia de 300 euros.
Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas eram apenas alguns dos pratos à disposição dos líderes mundiais, que acompanharam a refeição da noite com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005, que estava avaliado em casas da especialidade online a cerca de 70 euros cada garrafa.
Não faltou também caviar legítimo com champanhe, salmão fumado, bifes de vaca de Quioto e espargos brancos. Nas refeições estiveram envolvidos 25 chefs japoneses e estrangeiros, entre os quais alguns galardoados com as afamadas três estrelas do Guia Michelin.
Segundo a imprensa britânica, o “decoro” dos líderes do G8 – ou, no mínimo, dos anfitriões japoneses – impediu-os de convidar para o jantar alguns dos participantes nas reuniões sobre as questões alimentares, como sejam os representantes da Etiópia, Tanzânia ou Senegal.
Os jornais e as televisões inglesas estiveram na linha da frente da divulgação do serviço de mesa e das reacções concomitantes. Dominic Nutt, da organização Britain Save the Children, citado por várias órgãos online, referiu que “é bastante hipócrita que os líderes do G8 não tenham resistido a um festim destes numa altura em que existe uma crise alimentar e milhões de pessoas não conseguem sequer uma refeição decente por dia”.
Para Andrew Mitchell, do governo-sombra conservador, “é irracional que cada um destes líderes tenha dado a garantia de que vão ajudar os mais pobres e depois façam isto”.
A cimeira do G8, realizada no Japão, custou um total de 358 milhões de euros, o suficiente para comprar 100 milhões de mosquiteiros que ajudam a impedir a propagação da malária em África ou quatro milhões de doentes com Sida. Só o centro de imprensa, construído propositadamente para o evento, custou 30 milhões de euros.
Folha 8 com Lusa