O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, anunciou hoje a realização do XIII congresso ordinário do maior partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista em Angola, de 13 a 15 de Novembro deste ano, para a eleição de um novo (ou não) líder.
Numa “coisa” a que, erradamente, chamou de “conferência de imprensa”, em Luanda, sem direito a perguntas (o que, entre outras coisas, viola a própria definição de “conferência de imprensa), Samakuva (quase ao estilo do que de pior tinha José Eduardo dos Santos) leu uma declaração em que anunciou a data do conclave, bem como seis outros temas em discussão no congresso.
Avaliar e “redefinir, se for esse o caso” a linha ideológica, adoptar estratégias eleitorais, rever os estatutos e o programa e apreciar a actuação dos órgãos cessantes do partido são outras das alíneas a serem discutidas no congresso.
Segundo Samakuva, que não indicou se se recandidatará ao cargo, que ocupa desde 2003, o congresso irá também rever os símbolos do partido, bem como eleger a nova comissão política.
Na (suposta) “conferência de imprensa”, realizada a meio de uma reunião do Comité Permanente da UNITA, Isaías Samakuva referiu que o conclave vai servir para uma maior definição da estratégia do partido para as eleições autárquicas, previstas para 2020.
O último congresso do partido fundado em 1966 por, entre outros, Jonas Savimbi, ocorreu em Dezembro de 2015 no município de Viana, a leste de Luanda, na presença de 1.165 delegados, que reelegeram Samakuva como líder, com 949 votos, derrotando Paulo Lukamba Gato (167 votos) e Kalamata Numa (25).
Em 13 de Março deste ano, numa declaração alusiva ao 53º aniversário da criação do partido, a direcção da UNITA considerou actuais os objectivos da fundação do partido, face à necessidade urgente de “mudanças políticas profundas para a dignificação dos angolanos”.
A direcção da segunda força política angolana referiu que os cinco pilares fundamentais da sua criação, “o ‘Projecto de Muangai’ é actual e adaptável ao contexto de uma Angola pós-independente, carente de soluções adequadas aos problemas mais básicos que assolam a sociedade angolana”.
Segundo a mesma fonte, o país e os seus cidadãos “vivem ainda momentos difíceis, de frustração, angústia e desespero”, devido à “má governação que se instalou no país há 43 anos”, sem que, acusa, “se vislumbre no horizonte garantias de se reverter o quadro calamitoso”.
Samakuva, Presidente do partido que, definitivamente, deveria deixar de se chamar UNITA porque nada tem a ver com a verdadeira UNITA fundada por Jonas Malheiro Savimbi, não descola de imagem de quem não é capaz de dar o “golpe de asa” (ao Galo Negro) para ajudar a mudar Angola.
Recorde-se que, no dia 30 de Março, por exemplo, deverá ter recebido uma a ordem superior, baixada pelo seu homólogo do MPLA e, como obediente angolano, mostrou-se, no Luena, satisfeito com o empenho do Executivo de João Lourenço no combate à corrupção, nepotismo, impunidade e à bajulação, pelo facto desses males terem prejudicado bastante a sociedade.
Na sua análise, Samakuva ainda não percebeu (ou percebeu mas não está interessado em que se saiba que percebeu) que o Presidente do MPLA está – com rara e assinalável mestria – a fazer com que, de “motu próprio”, a UNITA se transforme numa espécie de FNLA.
“Não queremos esconder a nossa satisfação pelo facto de que esses males agora parecem terem sido identificados por todos”, disse o presidente da UNITA, bajulando a estratégia (que não existe) daquele que, para além de Presidente da República, é também Titular do Poder Executivo e do MPLA, para além de mentor, ideólogo e guru dessa organizaçãozinha que usurpou o nome da organização, essa sim grande, enorme, fundada por Jonas Savimbi.
Aliás, Samakuva e os seus acólitos da lagosta não se devem preocupar muito com as autárquicas, ou com quaisquer outras eleições. Basta negociar com o MPLA a percentagem que ele pensa atribuir à UNITA. Dependendo da disposição do Presidente do MPLA, até pode ser que consiga aguentar-se mais uns anos a esfregar banha no umbigo, a arrotar a marisco e a enganar o Povo repescando (devidamente autorizado pelo MPLA) teses de Savimbi.
No entanto, Samakuva manifestou o desejo de ver as eleições autárquicas a serem realizadas de uma forma pacífica, responsável e abrangente, sem que a maioria parlamentar utilize a sua força para impor as leis e prejudicar o processo que considerou de muito importante para a vida do país.
Não está mal. Depois da bajulação, curvando-se subtilmente perante a imagem do “querido líder” (João Lourenço) que transporta no subconsciente, Samakuva simulou ser líder da oposição, não fossem os angolanos atirar-lhe à chipala a vergonha que é a UNITA aceitar ser tapete (embora de luxo) do MPLA.
Tal como previsto (e autorizado, recorde-se), o presidente do maior partido da oposição que o MPLA (ainda) permite que exista, exigiu (vejam só o grau e a assertividade da exigência) que haja diálogo, aceleração e a tomada de mediadas consensuais para permitir aos cidadãos eleger os seus dirigentes livremente.
Samakuva disse também que durante o debate realizado com os estudantes do Instituto Superior Politécnico Privado “Walinga” do Luena, ficou com a impressão de que há um desejo enorme e ansiedade de se saber o que é o processo das autarquias. A sério? Para um país independente desde 1975 e que até agora não realizou eleições autárquicas (mesmo as outras só foram um simulacro) será estranho todos querermos saber o que é isso?
O líder desta UNITA lamentou o facto de haver pouca interacção com a sociedade no sentido de se explicar devidamente o verdadeiro significado das autarquias e as suas vantagens. Se fosse só isso…
Ao sugerir que esse trabalho seja feito nos próximos tempos, Samakuva fez saber que a UNITA orientou a direcção do partido no sentido de disseminar a informação nas suas estruturas e posteriormente esclarecer os cidadãos para que saibam decidir. É obra! Desde logo porque, finalmente, a UNITA mostra que embora não saiba o que deve, e pode, fazer sobre esse processo eleitoral, tem uma vaga ideia que os cidadãos devem ser esclarecidos… antes de votarem.
Ao avaliar o desempenho do partido, Samakuva disse – na altura – sair do Moxico satisfeito, por ter cumprido com o programa e encontrou avanços significativos e visíveis, fruto do trabalho realizado pelos militantes.
A isso acresce que, mais uma vez e ao contrário da outra UNITA, esta não percebeu que está em cima de um tapete rolante que anda para trás. Samakuva e os seus rapazes limitam-se a andar e ficam com a sensação de que estão a progredir. No entanto, quando acordarem, verão que não saíram do mesmo sítio.
Folha 8 com Lusa