Polícias jornalistas, jornalistas polícias

O reforço do diálogo entre a Polícia Nacional e os diferentes (veremos qual é o exacto significa de “diferentes”) órgãos de comunicação social foi recomendado pelos participantes ao Iº Seminário Metodológico de Segurança Pública e Critérios de Abordagens Jornalísticas das Matérias Policiais que decorreu em Ndalatando, Cuanza Norte.

O encontro, que decorreu durante três dias, subordinou-se ao lema: “Comunicação eficiente, segurança garantida”, recomendou igualmente à corporação que deve facilitar o acesso à informação aos órgãos de comunicação social, bem como promover encontros regulares de intercâmbio entre a Polícia e os jornalistas.

A descentralização da comunicação institucional a nível dos comandos municipais da corporação, visando facilitar a divulgação do trabalho da instituição pelos médias locais, foi também recomendado.

Foi também aconselhado maior qualidade e rigor na abordagem das matérias criminais pelos jornalistas, a fim de se evitar o crescimento do sentimento de insegurança nas populações, bem como acções contínuas de educação dos cidadãos. Ou seja, os jornalistas devem ser formatados para fazerem propaganda e não jornalismo.

Durante o evento, os participantes abordaram temas como “O quadro e análise do contexto da segurança pública na província”, “Políticas públicas de segurança e a intervenção das polícias”, “A polícia, o SIC e o Ministério Público vs atribuições e âmbito de actuação” e “ O modelo de apresentação de suspeitos de crimes e sua implicância nos direitos de personalidade e de informação”.

“A opinião pública e a sua interferência perante as decisões dos tribunais (Uma abordagem dos crimes mediáticos)”, “A comunicação institucional e o seu posicionamento perante as exigências da comunicação social”, também constaram do debate.

O seminário teve como objectivo o aprimoramento dos conhecimentos sobre as questões de segurança pública, reflectir sobre o papel da Imprensa no combate à criminalidade e gestão de informação tendo como fundamento o valor da segurança e o respeito pelo regular exercício dos direitos fundamentais.

Na sessão de encerramento, o comandante provincial interino da Polícia Nacional, subcomissário David Cabaça, referiu que a acção formativa reforça os mecanismos de cooperação institucional e de prestação de um serviço aceitável e de interesse dos cidadãos.

Participaram no evento membros do Conselho Consultivo Alargado do Comando Provincial da Polícia Nacional, efectivos do MININT, jornalistas dos órgãos de comunicação social sedeados na província, estudantes da Escola Superior Pedagógica do Cuanza Norte e dos Complexos Escolares Santa Maria Goretti e Comandante Benedito.

O evento foi promovido pelo Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa do Comando Provincial da Polícia Nacional no Cuanza Norte.

Bem que, de uma vez por todas, a Polícia (e o exemplo é extensível a todos os organismo do Estado) deveria fazer um acordo nesta matéria: Os jornalistas não devem ser polícias e os polícias não devem ser jornalistas. Se cada “macaco” estiver no seu galho, o trabalho final será o mais eficaz e correcto.

Mi(ni)stério de Comunicação Social

O problema está em que os “macacos” estão em galhos trocados. Por exemplo, em Agosto foi anunciado que o Ministério da Comunicação Social “vai coordenar a acção da criação de um núcleo, de aproximadamente 150 activistas, que vão efectuar visitas casa a casa, para sensibilizar as famílias residentes nos arredores da lagoa da Kilunda, no âmbito do programa de prevenção e combate à cólera”. Como qualquer cego vê, esta é mesmo uma missão para a equipa de João Melo e companhia.

O Ministério dirigido por João Melo tem muito pouco para fazer na sua área? Parece que sim. Um dia destes vamos ver o Ministério da Saúde “a coordenar a acção da criação de um núcleo” para tratar da saúde à ERCA e ensinar alguns escribas a contarem até 12 sem terem de se descalçar.

A informação foi, afirmou na altura a Angop, passada pelo secretário de Estado da Comunicação Social, Celso Malavoloneke, no final de uma visita interministerial realizada à lagoa da Kilunda, comuna da Funda, no Cacuaco, para avaliar as condições de saneamento e meios existentes naquela região, depois de um teste positivo da água com vibrião colérico.

Na verdade, reconhecemos, a equipa de João Melo esteve (neste caso) no seu meio natural – o saneamento. Por outras palavras, na falta dele. Aliás, tudo quanto tenha a ver com a falta de higiene (física e mental) é o ambiente propício ao desenvolvimento da… comunicação social do Estado/MPLA.

Celso Malavoloneke “destacou a grande importância económica da lagoa da Kilunda para as famílias ribeirinhas, por ser fonte de sobrevivência, não só por ser fonte de alimentos, mas também pelos rendimentos obtidos com a venda do pescado”. Como se vê, esta acção enquadra-se nas atribuições deste Ministério, nomeadamente na que diz “desempenhar outras tarefas superiormente acometidas decorrentes da actividade própria que lhe é inerente”.

Provavelmente, até por uma questão de coerência metodológica e patriótica, a direcção desse grupo de activistas ficará a cargo do presidente da ERCA – Entidade Reguladora da Comunicação Social do MPLA, o perito híper multifacetado nas questões putrefactas e lodaçais, Adelino de Almeida.

O adjunto do mestre João Melo referiu que as estratégias que têm funcionado em outros lugares seriam implementadas na Funda e onde for necessário, “vai-se pedir ajuda aos parceiros sociais, como o Unicef, para fornecer recipientes de conservação da água”. O que seria do país sem este Mi(ni)stério da Comunicação Social?

Celso Malavoloneke disse também que para além de fazer o rastreio, “deve-se efectuar acompanhamento e monitoramento e estar atento para que qualquer caso suspeito seja rapidamente encaminhado para a estrutura sanitária preparada para o efeito”. Que pérola. João Melo não diria melhor. Esta rapaziada foi mesmo escolhida a dedo por João Lourenço. Quem sabe… sabe!

Oh (mano) Celsinho!

Um jornalismo mais sério, baseado no patriotismo, na ética e na deontológica profissional, é o que o Ministério da Comunicação Social pretende para Angola. A tese (adaptada do tempo de partido único) é do secretário de Estado do sector, Celso Malavoloneke.

Convenhamos, desde logo, que só a própria existência de um ministério da Comunicação Social é reveladora da enormíssima distância a que estamos das democracias e dos Estados de Direito.

Quem é o secretário de Estado, ou o ministro, ou o próprio Titular do Poder Executivo para nos vir dar lições do que é um “jornalismo mais sério, baseado no patriotismo, na ética e na deontológica profissional”?

Mas afinal, para além dos leitores, ouvintes e telespectadores, bem como dos eventuais órgãos da classe, quem é que define o que é “jornalismo sério”, quem é que avalia o “patriotismo” dos jornalistas, ou a sua ética e deontologia? Ou (permitam-nos a candura da nossa ingenuidade) com outros protagonistas e roupagens diferentes, estamos a voltar (se é que já de lá saímos) ao tempo em que patriotismo, ética e deontologia eram sinónimos exclusivos de MPLA?

Para alcançar tal desiderato, Celso Malavoloneke informou que o Ministério da Comunicação Social vai prestar uma atenção especial na formação e qualificação dos jornalistas, para que estes estejam aptos para corresponder às expectativas do Governo.

Como se vê o gato escondeu o rabo mas deixou o corpo todo de fora. Então vamos qualificar os jornalistas para que eles, atente-se, “estejam aptos para corresponder às expectativas do Governo”? Ou seja, serão formatados para serem não jornalistas mas meros propagandistas ao serviço do Governo, não defraudando as encomendas e as “ordens superiores” que devem veicular.

Celso Malavoloneke lembrou que o Presidente da República, João Lourenço, no seu primeiro discurso de tomada de posse, orientou para que se prestasse uma atenção especial à Comunicação Social e aos jornalistas, para que, no decurso da sua actividade, pautem a sua actividade pela ética, deontologia, verdade e patriotismo. E fez bem em lembrar. É que ministros e secretários de Estado também recebem “ordens superiores” e, por isso, não se podem esquecer das louvaminhas que o Presidente exige.

Aos servidores públicos, segundo Celso Malavoleneke, o Chefe de Estado recomendou para estarem abertos e preparados para a crítica veiculada pelos órgãos de Comunicação Social, estabelecendo, deste modo, um novo paradigma sobre a forma de fazer jornalismo em Angola.

Sejam implementadas as teses do ministro João Melo, que ao fim e ao cabo pouco diferem das anteriores, a não ser na embalagem, e os servidores públicos podem estar descansados que não haverá lugar a críticas da Comunicação Social.

Nós por cá vamos continuar a (tentar) dar voz a quem a não tem. Para nós a verdade é a melhor forma de patriotismo. E a verdade não está sujeita às “leis” do MPLA/Estado.

Vamos, em síntese, estar apenas preocupados com as pessoas a quem devemos prestar conta: os leitores. Se calhar, citando Celso Malavoloneke, não seremos tão patrióticos como o Governo deseja. Para nós, se o Jornalista não procura saber o que se passa é um imbecil. Se sabe o que se passa e se cala é um criminoso. Daí a nossa oposição total aos imbecis e criminosos. E, é claro, não temos culpa de a maioria dos imbecis e criminosos estar no MPLA.

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