O presidente João Lourenço levantou, dissemo-lo várias vezes, alto (bem alto, embora a altura não seja sinónimo de eficiência e adequação às necessidades), a promessa, ou estratégia, de combate à corrupção. Foi meritório, em tese. Era mesmo isso que todos esperávamos, que todos continuamos a esperar.
Por William Tonet
Mas o grande problema foi, e é, o de a teoria da estratégia nem sempre (foi o caso) se coadunar com a realidade pragmática de um país gerido pelo mesmo partido desde a independência, onde os seus principais responsáveis blindaram, neste caso, a corrupção, tornando-a quase inexpugnável e, dessa forma, afastando todos quantos a queiram combater.
A luta (até lhe podemos chamar guerra) contra a corrupção em Angola está a ser conduzida de uma forma enganosa, deliberadamente ou não, que falseia a realidade e criminaliza todo um Povo que nada tem a ver com ela.
De facto, esta luta protagonizada por João Lourenço dá a sensação de que a corrupção é algo congénito no país quando – como muito bem sabe, até por experiência própria, o próprio Presidente – o seu epicentro esteve, está e parece continuar a estar no MPLA. Apenas e só no MPLA.
O próprio João Lourenço demonstra isso mesmo ao direccionar o combate cerrado contra os seus antigos camaradas, com quem tinha desinteligências. Mas as desinteligências, que se tornaram públicas com a chegada ao Poder, resultam de visões diferentes, antagónicas, quanto à racionalidade e transparência da gestão do país, ou apenas correspondem a mais do mesmo? Isto é, substituir alguns dos poucos que têm muitos milhões, mantendo tudo na mesma para os muitos milhões que hoje, tal como ontem, nada têm?
De facto, se ao longo de 43 anos o MPLA nada mais nos conseguiu dar do que a prova, inequívoca e mensurável, da sua criminosa incompetência, da sua canibalesca forma de alguns roubarem o que a todos devia pertencer, o mal não está no pacífico Povo angolano mas, apenas e só, no partido que nos desgoverna desde 1975, o MPLA.
O problema é o programa do MPLA, que não deve merecer a confiança dos angolanos, se bem que aos mais de 20 milhões de pobres criados pelo MPLA seja difícil pensar sem ser com a barriga. Na verdade, até mesmo para bem do MPLA, um real combate deve levar os eleitores a considerar João Lourenço como líder de uma nova força politica, nova depois da destruição do mal maior do país; o partido do regime, que ora preside, mas não parece orgulhar-se, tal a sujeira em que navega…
Os membros, a maioria dos seus dirigentes, principalmente, a maioria do comité central e do bureau político, são covardes e tal como ontem metem o rabo entre as pernas, diante do líder, ao invés de o criticar nos excessos, mesmo quando está o partido e o país a definhar. Não fossem esses membros autómatos ao serviço, exclusivo e bajulador, de quem está no Poder, e saberiam que um líder sério prefere ser salvo pela crítica do que assassinado pelo elogio.
Mais grave, na actual onda de processos de combate à corrupção com viés político ao invés de jurídico, a PGR surge como uma muleta do Titular do Poder Executivo, que tudo controla e a todos órgãos pode manietar, por deter o poder absoluto. Um presidente não tendo órgãos de contra poder, abeira-se ou navega em barcos da ditadura, logo a salvação do país, reside ou residiria se os demais, principalmente, o órgão legislativo, assumisse o seu verdadeiro papel de fiscalização da actividade do TPE e da Constituição e das leis, mas este, também, está domado e os seus integrantes, pensam mais nas vaidades umbilicais do que no país e nos milhões de pobres.
No actual contexto, ninguém visualiza, no partido no poder, um deputado corajoso e defensor de um verdadeiro programa de combate à corrupção de pendor jurídico ou capaz de apontar caminhos para a lei actuar e a Constituição respeitar. Todos, qual sublime traição ao eleitor, parecem ambicionar, nomeação para qualquer coisa que lhes permita gerir, não a ética, a moral, nos órgãos públicos, não os tostões da dignidade, mas os milhões da perversão e depravação do erário público.
Neste momento, a coragem de João Lourenço não deve ser minimizada, até por conseguir colher simpatia na comunidade internacional de direita, que aplaude líderes dos países subdesenvolvidos submissos aos desígnios das suas organizações financeiras. Estas “oferecem” pacotes de ajuda monetária, que não passam de “algemas” controleiras, para subjugar a economia e poder político dos respectivos países.
Nesta fase de implantação da “agenda lourenciana”, de combate à corrupção, o pecado capital é o de não criando emprego (prometidos 500 mil, na campanha eleitoral), estar a meter “MEDO AO DINHEIRO” e, quando uma liderança age dessa forma, a interpretação geral pode ser ou de cegueira ou de irresponsabilidade política, porquanto o dinheiro, atemorizado, esconde-se, esvai-se, nas profundezas do submundo e, não embarca de nenhum porto ou aeroporto, para o país, salvo para hipnotizar ainda mais o regime, a ser submisso, com as elevadas taxas de juros, que colonizam a soberania dos povos.
Mais grave ainda é quando não se aproveita o potencial financeiro interno, para que este possa alavancar, não só o emprego como a economia, mas se atenta contra quem pode gerar empregos e estabilidade social.
Seria bom o Titular do Poder Executivo controlar muitos dos excessos de combate à corrupção, por violadores da Constituição e das leis, dando-lhes um cariz verdadeiramente jurídico e de abrangência político-partidária, comprometendo os políticos de todos os quadrantes, para fazerem dela (corrupção) um compromisso de engajamento geral, qualquer que seja o regime, visando emprestar a ética e a moral, na função pública.
Finalmente, João Lourenço com coragem ímpar, está a despertar os angolanos a não mais continuarem a apostar e confiar, votando no MPLA, por estarem os autóctones, diante de uma “quadrilha partidária”, que nos governa há 43 anos, com o desplante (segundo o actual líder) de incluir nas listas de deputados, alegadamente, corruptos, ladrões e vilões, com apetência voraz de meter a mão na massa, locupletando dinheiro público.
Por tudo isso e por a corrupção ser sistémica no MPLA, este partido, para higiene intelectual e moral da sociedade, deverá, também, ser levado ao banco dos réus, por inclusão de “gentalha indigna”, que desqualificou os órgãos do poder e afundou o país e a maioria dos 29 milhões de autóctones.