Os industriais angolanos queixam-se de “concorrência desleal” por parte das empresas chinesas que operam no país, nomeadamente no cumprimento de requisitos ambientais ou no recrutamento de trabalhadores com menos de 16 anos.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, diz que estas preocupações já foram transmitidas ao Executivo e recorda que a China foi um parceiro que chegou ao país “nos momentos difíceis” da Reconstrução Nacional.
Ainda assim, para o representante dos industriais angolanos, em causa está sobretudo a relação com empresários com uma “cultura diferente”, desde logo por a China não partilhar algumas convenções internacionais sobre o Trabalho, como acontece com Angola. Admite por isso que alguns empresários chineses “não estão compatibilizados” com os “processo legais” de Angola.
“É isso que temos vindo a apontar ao Executivo. Porque em alguns aspectos até gera concorrência desleal. Que não é comportável nas relações entre dois Estados que são membros das Nações Unidas e que têm balizas comuns, embora em alguns aspectos preceitos diferentes”, diz José Severino.
Construção civil, rede ferroviária ou energia são áreas com forte presença de empresas chinesas em Angola, dois países que mantêm uma parceria estratégica.
Uma das principais preocupações dos industriais angolanos prende-se com o alegado desrespeito da idade mínima de 16 anos para entrada no mercado laboral praticado pelas empresas chinesas. O mesmo acontecerá com horários de trabalho e garantia de condições laborais, às quais os industriais angolanos estão obrigados.
“Se formos para o interior podemos ver jovens com menos de 16 anos a trabalhar nessas empresas. Mas também sentimos problemas na exploração florestal e nas pescas”, acrescenta.
Embora presidente da AIA, assume desconhecer o número concreto das empresas chinesas que operam em Angola, por questões relacionadas com o processo de legalização.
“Muitos desses operadores chineses não têm cultura laboral, porque vieram em condições muito específicas da Reconstrução Nacional. Mas têm de ser aculturados de acordo com os nossos preceitos”, assume ainda.
Preocupações manifestadas à margem do quinto Fórum Jurídico para o Reforço da Cooperação entre a África e a China (FOFAC), que termina hoje em Luanda, visando abordar a cooperação multilateral e políticas de investimento.
“Pretendemos transmitir à parte chinesa aqui em Angola os nossos valores, porque os temos, e assim encontrarmos relações de equilíbrio entre as partes”, remata o presidente da AIA.