O Governo angolano enviou para a cidade da Beira, em Moçambique, um avião com cerca de 100 técnicos de saúde e material médico e medicamentoso para apoiar as populações afectadas pela passagem do ciclone Idai. Muito bem. Entre ajudar os nossos filhos e os filhos dos outros, todos a necessitar de ajuda, João Lourenço apostou nos filhos dos outros. Ele lá sabe a razão…
O envio da “missão humanitária e de solidariedade” foi decidido pelo Presidente João Lourenço (em Angola só ele sabe, só ele quer, só ele decide), e integra 54 técnicos de saúde ligados ao Ministério da Saúde e outros 46 afectos ao Ministério da Defesa, que irão juntar-se às equipas de salvamento já no terreno em Moçambique.
A missão, para já de 30 dias, inclui também a ministra da Saúde angolana, Sílvia Lutucuta, que disse aos jornalistas que o tempo da presença da centena de técnicos de saúde pode ser aumentado, tudo dependendo da evolução da situação. Ora aqui está mais uma prova da filantropia da FRELIMO, perdão, do MPLA.
E não faz por menos. Numa demonstração de saloiice genética e de nojice (aquilo que faz nojo, coisa nojenta) moral, a própria ministra integra a comitiva. Bem que poderíamos mandar não o Presidente da República, que tem mais o que fazer, mas o Presidente do MPLA ou, eventualmente, o Titular do Poder Executivo…
“Vamos com o sentimento de cumprir um dever humanitário em Moçambique, afectado gravemente pelo ciclone Idai, o que resultou na destruição muito grande no litoral de Moçambique, com maior reflexo na cidade da Beira. Levamos uma equipa multidisciplinar, civil e militar, para fazer o diagnóstico e assistência médica ‘in loco’ e também estamos a levar medicamentos e material gastável para apoio a esta missão”, disse a ministra Sílvia Lutucuta.
Segundo a ministra da Saúde, a equipa integra especialistas de várias áreas médicas, alguns deles já com experiências semelhantes, tendo em conta que, após o ciclone, a Beira começa a dar sinais de que vão começar a aparecer as doenças provocadas por este tipo de catástrofes.
“Acreditamos que, por esta altura, já começam a aparecer os sinais mais graves de doenças. Não há luz, não há água e as doenças diarreicas e as infecções respiratórias, até a malária, vão vir. Mas vamos também preparados para a assistência materno-infantil, nomeadamente assistência obstétrica e de recém-nascidos”, adiantou Sílvia Lutucuta.
Por seu lado, o ministro da Defesa, Salviano Sequeira, realçou que a missão humanitária e de solidariedade “para com o povo irmão” de Moçambique foi determinada por João Lourenço (caninamente ninguém pode esquecer-se de mencionar sempre que a decisão foi do Presidente) com o objectivo de, junto das autoridades locais, “contribuir, apoiando as várias iniciativas das equipas de resgate e de apoio logístico, para ajudar as pessoas que precisam de auxílio”.
“É neste quadro que o Governo angolano constituiu esta missão humanitária e de solidariedade, com grande pendor para o sector da saúde, para prestar assistência médica e medicamentos nos vários domínios da saúde junto das pessoas afectadas pelo ciclone Idai” sublinhou Salviano Sequeira.
Só para se compreender a filantropia angolana
Angola necessita de pelo menos mais 30 mil médicos e de 66 mil enfermeiros para fazer face à demanda nos hospitais do país. Quem disse? A ministra da Saúde angolana, Sílvia Lutucuta, no passado dia 16 de Fevereiro, no final da visita do Presidente João Lourenço à Central de Compras de Medicamentos e Meios Técnicos (CECOMA) e aos hospitais Geral de Luanda e Josina Machel, na capital do país.
As declarações da ministra da Saúde foram feitas, recorde-se, no mesmo dia em que mais de uma centena de médicos angolanos realizaram uma marcha de protesto, em Luanda, para exigir melhores condições salariais e de trabalho, bem como a colocação de 1.500 colegas que se encontram no desemprego e contra o “silêncio” do executivo que acusam de não responder às reivindicações.
Os profissionais de saúde pediram aos governantes angolanos para “experimentarem” fazer consultas médicas nos hospitais públicos de Angola para se inteirarem das condições de trabalho.
Na marcha, os médicos empunhavam cartazes com frases como “governantes façam consultas nos hospitais públicos”, “exigimos boas condições de trabalho e de vida”, “respeito e dignidade da classe”, “PGR faça auditoria do concurso 2018 do Ministério da Saúde” ou “se somos mais de 800 burros, encerrem as faculdades de medicina do país”.
Nas declarações à imprensa, Sílvia Lutucuta não fez qualquer referência directa às reivindicações dos médicos, salientando indirectamente a necessidade de os hospitais contarem com mais profissionais de saúde e de melhores equipamentos.
“Colocamos esta preocupação ao Presidente da República e acreditamos que, a curto prazo, teremos solução para o enquadramento de mais quadros no sector”, disse a ministra, mostrando-se “preocupada” com a classe médica “porque as faculdades não estão a formar quadros suficientes”.
A ministra da Saúde adiantou que João Lourenço (ora pois, então) ficou “preocupado” com a questão de recursos humanos, tendo prometido dar uma atenção especial ao assunto, “mas de forma transversal para todas as classes de profissionais da saúde”, sendo, paralelamente, necessário “melhorar a eficiência dos que já estão no sector” e, ao mesmo tempo, “ir admitindo mais quadros de forma gradual”.
“Uma falha de um profissional de saúde pode terminar em morte. Estamos cheios de processos e de inquéritos em curso. A nossa inspecção está a desdobrar-se em esforços para dar tratamento a esses inquéritos”, admitiu.