O chefe da diplomacia angolana, Manuel Augusto, anunciou hoje que Angola vai acolher dia 23 vários Presidentes da África Austral para celebrar o “Dia da Libertação Africana”, destinado a assinalar a efeméride que, alegam, levou ao fim do “apartheid” sul-africano. O “23 de Março” marca o fim da batalha do Cuíto Cuanavale, na província do Cuando Cubango, onde o MPLA/cubanos e russos foram humilhados.
Manuel Augusto, que falava aos jornalistas após chegar de Windhoek, onde participou na sexta-feira e hoje nos trabalhos do Conselho de Ministros da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), confirmou a presença dos Presidentes da Botsuana (Mokgweetsi Masisi), Namíbia (Hage Geinbob) e Zâmbia (Edgar Lungu). O Presidente da África do Sul (Cyril Ramaphosa) estará “quase” confirmado.
“Já temos a confirmação dos Presidente da Namíbia, da Zâmbia e do Botsuana e quase, já possivelmente, da África do Sul”, sublinhou Manuel Augusto, que adiantou ter convidado todos os chefes de Estado dos restantes 15 países membros da SADC, organização regional que inclui também Moçambique.
Em 18 de Agosto de 2018, na cimeira da SADC, também na capital namibiana, Angola apresentou uma proposta para a inclusão da data de “23 de Março” como “Dia de Libertação de África”, que viria a ser alterada para “Dia de Libertação da África Austral”.
O “23 de Março” marca a data do fim da batalha do Cuíto Cuanavale, na província do Cuando Cubango (sul de Angola), o maior conflito militar da guerra civil angolana, que decorreu entre 15 de Novembro de 1987 e aquele dia de 1988, que opôs os exércitos das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA/MPLA), apoiados por Cuba e Rússia, e da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA/FALA), com apoio da África do Sul.
O fim da batalha marcou um ponto de viragem decisivo na guerra, incentivando paralelamente um acordo entre sul-africanos e cubanos para a retirada de tropas e a assinatura dos Acordos de Nova Iorque, que deram origem à implementação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, levando à independência da Namíbia e ao fim do regime de segregação racial (“apartheid”), que vigorava na África do Sul, bem como a aceitação pelo MPLA do multipartidarismo em Angola.
“Aproveitei a minha presença em Windhoek, no Conselho de Ministros da SADC, para anunciar que, no próximo dia 23 de Março, vamos assinalar mais um aniversário da batalha do Cuíto Cuanavale, mas que encerra agora um carácter especial. No ano passado, na Cimeira da SADC em Windhoek, os chefes de Estado decidiram estatuir a data de 23 de Março como o ‘Dia da Libertação da África Austral’, uma homenagem ao esforço que Angola fez para a libertação na nossa sub-região”, disse hoje o chefe da diplomacia angolana.
Segundo Manuel Augusto, que lembrou que o Parlamento angolano aprovara antes o “23 de Março” como dia feriado em Angola, o Presidente angolano, João Lourenço, “entendeu que, para assinalar o primeiro ’23 de Março’ depois da decisão de Windhoek, que devia haver uma celebração regional”.
“Nesse sentido, decidiu convidar todos os chefes de Estado da região da SADC para se deslocarem a Angola, mais especificamente ao Cuíto Cuanavale, para conjuntamente celebrarmos esta data. Já distribuímos os convites aos vários países e, de acordo com as agendas dos chefes de Estado da região, teremos a presença, se não de todos, de alguns deles”, acrescentou.
“Já estão confirmados alguns e, por isso, teremos no próximo fim-de-semana um grande dia em Angola, um dia que vai não só homenagear, mas também perpetuar todos aqueles que verteram o seu sangue para que a realidade, hoje, na África Austral, em África e no mundo, em geral, fosse diferente, tendo como principal destaque (segundo a miopia do MPLA) o fim do ‘apartheid'”, afirmou Manuel Augusto, realçando que o anúncio feito em Windhoek “merece uma grande e encorajante reacção por parte dos vários membros”.
A SADC foi criada em 17 de Outubro de 1992 e integra Angola, Moçambique, África do Sul, Botsuana, República Democrática do Congo, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurícia, Namíbia, Seychelles, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué.
Histórias desta história
Duas construtoras de origem portuguesa foram escolhidas pelo Governo angolano para as empreitadas na histórica localidade do Cuito Cuanavale, que no total rondam os 25 milhões de euros. Coisa pouca para ajudar a branquear um acontecimento que o MPLA conta à revelia da verdade.
A primeira empreitada foi atribuída, por despacho assinado pelo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, de 4 de Julho à Tecnovia Angola, e envolve a reabilitação da estrada de acesso ao local da histórica batalha, com uma área total de 30.500 metros quadrados.
A empreitada, no valor de 2.041 milhões de kwanzas (10,7 milhões de euros), envolve ainda a reabilitação da Parada do Triângulo do Tumpo, neste caso com uma área de 11.628 metros quadrados.
No texto da adjudicação é referido que o Governo angolano pretende “conferir maior dignidade” ao local daquela batalha, que teve lugar em 1988, “assim como facilitar o seu acesso à população, bem como homenagear todos aqueles que participaram da mesma”.
Todos os que participaram na batalha? Não. Segundo o regime do MPLA na batalha participaram, entre outros, angolanos bons e angolanos maus. E, claro está, a homenagem é só para os angolanos bons, os das FAPLA.
A região insere-se no chamado “Triângulo do Tumpo”, considerado o ponto principal dos combates do Cuito Cuanavale.
Além da obra atribuída à Tecnovia, o Governo angolano escolheu a AFAVIAS, construtora de origem portuguesa, para a obra de contenção e estabilização das ravinas da pista do aeroporto do Cuito Cuanavale, a adjudicada pelo Ministério da Construção por 2.627 milhões de kwanzas (13,9 milhões de euros).
O Governo angolano, que se declarou vencedor da batalha do Cuito Cuanavale, propôs em 2016, na reunião do conselho de ministros da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), a instituição de 23 de Março como Dia da Libertação da África Austral.
MPLA oculta a verdade, isto é… MENTE
O Governo do MPLA, que está no poder desde 1975, continua a fazer de todos nós uns matumbos e, por isso, teima em mandar enxurradas de mentiras contra a nossa chipala. Recentemente, num país com 20 milhões de pobres, aprovou uma dotação de 2.240 milhões de kwanzas (12,3 milhões de euros) para pagar a conclusão do memorial sobre a histórica batalha do Cuito Cuanavale.
A informação consta de uma autorização do final de Abril de 2017 do então Presidente José Eduardo dos Santos (no poder há 38 anos sem nunca ter sido nominalmente eleito), na forma de decreto, permitindo a abertura de um crédito adicional ao Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2017 “para suportar as despesas relacionadas com a conclusão da construção do Memorial à Vitória à Batalha do Cuito Cuanavale”.
Além da evolução da situação política e militar em Angola, a batalha do Cuito Cuanavale é considerada como decisiva na independência da vizinha Namíbia, concluída em 1990, então ocupada pela África do Sul e após ter sido colónia da Alemanha.
Tal como Hitler, mentir, mentir sempre
A rapaziada dirigente do MPLA (na sua maioria generais de alto gabarito – se o diapasão for Bento Kangamba) continua a não tomar a medicação correcta para a sua crónica megalomania fantasista, ou anda a fumar coisas estranhas. Indiferentes aos 20 milhões de pobres, prepararam a fanfarra, os palhaços e os restantes bobos da corte para inaugurar o que chamam de “Memorial sobre a Vitória da Batalha do Cuito Cuanavale, província do Cuando Cubango”, em homenagem – dizem – à bravura dos heróis de 1988.
Este Memorial, tal como foi concebido e idolatrado pelos mercenários do MPLA (João Lourenço incluído), mais não é do que uma (mais uma) enorme mentira do regime e restantes malandros que, assim, continuam a tentar reescrever a história.
Segundo o Pravda, insuspeito órgão oficial de propaganda do regime, “um imponente edifício de aproximadamente 35 metros de altura, sob a forma de pirâmide, erguido de raiz logo à entrada da sede municipal do Cuito Cuanavale, com a denominação de “Monumento Histórico”, é sem margem de dúvidas a maior dádiva do Governo angolano para honrar a memória de todos aqueles que lutaram para defender aquela localidade da ocupação sul-africana”.
Não se sabe, embora eles saibam, onde é que o regime do MPLA (por sinal no poder desde 1975) quis e quer chegar ao construir monumentos que enaltecem o contributo dos angolanos que consideram de primeira (todos os que são do MPLA) e, é claro, amesquinham todos os outros.
Talvez fosse oportuno, e aí sim verdadeiro, construir um monumento aos milhares e milhares de vítimas do massacre que o MPLA levou a cabo no dia 27 de Maio de 1977.
Importa, contudo, desmistificar as teses oficiais que não têm suporte histórico, militar, social ou qualquer outro, por muito letrados que sejam os mercenários contratados para vender lussengue por jacaré. Apenas têm um objectivo: idolatrar uma mentira na esperança de que ela, um dia, seja vista como verdade.
De acordo com o pasquim do MPLA (também chamado Jornal de Angola), “logo à entrada do pátio do monumento histórico, o visitante tem como cartão de visita uma gigantesca estátua de dois soldados, sendo um combatente das ex-FAPLA e outro cubano, com os punhos erguidos em sinal de vitória no fim dos combates da já conhecida, nos quatro cantos do mundo, “Batalha do Cuito Cuanavale”, que se desenrolou no dia 23 de Março de 1988”.
Não está mal. A (re)conciliação nacional não se solidifica glorificando apenas e só os angolanos de primeira (MPLA/FAPLA) e os seus amigos, os cubanos. Mas, também é verdade, que o regime angolano está-se nas tintas para os angolanos de segunda (afectos à UNITA ou simplesmente distantes do MPLA). Até um dia, como é óbvio.
Diz o Pravda que a batalha do Cuito Cuanavale terminou “com uma retumbante vitória das FAPLA e das FARC (Forças Armadas Revolucionárias de Cuba)”.
Importa por isso, ontem como hoje e amanhã, perceber o que leva o MPLA a comemorar esta batalha.
Visivelmente, o regime continua a ter um medo de morte da verdade e aposta na criação de focos de tensão na sociedade angolana, eventualmente com o objectivo de levar acabo uma das suas especialidades: massacres gerais (tipo 27 de Maio de 1977) ou selectivos como em Junho de 1994, quando a aviação do regime destruiu a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores, ou quando entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, bombardeou indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.
Sabendo que a UNITA considera ter vencido essa batalha, comemorá-la como se fosse uma vitória das forças do MPLA, russas e cubanas visa provocar a UNITA, para além de ser um atentado contra a verdade dos factos.
Além disso, é hábito do MPLA tentar adaptar a História às suas necessidades. Se alterar a História resultou parcialmente no passado, com a globalização e os trabalhos científicos que vão surgindo, não funciona. O regime ainda não aprendeu. Continua a seguir a máxima nazi de que se insistir mil vezes numa mentira ela pode ser vista como uma verdade. Mas não funciona.
A batalha do Cuito Cuanavale começou em Setembro de 1987, com uma ofensiva das forças coligadas FAPLA/russos/cubanos tentando chegar à Jamba. Um exército poderosamente armado, com centenas de blindados e tanques pesados, artilharia auto-transportada e outra, apoiado por helicópteros e aviões avançaram a partir de Menongue.
Depois da batalha, o General França Ndalu, veio dizer a um jornalista que o objectivo não era esse, mas sim cortar o apoio logístico à UNITA. O que é visivelmente uma fraca desculpa, porque o apoio logístico era feito de sul e do leste para a Jamba e nunca entre o Cuito Canavale e o rio Lomba.
Pela frente a coligação comunista encontrou a artilharia e a infantaria da UNITA (FALA), organizada em batalhões regulares e de guerrilha, apoiados por artilharia pesada das forças sul-africanas. Com o avolumar da ofensiva, a África do Sul colocou na batalha mais infantaria, blindados e helicópteros.
A batalha durou mais ou menos seis meses. As forças FAPLA/russos/cubanos, com dezenas de milhares de homens na ofensiva, não conseguiram passar do Cuito Cuanavale.
Segundo os analistas imparciais, as perdas dos dois lados foram as seguintes:
Do lado UNITA/África do Sul – 230 militares da UNITA, 31 sul-africanos, 3 tanques, 5 veículos, 3 aviões de observação.
Do lado FAPLA/russos/cubanos – 4.600 homens (dos quais não se sabe quantos foram russos, cubanos ou soldados das FAPLA, mas segundo os arquivos russos, já consultáveis, as perdas russas nesta batalha poderão ultrapassar a centena), 94 tanques, 100 veículos e 9 Migs.
A batalha acabou em Março de 1988 com a retirada das forças FAPLA/russos/cubanos para Menongue.
As consequências foram diversas. O exército cubano aceita retirar-se de Angola. A África do Sul aceita que a Namíbia ascenda à independência, desde que os seus interesses económicos não sejam tocados, que a Namíbia continue dentro da união aduaneira que tem com a RAS e que o porto de Walbis Bay (o único da Namíbia) continue a ser administrado pela RAS.
O MPLA aceita finalmente entrar em negociações com a UNITA (o que viria a acontecer em Portugal), aceita o pluripartidarismo, aceita as eleições.
E a UNITA, o que teve de ceder? Nada. Os seus bastiões continuaram intocados, nenhuma linha logística foi tocada, o seu exército não teve perdas, em homens e material, significativas.
Mais ou menos um ano mais tarde, e já na mesa das negociações, o MPLA tentará uma segunda ofensiva, de novo com milhares de homens, tanques, veículos, helicópteros e aviões. Foi a chamada operação “Ultimo Assalto”, e mais uma vez foi derrotado, desta vez sem os sul-africanos estarem presentes.
Em resumo, se houve vencedores, não foram as forças do MPLA e os seus aliados. Então o que comemora o MPLA? Nada a não ser o que a sua propaganda inventa.
As mentiras ditas por João Lourenço
Em 2016, o ministro angolano da Defesa, João Lourenço, homenageou o povo cubano no Triângulo de Tumpo, província de Cuando Cubango, pela sua permanente solidariedade e contribuição na vitória de Cuito Cuanavale.
“Agradeço em nome de todo o povo angolano ao povo cubano, pois nos momentos mais difíceis esteve sempre, ombro a ombro, com o povo angolano”, disse João Lourenço.
João Lourenço, hoje presidente da República, destacou a participação dos internacionalistas cubanos nas principais batalhas travadas no país, acrescentando que o povo cubano esteve na luta pela independência e defesa da soberania nacional, que lhe conferiu o direito natural de ser parte do diálogo quadripartido até os acordos de Nova Iorque. Ou seja, o Presidente da República mudou, mas a filosofia da mentira continua a ser a grande máxima do regime. É caso para dizer que podem mudar as moscas mas que tudo o resto ficará na mesma.