Dezenas de trabalhadores da Empresa Nacional de Pontes de Angola, sem salários há 55 meses e suspensos em Maio, denunciaram hoje que estão a ser proibidos de frequentar as instalações da companhia estatal. É assim. Nada de novo, portanto.
“Não temos salário e não nos dizem nada. Não sabemos o porquê e agora o que nos espanta é mandarem-nos para casa, sem dinheiro e ainda por cima não temos direito de colocar os pés na empresa”, afirmou disse Domingas Ferreira, há 11 anos na empresa.
Agora, acrescentou, os trabalhadores não percebem se foram “expulsos” ou se a medida é “apenas para descansarmos e regressar seis meses depois”.
“Porque quem já não regressa é porque está definitivamente expulso”, critica.
A mesma “indignação” foi manifestada por Maria Neves, naquela empresa angolana de pontes há 18 anos, afirmando estar “agastada com as decisões” da direcção da empresa. “Já estamos cansados”, desabafa, sem adiantar mais.
No dia 16 de Maio foi noticiado que a direcção daquela empresa estatal angolana suspendeu 82 trabalhadores, mais de 70 em idade de reforma, e toda a comissão sindical, conforme denunciou o sindicato.
O primeiro secretário da comissão sindical daquela empresa pública, Mateus Alberto Muanza, que considerou na altura de “inaceitável, desumana e ilegal” a medida, tomada pela direcção da empresa, defende o pagamento dos salários em atraso. Agora, para o sindicalista, a nova medida da direcção em proibir a presença dos trabalhadores suspensos nas instalações da empresa de pontes, no município do Cazenga, arredores de Luanda, é igualmente “ilegal e antidemocrática”.
“Porque quando se fala de suspensão, não se pode interditar o trabalhador de não entrar ou circular na empresa. Agora quando a direcção proíbe de entrar porque estão suspensos, o nosso entender é que este é um despedimento, o que é uma decisão contra lei e os princípios da democracia”, sustentou Mateus Alberto Muanza.
Contudo, em declarações hoje à imprensa, o director-geral da Empresa Nacional de Pontes, José Henriques, confirmou a suspensão dos 82 trabalhadores, justificando a necessidade de rentabilizar a empresa, fruto de uma parceria com o consórcio formado por três empresas, de Angola e da China.
“Um processo que tem o aval do Ministério da Construção e Obras Públicas e corre o seu curso normal”, explicou.
Em relação à proibição dos trabalhadores suspensos não frequentarem as instalações da empresa, o responsável negou, argumentando que “apesar de não estarem proibidos devem ter consciência que a suspensão diz que eles devem ficar em casa”.
“Não é por rigor ou intransigência nossa, mas por uma questão de harmonização. Mas se tiveram alguma necessidade, se necessitarem dos nossos préstimos, estamos em inteira disposição, aliás, podem notar que alguns até vêm por este ou aquele motivo mas estão suspensos”, justificou.
Quanto à suspensão de todos os membros da comissão sindical, o administrador garante que não houve qualquer intenção específica.
“Suspendemos trabalhadores, naturalmente que alguns podem ser membros da comissão sindical, mas são nossos trabalhadores, por isso lamentamos, mas não há restrições. São nossos trabalhadores”, disse José Henriques.
O director da empresa angolana de pontes reconheceu ainda que suspender trabalhadores sem salários é uma medida que “cria uma convulsão social, mas é um passo necessário que tem de der dado”.
“E as nossas sinceras desculpas, já conversámos com os trabalhadores e eles entenderam. A medida é legal, dura e pesada mas tem de ser feita”, concluiu.
Folha 8 com Lusa