O Governo angolano admitiu hoje que Portugal vai ter um papel “crucial” na diversificação da economia de Angola (certamente rezando à Mamã Muxima para que nenhum empresário português recorde como era a nossa economia em 1973/74) e renovou os apelos aos empresários lusos para investirem em força no país.
Em declarações aos jornalistas em Benguela, onde decorreu o Fórum Empresarial Angola/Portugal, o ministro de Estado e do Desenvolvimento Económico e Social angolano, Manuel Nunes Júnior, lembrou (mentindo em função da realidade) que o Governo do MPLA está a combater “seriamente” a dependência excessiva do petróleo nas exportações, equivalente a mais de 90% do valor global e 70% das receitas tributárias.
“Todos os problemas que se colocam em Angola têm sempre a ver com os preços do petróleo no mercado internacional, que é sempre imprevisível. Estamos a lutar seriamente para combater essa dependência e Portugal pode ajudar muito e ter um papel crucial nesse caminho”, sublinhou Manuel Nunes Júnior, à margem do evento, realizado no âmbito da visita que o chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, está a realizar a Angola.
O governante angolano destacou sobretudo as áreas da agricultura e da agro-indústria, sectores sobretudo do ramo alimentar, com o qual Angola “gasta anualmente recursos bastante acentuados”, para importar.
“Se conseguirmos produzir esses produtos localmente teremos dois ganhos: em recursos externos, em divisas, que poderão ser utilizadas em áreas mais estratégicas, e, por outro lado, ganhamos emprego internamente e combatemos o desemprego. Essa questão da diversificação é crucial para o nosso desenvolvimento”, insistiu, quase como se estivesse a registar a patente da descoberta da pólvora.
Recorde-se que enquanto província ultramarina de Portugal, era auto-suficiente, face à diversificação da economia.
Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.
Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.
Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.
Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.
Mas voltemos à propaganda oficial. Manuel Nunes Júnior também referiu o turismo, sector em que, disse, “Portugal tem muita experiência” e em que pode também ajudar a desenvolvê-lo em Angola, “que tem também um grande potencial turístico”.
“Queremos que seja mais acentuada a participação dos empresários portugueses. Queremos o investimento para que possamos, nos próximos cinco a dez anos, ter resultados muito palpáveis na diversificação económica. Mais do que retórica precisamos de acções concretas que façam com que Angola possa crescer nos próximos cinco a dez anos e Portugal pode desempenhar aqui um papel crucial”, insistiu.
Cá por nós, “mais do que retórica precisamos” do governantes competentes, das despartidarização do Estado/MPLA que, assim, permita a institucionalização do primado da competência e não da subserviência, como acontece há quase 44 anos.
Segundo o ministro, os dados que Angola apresenta nesse domínio até agora “não são desejáveis”. “Quando um país tem mais de 90% da sua exportação concentrada num só produto, quando tem mais de 70% das receitas tributárias dependente de um só produto, isso é uma situação de grande dependência. Queremos alterar isso radical e rapidamente. Por isso é que estamos aqui a apelar para que haja esse investimento de investidores portugueses, que trarão ‘know-how’ e tecnologia para nos apoiar, pois é fundamental que as coisas sejam feitas por aqueles que sabem fazer e que o podem fazer com rapidez”, sublinhou Manuel Nunes Júnior.
Será que este ministro só agora chegou ao país? Vejamos. Entre 1976 e 1978 foi Membro da Comissão Directiva da JMPLA no Lobito. 1983 a 1986: Membro Fundador e Primeiro Presidente da Associação dos Estudantes do Ensino Superior (AEES). 1984: Colaborador da Comissão da Assembleia do Povo para a Educação, Cultura, Desporto, Juventude e Religiões. 1986 a 1991: Director da Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto. 1998: Membro Fundador e Coordenador da Célula Única do MPLA na Inglaterra. 1999 a 2002: Presidente do Conselho de Administração da ENANA. 2002 a 2003: Vice-Ministro das Finanças. 2003: Secretário do Bureau Político do MPLA para a Política Económica e Social. 2008 a 2010: Ministro da Economia. 2010: Ministro de Estado e da Coordenação Económica. 2012 a 2017: Presidente da 5.ª Comissão-Comissão de Economia e Finanças.
“Temos de ir buscar aquilo que de melhor se faz no mundo das novas tecnologias”, disse o ministro, numa adenda à patente da pólvora.
Manuel Nunes Júnior desdramatizou a “já actual não questão” relacionada com as dívidas do Estado angolano às empresas portuguesas, repetindo que o processo está a andar a “grande velocidade” e que deverá estar concluído “em breve”.
“Neste momento estamos a dar passos muito seguros para a resolução da situação. Já se falou muito sobre isso. Relembro que mais de dois terços da dívida reclamada já está certificada pelo Ministério das Finanças e que, desta dívida reclamada e certificada, mais de 60% já está paga. Em sete meses”, frisou.
Manuel Nunes Júnior destacou que o Governo angolano está a tomar medidas internas para que se evite novas acumulações de atrasados, lembrando que “toda a gestão fiscal” está a ser feita nesse sentido, com o apoio do programa existente com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Sobre o fórum empresarial luso-angolano, Manuel Nunes Júnior salientou que o facto de ser o terceiro a ser realizado no espaço de sete meses “diz tudo” sobre a importância que os dois países estão a dar às relações económicas.
“Tendo realizado os três fóruns, queremos passar à fase prática, que é começar a ver investimentos de Portugal em Angola que não estejam ligados ao sector petrolífero. A ideia é trabalharmos para substituir as importações, promovermos as exportações e fazer com que deixemos de estar dependentes de um único produto de exportação. Mais, a exportação de um produto cujo preço não controlamos”, acrescentou numa adenda à adenda anterior.
Folha 8 com Lusa
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