O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, levou hoje mais de duas horas a saudar o povo do Lubango, percorrendo lentamente os 11 quilómetros entre o aeroporto e o centro da cidade, onde foi recebido por uma multidão. Tal como, no tempo colonial, aconteceu com o seu “padrinho” Marcelo (Caetano).
“E u vim quase sempre no estribo do automóvel, vim do lado de fora, a agradecer, porque ao longo do caminho havia milhares de pessoas”, descreveu Marcelo Rebelo de Sousa, quando finalmente chegou à sede do Governo Provincial da Huíla, no sul de Angola.
Era ali que a maior parte da sua comitiva e a comunicação social que o acompanha nesta visita de Estado a Angola o aguardavam, sob um sol forte, assim como os cerca de 20 elementos do Kataleco, um grupo cultural que tocou e dançou toda a manhã à espera do chefe de Estado português, que nunca mais vinha.
Várias centenas de pessoas amontoaram-se, entretanto, na beira da estrada, alguns metros adiante, e Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu-se de imediato até elas, à chegada, ficando rodeado por uma multidão de gente que se atropelava para estar perto dele.
No meio dessa confusão, falou aos jornalistas, a quem relatou o seu lento percurso desde o aeroporto, com paragens sucessivas para cumprimentar a população, considerando que a forma como foi recebido no Lubango “é excepcional, ultrapassou tudo”.
“Vinha dependurado porque, como o carro é blindado, não dá para abrir a janela. Portanto, eu abri a porta e vim com um pé no estribo, e outro nem sei bem aonde, e uma mão a segurar”, explicou, acrescentando: “Realmente, demorámos muito, muito tempo”.
“Agora o programa está desfeito”, observou, enquanto caminhava apressado para a sede do Governo Provincial da Huíla, passando em frente do edifício do Comité Provincial da Huíla do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), onde havia alguns funcionários na varanda, a quem Marcelo Rebelo de Sousa acenou e enviou beijinhos.
Ali perto, estava um cartaz com a cara de João Lourenço e a seguinte “Mensagem do Presidente” de Angola: “Os males a corrigir e não só, mas sobretudo, a combater são a corrupção, o nepotismo, a bajulação e a impunidade”.
Antes de entrar na sede do Governo da Huíla, o chefe de Estado português ainda viu dançar os Kataleco, termo da língua nhaneca que significa “Vá observar”, mas Marcelo não parou para ver durante muito tempo. Também de passagem, cumprimentou uma fila de crianças com bandeiras de Portugal e de Angola que repetiam: “Seja bem-vindo, seja bem-vindo”.
Com um atraso de duas horas e meia, o chefe de Estado teve um encontro com o governador da Huíla, Luís da Fonseca Nunes, empresário ligado à agro-pecuária – sector com potencial nesta região e que o Governo de João Lourenço tem apontado como estratégico na diversificação da economia angolana.
Depois, saiu a pé até à antiga estação de comboios e dali seguiu para dar uma palestra sobre direito na Universidade Mandume Ya Ndemufayo, o último rei dos cuanhamas, povo do sul de Angola e norte da Namíbia, que se opôs ao poder colonial português, no início do século XX.
Dirigindo-se aos alunos, Marcelo Rebelo de Sousa adaptou um excerto da canção de Zeca Afonso “Grândola, Vila Morena” para resumir a sua chegada ao Lubango: “Em cada esquina, milhares de amigos”.
Foto: Marcelo Caetano em Angola, 1973
Folha 8 com Lusa
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