O primeiro direito do ser humano deve ser a liberdade de olhar com olhos de ver, para saber diminuir, da mãe, a magia do cordão umbilical e somar a fecundação, de dois, que resulta (regra geral), em três, multiplicação perfeita da Educação.
Por William Tonet
A criança capaz de farfalhar, no seu tempo, no tempo certo, as vogais e as consoantes das letras mãe e pai, demonstra a prioridade do governo de um país responsável, ao lidar com a maior ferramenta do Estado: Educação!
Infelizmente, Angola, 43 anos depois, continua a ser um país ruim, para a maioria das crianças nascer, face ao que muitos, legítima ou ilegitimamente, consideram, irresponsabilidade, responsável de um regime, cujo programa manda para a sarjeta, o que deveria ser uma Educação Pública, capaz de alavancar o desenvolvimento futuro do país.
Agir contrariando a lógica é apostar no prolongamento e massificação do analfabetismo, que perdura e justifica a demotadura (democracia+ditadura, onde esta prevalece), sendo ela a perfeita estratégia do regime para cimentar e blindar a longevidade no poder.
O leitor deverá estar a perguntar-se a razão desta introdução. Ela vai ao encontro do grito de Ipiranga de muitos professores, relativo a uma medida, eventualmente, bem intencionada, mas assente na lógica da bestialização, que o TPE (Titular do Poder Executivo), quiçá, mal aconselhado, tomou de encerrar os Institutos Médios de Educação, vocacionados para a formação de professores, principalmente, dirigidos ao ensino primário e secundário.
É a lógica da batata na lógica da batota pois, ao que tudo indica, poderá acentuar-se ainda mais a discriminação no ensino fundamental, principalmente se tivermos em conta o tempo de formação de um técnico superior e se os actuais professores com o ensino médio tiverem de deixar de leccionar. Se for esse o objectivo verificar-se-á mais um flagrante atraso educacional (e com ele também civilizacional), por quanto a aprendizagem inicial depende do gosto, da paixão e tesão pela pedagogia do ensino e nem todos os licenciados, doutorados ou catedráticos têm habilidades para transmitir conhecimentos.
O país, precisa urgentemente de quadros alfabetizados, gente que saiba escrever minimamente e seja capaz de ler a Constituição, bíblia onde repousam os seus direitos e deveres de Cidadania.
O analfabeto é como um cego que não vê, andando ao sabor do vento, sendo facilmente manipulado e colocado na marginalidade das grandes decisões.
Uma criança com seis anos, principalmente as do interior, devem aprender a ler e a escrever, correctamente na língua angolana, com professores da região que, gradualmente, lhes vai transmitir, também, o domínio da língua portuguesa, para não terem um “choque térmico” de imposição de uma, quando eles desde criança, brincam, sonham e fazem planos na língua angolana e, na maioria das vezes, não havendo um estágio, entre uma e outra, se verifica um elevado índice de reprovação.
Os resultados do choque não têm sido positivos, muito por os dirigentes terem vergonha de assumir, não ser a língua portuguesa a pátria da maioria dos angolanos.
É hora de todos juntos, partido no poder, oposição, sociedade civil, intelectuais de todas as matizes, darem as mãos e verem quais as melhores opções para a Educação, depois da realização de uma ampla “Assembleia Nacional Sobre o Ensino e Educação do Futuro; Caminhos e Perspectivas, para Angola”.
A lógica & a besta
Um regime quando estratifica o grau para um professor ensinar as primeiras palavras do alfabeto e as contas de somar, a uma criança, não pode ser racional ou agir no seu juízo perfeito.
Um país com tantas debilidades de quadros, expressa na má qualidade, até na maioria dos governantes, não pode arrogar-se em fazer leis decorativas, com exigências absurdas.
Se um professor para o ensino de base tiver a obrigação de licenciatura superior, o que se exigirá de alguém que tiver de ser indicado a ministro, deputado e presidente da República? É bom sonhar tapar o sol com a peneira, mas a realidade demonstra o contrário, os quadradinhos não impedem a sua passagem.
Actualmente, é importante a massificação do ensino, para se tirar do obscurantismo cerca de 8 milhões de crianças, que nem sabem o que é um quadro, uma carteira, uma escola e um professor, por exclusão do sistema de ensino.
O Katchiungo, Longue, Luvemba, Belize e tantas outras regiões, sanzalas, bwalas, deste nosso sofrido torrão, sem jovens com formação superior, os de ensino médio, não poderão candidatar-se à docência das criancinhas das sanzalas?
Isso poderá ser interpretado como sapiência maléfica de quem quer prejudicar, mais do que ajudar o Estado, demonstrando não ter um programa e noção sobre o país real e as suas valências.
Numa simples equação, rememorando no tempo, urge perguntar: quantos dos actuais governantes, foram instruídos, na cabunga (ensino primário e secundário), no tempo colonial, por professores universitários? A resposta é óbvia. Nenhum!
Outra, mais surpreendente e que envergonha muitos dos actuais doutores. Quantos velhos de ontem (com a 4.ª classe), são exímios conhecedores da gramática, escrita, aritmética, geografia, física, oratória, superando milhares de universitários de hoje?
Esses mesmos, sem formação superior, receberam o galardão, do bem saber, da mão de regentes agrícolas, técnicos industriais e de contabilidade (ensino médio), a maioria formada em antigos Magistérios Primários, que depois palmilhavam as interioridades ribeirinha e litoral, como grandes mestres e professores, que semeavam o saber, nas mentes, dos meninos do interior.
Hoje quantos licenciados do ensino superior sabem a tabuada, uma ferramenta que antes as crianças iam a cantar para a escola? As debilidades são gritantes e não repousam, sempre no nível académico dos professores, mas na metodologia e falta de programas coerentes e rigorosos do governo.
Reduzir a formação de professores em Angola para o ensino pré-escolar, primário e do primeiro ciclo do ensino secundário, exclusivamente a quem tenha licenciatura superior pode ser um engodo, porquanto graduados há, que deixam muito a desejar, até mesmo, na cúpula do próprio Ministério da Educação.
Seria bom, que as criancinhas pobres aprendessem o Bê-a-ba, com professores do ensino superior, mas ainda assim, não estaria, a maioria, ao mesmo nível dos filhos dos governantes, que estudam em escolas estrangeiras, em Angola, ou no exterior do país.
Daí ser prudente não se exagerar na dose, quando a maioria dos países mais desenvolvidos, não ousa seguir esse caminho. Deve-se ter em conta a insuficiência de quadros nas províncias, para além dos muitos eventualmente, disponíveis, face ao baixo salário, falta de condições e incentivos, no interior do país, se negarem à fixação.
Não é prudente descurar em cada reforma a realidade do país. Dói dizer isso, mas seria bom pelo menos imitar o que fazia o colono português, quanto ao respeito, nos últimos tempos, dos rituais sagrados, dos povos autóctones, em determinadas épocas do ano.
Quando um ministro da Educação de um país como Angola desconhece os períodos dos grandes eventos tradicionais, como “o Fiko ou casa das tintas”, cerimónias para a puberdade das meninas e a “circuncisão” (corte do excesso da pele do pénis) nos rapazes, estendendo o ano escolar, para lá de Junho e Julho, significa dizer que o colono respeitava mais as culturas de muitos povos pretos do que fazem, actualmente (43 anos depois) os negros que estão no poder, num claro assassinato a cultura, tradição e ensinamento.
A nobreza de uma medida com implicação na vida do cidadão deve ser aferida pelo estudo minucioso da realidade vigente. Queremos elevar o nível dos professores? Correcto, mas deve ser baseado num levantamento dos recursos humanos e materiais disponíveis, bem como a sua fixação e disponibilidade.
É preciso a massificação de escolas técnicas, porque o país está carente de electricistas, canalizadores, serralheiros, técnicos de contabilidade, de Administração e Finanças, indispensáveis para alavancar o desenvolvimento regional. Um país para crescer de forma harmoniosa, precisa de quadros de todos os níveis, tal como fazem as maiores potências mundiais, como os USA, China, Rússia, Israel, Inglaterra, Alemanha, França, África do Sul, China, etc..
Definitivamente as crianças no interior correm um sério risco, de num futuro próximo, não poderem soletrar as letras, nem contar as nuvens do céu, porque os universitários se recusaram a ir ensinar, por falta de condições, na Angola Profunda.
Isso é um crime, não dos professores, mas de quem limitou a sua acção, no caso, por falta de governo, o Titular do Poder Executivo.