Angola está, continua a estar, embora nem todos tenham percepção disso, em cima de um barril de pólvora. Vários são os rastilhos que já estão, ou continuam, acesos embora, por enquanto, o lume ainda seja brando. Mas qualquer brisa pode ser suficiente para provocar a explosão.
Por Orlando Castro
Convenhamos que, por manifesta inépcia e falta de sentido de Estado, o Presidente da República está a contribuir para a implosão de Angola. Indiferente ao país real usa a farda de bombeiro mas o Povo começa a ver nele o que via no anterior, um pirómano.
Sabemos que, certamente por estar rodeado de muita mediocridade por todos os lados, tende como José Eduardo dos Santos a preferir ser assassinado pelos elogios dos seus bajuladores (muitos transitaram do elenco anterior) do que salvo pelas críticas dos que, por quererem bem ao país, também lhe querem bem.
Seja como for, ao contrário do que acontecia com o Presidente Eduardo dos Santos (e tememos que esteja a acontecer com João Lourenço), nós sabemos que a verdade dói, às vezes dói muito, mas temos a certeza de que só ela cura.
Angola é um Estado de Direito, aliás todos os Estados do mundo, até mesmo os ditatoriais como a Coreia do Norte, Cuba, China, são de Direito, mas nem todos são democráticos e neste quesito está Angola, pese a consagração textual na Constituição. Mas não passa disso mesmo, pois na prática, os actos são, continuam a ser apesar da mudança de embrulho, de um Estado policial, monopartidário, ditatorial, com certas aberturas, similares às de alguns Estados fascistas.
Não admira, por isso, que o Povo volte a andar triste e frustrado. Está descrente num governo… insensível, que governa contra o que o Povo considera essencial (comida, saúde, emprego). Na realidade quem tem pago, ao longo dos anos, a factura do desvario governamental é o Povo. São os mais pobres! Os dirigentes têm gasto o dinheiro público com excessos de mordomias. João Lourenço parece preferir poupar os ricos e atacar os pobres, o Povo.
Apesar de, ao contrário de Eduardo dos Santos, João Lourenço conhecer o país, o drama e os sentimentos dos cidadãos da Angola Profunda estão a passar-lhe ao lado. Sabe o Presidente que estão mais caros os produtos hortícolas vindos do interior? E estão por duas razões: a rega ficou mais cara, pois as electrobombas, funcionam com combustível e a sua compra engaja transporte, depois este tem de os trazer do campo para a cidade e aqui os preços disparam.
O custo do pão, produzido em 99,9% de padarias que funcionam com geradores, está a subir. As propinas nos colégios e universidades também subiram.
O Estado deveria ajustar todas as políticas no sentido da contenção de despesas, mas o esforço deve ser abrangente e não circunscrito à maioria. Infelizmente as políticas que mais atingem a população seguem a escola de Eduardo dos Santos e são para penalizar os pobres, que estão a aumentar, quando deveriam estar a diminuir, fazendo emergir uma classe média. O grande problema é não existir uma verdadeira política económica.
Os angolanos, sobretudo os 20 milhões de pobres, acreditam em coisas reais, sinceras e com sentido de Estado, sendo este visto na verdadeira acepção da palavra. Ora, nós não temos Paz, temos um calar das armas que pode ser temporário ou definitivo, sendo que perdura o primeiro (temporário).
Como se sabe, o MPLA alavanca a si a exclusividade da Paz, tornando os demais actores como descartáveis e quando assim é não é paz, é capitulação. Não é paz é clemência. Não é paz é terror. Significa que as pessoas aceitam, mas não desfrutam na plenitude o novo estado de graça.
Quanto à reconciliação, este conceito não existe no vocabulário do regime. Já alguém imaginou o governo a conversar com as vozes verdadeiramente diferentes?
Ou num encontro internacional, por exemplo, como as reuniões dos Grandes Lagos ou outros em que o engajamento de Angola, ultrapassa a temporalidade dos mandatos, o Presidente da República convidar os líderes da oposição, para participarem nestes fóruns? A visão que se tem de reconciliação não ultrapassa os caprichos umbilicais, que se pavoneiam em todos os órgãos em políticas de humilhação dos demais actores políticos. O regime confunde reconciliação com submissão.
A discriminação do regime elege sempre os mesmos actores no capítulo dos benefícios. Quem é a bilionária? A filha do ex-Presidente. Os milionários? Os filhos e os principais aliados do MPLA. Quem são, quantos são, os fulgurante empresário da oposição?
Quando uma selecção nacional ganha um troféu, o MPLA logo privatiza o acto e nunca um Presidente convidou os demais líderes da oposição ou parlamentares para o acompanharem no reconhecimento. Por isso, transforma as estrelas desportivas nacionais em partidárias, como se fossem um produto exclusivo seu.
Sobre a “nobreza” das ideias de Eduardo dos Santos, sempre dissemos que eram nobres para os seus, para a sua família, para os seus amigos e que para os demais era uma política escabrosa, maldosa, de perseguição e em muitos casos até sanguinária.
Nesta matéria (ideias) parece que João Lourenço pensa de modo diferente. Será que, um dia destes, não nos vamos sentir como um maluco que pára no meio de uma ponte para pensar e descobre então que, afinal, não há ponte?
“Parar na ponte para pensar e descobrir q não existe ponte” 😄
Cérebro grande!!!