As autoridades sanitárias de Luanda vão vacinar, entre sexta-feira e domingo, dois milhões de crianças contra a poliomielite, doença que ressurgiu em Angola, depois de mais de sete anos sem registo de casos. Que ninguém falte à vacinação. Ela salva!
A coordenadora do programa de vacinação de Luanda, Felismina Neto, disse que a campanha vai decorrer a partir de sexta-feira, durante três dias, com o envolvimento de 12.500 pessoas, acrescentando (o que é mentira) que o país não notificava casos desde 2011 (de 2011 a 2019 vão oito anos), mas este ano voltaram a ser notificados casos, principalmente nas províncias do leste do país: Lunda Norte, Lunda Sul e Moxico.
A coordenadora do programa de vacinação frisou que a capital angolana, Luanda, registou igualmente um caso de poliomielite, no município do Kialamba Kiaxi, na zona do Rasta, salientando que a campanha que se inicia sexta-feira, é a primeira fase, seguindo-se duas outras de 1 a 3 de Novembro e entre 15 e 17 do mesmo mês. As províncias com maior incidência realizaram já as suas campanhas de imunização nos meses de Agosto e Setembro.
Angola certificada pelo Comité de Certificação Regional Africano como livre do vírus da pólio, tendo os últimos cinco casos sido notificados em 2011, nas províncias do Uíje e Cuando Cubango.
Em Setembro de 2014, segundo informação da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgada nessa altura, mais de 35 milhões de crianças de oito países da África central, incluindo Angola, estavam a ser vacinadas contra a poliomielite.
De acordo com o comité regional da OMS em África, estas jornadas sincronizadas de vacinação decorreram em países como Angola, Camarões, República do Congo, Gabão, Guiné Equatorial, República Centro-Africana, República Democrática do Congo e Chade.
Também apelidada de paralisia infantil ou simplesmente pólio, a poliomielite é uma doença infecciosa viral aguda transmitida de pessoa a pessoa, principalmente pela via fecal-oral, que atinge sobretudo crianças com menos de cinco anos.
Angola pretendia avançar em Novembro de 2015 com o processo de certificação da erradicação da poliomielite do país, sendo o país lançou o Programa de Erradicação da Pólio em 1997, mas dois anos mais tarde registou a maior epidemia da doença, com 1.119 casos.
Em 2011 iniciou-se um plano de emergência para interromper a transmissão da poliomielite, tendo os últimos cinco casos da doença sido registados nesse ano, nas províncias do Uíge e do Cuando Cubango.
Recorde-se que Organização Mundial de Saúde entregou no dia 9 de Dezembro de 2014 ao Governo angolano equipamento laboratorial no valor de 80 mil dólares (65 mil euros) para vigilância ambiental do vírus selvagem da pólio.
Em declarações à imprensa, à margem do acto de entrega, o então ministro da Saúde de Angola, José Van-Dúnem, disse que o apoio da OMS insere-se no esforço que o país e os seus parceiros vêm fazendo para melhorar a vigilância epidemiológica do vírus da pólio.
Segundo o então governante, este é um primeiro passo para se começar a tratar completamente das amostras no país, sem ter de as enviar para a África do Sul, como acontecia até então, diminuindo igualmente os custos suportados pelos parceiros.
“É um esforço para aumentar a capacidade de resposta do ponto de vista integral, na luta contra a pólio, nomeadamente na área da vigilância epidemiológica”, disse José Van-Dúnem, acrescentando que iria igualmente contribuir para a segurança, do ponto de vista do controlo sobre a circulação ou não do vírus.
“É uma retaguarda importante para a segurança, para a garantia da qualidade daquilo que se está a fazer”, reforçou o governante.
José Van-Dúnem referiu na altura que há mais de três anos que o vírus da pólio não circulava em Angola, havendo assim condições criadas para se considerar erradicada a doença no país.
“Vamos fazer mais um ano, continuamos a fazer as campanhas de vacinação para garantir a vacinação de massa”, disse o então ministro, sublinhando a importância da população aderir sempre ao esforço governamental.
Em Julho de 2014, Angola introduziu o método de recolha das amostras ambientais, em que se apanha em esgotos amostras para ver se o vírus está em circulação, tornando-se assim o terceiro Estado da região africana da OMS, ao lado da Nigéria e do Quénia, que estabeleceu a vigilância ambiental da poliomielite.
A vigilância ambiental da pólio fornece informação complementar sobre a qualidade da vigilância das paralisias flácidas agudas e é um método muito sensível para detectar a transmissão silenciosa do vírus da pólio, face ao risco de uma eventual importação.
No início de 2017 os chefes de Estado de toda a África aprovaram a Declaração de Adis Abeba sobre a imunização, também conhecida como Declaração Ministerial sobre o Acesso Universal à Imunização, uma promessa histórica e oportuna para garantir que toda a gente em África – independentemente da sua origem e do lugar onde vive – receba todos os benefícios da imunização.
Embora a África tenha registado ganhos impressionantes nos últimos 15 anos em termos do aumento do acesso à imunização, os progressos estagnaram e o continente está a ficar para trás na realização das metas globais de imunização. Uma em cada cinco crianças em África ainda não recebeu as vacinas básicas que salvam vidas e, assim, as doenças evitáveis com vacinas continuam a ceifar muitas vidas. Só o sarampo é responsável, anualmente, por aproximadamente 61 000 mortes evitáveis na Região Africana.
“Sabemos que o acesso universal à imunização é exequível”, indicou a Presidente cessante da Comissão da União Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma. “A Declaração de Adis Abeba sobre a Imunização é uma promessa histórica. Com vontade política aos mais altos níveis, estamos mais perto do que nunca a garantir que todas as crianças em África tenham as mesmas oportunidades a uma vida saudável e produtiva”, disse.
A Declaração sobre a imunização solicita aos países que aumentem os investimentos políticos e financeiros nos seus programas de imunização. Inclui 10 compromissos, nomeadamente aumentar o financiamento relacionado com as vacinas, reforçar as cadeias de aprovisionamento e os sistemas de distribuição e fazer do acesso universal às vacinas um pilar fundamental dos esforços da saúde e do desenvolvimento.
“As vacinas estão entre os instrumentos mais eficazes de saúde pública disponíveis”, disse Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África: “Quando as crianças começam a crescer saudáveis, as comunidades prosperam e as economias crescem mais. Esta demonstração de apoio dos Chefes de Estado é um passo importante na prossecução dos nossos esforços para alcançar o acesso universal à imunização e, em última análise, melhorar a saúde das crianças e promover o desenvolvimento sustentável em toda a África”.
Cerca de 15 países africanos financiam mais de 50% dos seus programas nacionais de imunização. À medida que África caminha para a erradicação da poliomielite, prevê-se que haja uma diminuição do importante financiamento da imunização através do programa de erradicação da poliomielite. Além disso, os países que estão a transitar para o estatuto de rendimento médio, ficarão privados do apoio do GAVI – parceria público-privada criada para melhorar o acesso às vacinas em países pobres – para a imunização nos próximos anos. Por conseguinte, os governos devem redobrar esforços no sentido de fazerem da cobertura universal da imunização uma prioridade nacional.
“Enquanto houver uma criança em África que não tenha acesso à imunização, o nosso trabalho permanece inacabado”, disse Ala Alwan, Director Regional da OMS para o Mediterrâneo Oriental: “Com a combinação certa de vontade política, recursos financeiros e competência técnica, a África pode – e deve – enfrentar as doenças evitáveis com vacinas em todo o continente”.
Com lideranças e investimentos fortes, o aumento do acesso à imunização é exequível. Por exemplo, em 2010, a Etiópia construiu 16 000 novos centros de saúde, comprou 2 000 frigoríficos alimentados a energia solar para o armazenamento de vacinas e criou uma rede de milhões de agentes e voluntários de saúde ao nível comunitário para aumentar o acesso à imunização em todo o país. Desde que estes investimentos foram feitos, a Etiópia registou ganhos extraordinários, com taxas de imunização que passaram de 61% em 2010, para 86% em 2015.
“A imunização é um dos investimentos mais inteligentes que um país pode fazer no seu futuro”, afirmou o Yifru Bernham Mitke, Ministro da Saúde da Etiópia: “Devemos fazer mais para proteger todas as nossas crianças das doenças evitáveis – não apenas porque é isso que está correcto mas também porque faz sentido economicamente. Se as nossas crianças forem saudáveis, as nossas famílias, as nossas comunidades e os nossos países prosperam”.
A Declaração sobre a Imunização foi assinada pelos Ministros da Saúde e outros ministros sectoriais na Conferência Ministerial sobre a Imunização em África (CMIA), em Fevereiro de 2016 em Adis Abeba. A CMIA foi a primeira reunião de sempre, a nível ministerial, organizada com o principal objectivo de garantir que as crianças em todo o continente possam ter acesso a vacinas que salvam vidas.
“Os líderes africanos estão a demonstrar uma extraordinária liderança aprovando este compromisso histórico que permitirá que mais crianças africanas recebam vacinas que salvam vidas independentemente do lugar onde vivem”, afirmou Ngozi Okonjo-Iweala, Presidente da GAVI, Aliança Mundial de Vacinas: “Devemos agora garantir que os compromissos sejam traduzidos em financiamentos sustentáveis para a imunização. A GAVI está disposta a apoiar os esforços dos países africanos a implementar abordagens equitativas de saúde e a manter uma forte cobertura de imunização a fim de que juntos possamos criar um futuro mais próspero para as comunidades em todo o nosso continente”.
Folha 8 com Lusa