O ministro da Comunicação Social, João Melo, sugeriu, neste domingo, em Luanda, que a situação das diásporas africanas seja discutida na próxima Bienal da Paz, prevista para decorrer em Angola, no ano de 2020. Em bom rigor (coisa que não existe no ADN do MPLA) deveria ser discutida todos os dias. E só não o é porque isso seria um sério problema para o partido que nos (des)governa há 44 anos.
Por Orlando Castro (*)
Ao proferir o discurso de encerramento da primeira edição do Fórum Pan-Africano para a Cultura de Paz (Bienal), que hoje terminou e que se realizou em Luanda, o ministro afirmou que esse debate deve ser “travado” pelos povos africanos.
Recorde-se, como “apetitivo” que o Ministério da Comunicação Social é “o órgão do Governo encarregue de organizar e controlar a execução da política nacional do domínio da informação”, tendo as seguintes atribuições:
“Auxiliar o Governo da realização da política nacional da informação; organizar e manter um serviço informativo de interesse público; tutelar a actividade da área da comunicação social; licenciar o exercício da actividade de radiodifusão e televisão; proceder ao registo das empresas jornalísticas e de publicidade, bem como dos programas de radiodifusão sonora e televisão, para efeitos estatísticos, de defesa da concorrência e direitos de autor; autorizar o exercício, em território nacional da actividade de correspondente de imprensa estrangeira e informar o Governo sobre a forma como a profissão é exercida; promover a divulgação das actividades oficiais utilizando para tal a imprensa, conferências, radiodifusão, televisão e outros meios disponíveis; desempenhar outras tarefas superiormente acometidas decorrentes da actividade própria que lhe é inerente”.
Repararam na frase “(…) organizar e controlar a execução da política nacional do domínio da informação”? Reforçamos: “organizar e controlar”.
João Melo entende ser a Bienal da Paz um espaço adequado para analisar não só o grau e a natureza de integração das diásporas africanas nas sociedades a que pertencem, mas também as possíveis formas de colaboração com os países africanos independentes.
Quanto à primeira edição da Bienal da Paz, afirmou que a conclusão mais assertiva foi “o apelo para a formação de uma coligação múltipla de parceiros para a capacitação dos povos africanos, para a transformação positiva das sociedades”.
João Melo destacou que isso deve envolver as comunidades económicas regionais, instituições académicas e associações profissionais, organizações internacionais, o sector privado, a sociedade civil, filantropos e personalidades influentes no continente e do exterior.
Disse também que foram feitas recomendações e sugestões para que a comunicação social reforce o seu papel como promotora da paz e do desenvolvimento de África. Desde que, no caso de angolano, não se esqueça que o MPLA é Angola e que Angola é o MPLA, devendo até – presumimos – investigar no sentido de provar que Agostinho Neto, o herói nacional (do MPLA), foi, no caso, o inventor da escrita.
“O actual governo angolano compreendeu desde o princípio, após as eleições de 23 de Agosto de 2017, a importância de criar no país um sistema de comunicação social aberto, plural, livre e diversificado”, afirmou João Melo, demonstrando a sua convicção de que a audiência está sempre de acordo com as mentiras de quem está no Poder. Aliás, tal como ele próprio que esteve com José Eduardo dos Santos, está com João Lourenço e estará com qualquer outro que o substitua, desde que lhe garanta um tacho.
Em artigo publicado no Jornal de Notícias (Portugal) no dia 5 de Agosto de 2015, João Melo disse que “a prisão, em Luanda, de 15 activistas acusados de prepararem uma sublevação popular de atentado ao Presidente da República está a ser usada como pretexto para reviver, sobretudo em Portugal, as velhas campanhas anti-MPLA do período da guerra civil em Angola, quando a UNITA pagava o salário de numerosos jornalistas, políticos e outras figuras portuguesas, que adoravam as visitas à Jamba”. Como se vê, sipaio uma vez, sipaio sempre.
Segundo João Melo, essa suposta abertura é reconhecida não só pela sociedade angolana, mas também por organizações internacionais independentes, que têm melhorado a posição de Angola no ranking de liberdade de imprensa.
“Estamos conscientes de que ainda há muito a fazer e vamos fazê-lo”, declarou. Claro que vão fazer. Desde logo porque o Ministério da Comunicação Social é “o órgão do Governo encarregue de organizar e controlar a execução da política nacional do domínio da informação”.
O ministro afirmou também que o Executivo angolano aceita o repto de investir na capacitação das pessoas para pensarem e usarem de “modo crítico” as informações que recebem através desses meios, que podem servir para informar e libertar, como manipular grosseiramente, criar a polarização, assediar, estimular o ódio e voltar a escravizar.
Com o título “Então camarada João Melo?”, o Folha 8 publicou no dia 5 de Agosto de 2015 o artigo que a seguir reproduzimos, deixando aos leitores a hilariante tarefa de ver a lata do ministro da Comunicação Social:
«João Melo escreve hoje, no Jornal de Notícias (Portugal), um artigo de opinião com o título “A presunção tem dois lados”. Em 2008, o jornalista (?), escritor, director de uma agência de comunicação e deputado do MPLA foi o vencedor da 16ª edição do Prémio Maboque de Jornalismo, tendo recebido 70 mil dólares.
João Melo dirigiu vários meios de comunicação angolanos, estatais e privados. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA), ocupou diversos cargos de responsabilidade nos respectivos órgãos sociais tais como secretário-geral, presidente da Comissão Directiva e presidente do Conselho Fiscal. Foi director de uma agência de comunicação e deu aulas em duas universidades privadas.
Como jornalista, ingressou na Rádio Nacional de Angola (RNA) e assumiu a direcção de diversos meios de Comunicação Social estatais, nomeadamente “Agência Angola – Press Angop”, “Jornal de Angola” e o semanário privado “Correio da Semana”.
No artigo hoje publicado no JN, diz que “a prisão, em Luanda, de 15 activistas acusados de prepararem uma sublevação popular de atentado ao Presidente da República está a ser usada como pretexto para reviver, sobretudo em Portugal, as velhas campanhas anti-MPLA do período da guerra civil em Angola, quando a UNITA pagava o salário de numerosos jornalistas, políticos e outras figuras portuguesas, que adoravam as visitas à Jamba”.
João Melo, na velha tradição dogmática do seu partido, reedita velhas teses, segundo as regras – não menos dogmáticas – do seu “Jornal de Angola” (JA), desde sempre órgão oficial do MPLA, correia de transmissão do regime ditatorial que (des)governa Angola desde 1975.
De facto, no dia 12 de Maio de 2008, o Pravda (como é também conhecido o JA) ameaçou divulgar “as listas dos nomes dos quadrilheiros portugueses capturadas no bunker de Jonas Savimbi no Andulo”. Até hoje não o fez. E também, e mais uma vez, João Melo fala da questão mas não dá o nome aos bois. É pena.
Então, camarada João Melo, como mais vale tarde do que nunca, não será esta a melhor altura para divulgar essa lista de “jornalistas, políticos e outras figuras portuguesas”? Não será altura de pôr tudo em pratos limpos?
Continuamos à espera das listas de quadrilheiros portugueses e, já agora, também da imensa listagem dos oficiais das FAPLA e depois das FAA que trabalhavam para Savimbi, assim como dos políticos do MPLA, alguns com altos cargos no Governo e que também eram assalariados do líder da UNITA, e ainda dos jornalistas (portugueses e angolanos), hoje rendidos aos encantos do MPLA, e que também eram amamentados por Savimbi.
De baterias apontadas ao jornal português Público e ao programa “Eixo do Mal”, da SIC Notícias, o Pravda – certamente com a anuência de João Melo – afirmava que os “idiotas úteis” que integram o programa e o diário português estão ao serviço de “quadrilhas” que se serviram de “diamantes de sangue” em Angola.
Continuando os “diamantes de sangue” angolano a circular pelos areópagos da alta finança mundial, embora com outro nome, assim como o “petróleo de sangue”, seria bom que se soubesse (santa ingenuidade a nossa!) a que “quadrilhas” servem agora.
Por tudo isto, força camaradas do MPLA/regime, força João Melo. Se os tiverem no sítio (não têm, nunca tiveram e nunca terão, como é bom de ver) não devem esperar. Mandem cá para fora tudo o que têm. Tudo. Tudo. Tudo significa tudo. Percebem?
Sob a batuta do MPLA, estes escribas escolarizados há bem pouco tempo servem-se do “Jornal de Angola” (e não só, como agora se vê) para publicarem o que nem eles sabem o quer dizer e, quem sabe, para esconderem “as listas dos nomes dos quadrilheiros capturadas no bunker de Jonas Savimbi no Andulo” onde se calhar figuram alguns deles.»
(*) Com Angop