O presidente executivo do Standard Bank Angola mostra-se preocupado com o crescimento “manifestamente baixo” esperado da economia do país em 2020, na ordem do 1% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado pela instituição. Eis mais uma razão para João Lourenço continuar a lançar cortinas de fumo no formato Dos Santos.
Angola terá, em 2020, “um crescimento do PIB relativamente pequeno. Nós estimamos ligeiramente acima de 1%, que é manifestamente baixo para uma economia emergente como a angolana, que deveria estar a crescer pelo menos acima do nível da população”, afirmou o português Luís Teles.
A população angolana “cresce entre 3 a 3,5% por ano, o que representa praticamente um milhão de pessoas, ou ligeiramente menos, a entrar para o mercado de trabalho” e é preciso criar postos de emprego, adiantou o gestor que – acrescentamos nós – se esqueceu que o crescimento “será” muitíssimo maior devido ao arresto dos bens e contas de Isabel dos Santos. Se tiver dúvidas, o Standard Bank Angola pode perguntar à ex-eurodeputada socialistas portuguesa Ana Gomes, ou até mesmo a Rafael Marques.
Para Luís Teles, a situação económica de Angola tem tido “uma evolução difícil, algo turbulenta”. Porque “está em recessão há vários anos seguidos e não consegue arrancar o crescimento económico, sobretudo pela via da dependência que tem do petróleo”, referiu.
É claro, refira-se, a dependência do petróleo é mais ou menos recente. Só tem 44 anos, tantos quantos o MPLA leva de governação. E, como todos sabemos, a diversificação e o crescimento económico vai ainda demorar uns… 56 anos.
“Temos visto o preço do petróleo baixo. E Angola sofreu também uma retracção do investimento no sector petrolífero, desde 2015, por efeito da queda do petróleo, o que fez com que, agora, o nível de produção seja mais baixo”, sublinhou o gestor do Standard Bank Angola.
Este “duplo efeito fez exponenciar a dependência do petróleo, na medida em que não tem havido investimentos nos últimos anos suficientes para diversificar a economia”, adiantou.
Desta forma, Luís Teles considerou que todas as medidas que estão a ser tomadas pelo Governo angolano, embora sendo “meritórias” deverão “levar alguns anos a surtir efeito”. No seio do núcleo duro do MPLA de João Lourenço corre a tese de que, de facto, a meta só será alcançada com o partido chegar aos 100 anos de governo. E já só faltam 56.
Para o CEO (presidente da comissão executiva) do Standard Bank Angola, “é difícil esperar que a diversificação de uma economia de 100 biliões de dólares [90 mil milhões de euros] se faça em dois anos”.
“É uma coisa que não vai acontecer, porque exige, não só confiança dos investidores do sector privado, exige conhecimento técnico, exige disponibilidade financeira, não só dos accionistas, mas também dos bancos, liquidez para que possam apoiar esses projectos, que têm que ser implementados”, apontou.
E continuou: “É necessário recrutar pessoas, pôr fábricas a funcionar, e tudo isso vai levar cinco a dez anos até começarmos a ver alguns resultados”. Assim, na opinião do gestor, “Angola ainda tem pela frente alguns anos muito difíceis”.
Mas, é claro, toda essa nova era só começará a acontecer quando João Lourenço conseguir acertar todas as contas com a família do seu ex-patrão e patrono, José Eduardo dos Santos. Isto porque, tanto quanto é a versão oficial do MPLA, os investidores estrangeiros fazem fila para rumar a Angola mas põem como condição “sine qua non” que o Presidente confisque tudo o que seja da família Dos Santos, sendo que alguns acrescentam que também seria bom para fazer o milho crescer que os elementos do clã do anterior presidente fossem presos, no mínimo.
O Standard Bank Angola defende que “é necessário gerar emprego” e que haja mais investimento, tanto privado como público. Pois é. Não fosse Isabel dos Santos e João Lourenço já teria criado muito mais do que os 500 mil empregos prometidos para esta legislatura.
“Sabemos que o Estado está numa fase de elevado endividamento público e com um conjunto de restrições, devido ao programa do FMI, que não permite o Estado continuar a endividar-se”, disse Luís Teles.
Quanto à possibilidade de mais empresas poderem deixar o mercado angolano, tendo em conta as dificuldades, o gestor admitiu que muitas já “reduziram as suas estruturas, para fazer face à situação actual do mercado”.
Para o gestor, o que é necessário haver agora é “um sinal positivo para as empresas, para que possam recomeçar o crescimento. Penso que esse sinal tem sido dado da parte do governo, mas ainda não se sente no mercado que tenha havido uma inversão da curva.”
Por isso “continuamos a aguardar pelo início do crescimento económico”, sublinhou, alertando que “é muito importante que haja uma descida das taxas de juro, (…) que haja um controle de preços”.
No contexto actual da economia angolana, o gestor português do Standard Bank Angola defendeu que as empresas portuguesas “tem uma responsabilidade acrescida”, porque conhecem melhor o país do que a maior parte das suas congéneres de outras origens.
“Portanto, o movimento de entrar e sair de Angola, como às vezes as pessoas falam, é a pior coisa que pode acontecer, porque não gera confiança no mercado. É necessário manter a presença sempre, e, depois, vai-se ajustando a estrutura à dimensão do mercado”, sugeriu.
Já para empresas que, neste momento, querem investir, o gestor recordou que Luanda “está a fazer um esforço enorme de atrair novo investimento”. Assim, “é preciso tomar decisões corajosas, por vezes, e entrar antes do mercado mudar”.
“Não pode ser depois do crescimento económico acontecer que as empresas vêm”, defendeu.
Luís Teles lembrou que têm sido anunciados investimentos públicos “relevantes” nos sectores mineiro, da energia e outros que “poderão dar a entender que há oportunidades em Angola para as empresas poderem trabalhar”.
Em paralelo, no sector privado também há “boas oportunidades em Angola”, concluiu.
Folha 8 com Lusa