A Economist Intelligence Unit (EIU) considera que as dificuldades financeiras da companhia aérea Emirates foram uma das razões para a redução do número de voos para Luanda, para além dos obstáculos ao repatriamento dos lucros.
“D epois de anos de expansão relativamente rápida, a Emirates está a ter de se adaptar a condições de mercado mais difíceis, reflectindo factores como a redução do poder de compra regional, por causa dos preços baixos do petróleo, e as restrições nos voos para os Estados Unidos da América”, escrevem os analistas da revista britânica The Economist.
Numa nota enviada aos investidores, a unidade de análise económica da revista lembra que “em 2016 a Emirates apresentou a sua primeira queda nos lucros anuais desde 2012, e adoptou um conjunto de medidas para diminuir a despesa” e conclui que “este é um dos factores da decisão de Emirates de reduzir o número de voos semanais entre Dubai e Luanda”.
A Emirates anunciou no dia 10 o “fim imediato” do contrato de concessão para gestão da companhia de bandeira angolana, TAAG, face “às dificuldades prolongadas que tem enfrentado no repatriamento das receitas” das vendas em Angola e reduziu de imediato o número de voos semanais de cinco para três.
Angola vive desde 2014 uma crise financeira e económica decorrente da quebra nas receitas com a exportação de petróleo, também com efeitos cambiais, com várias operadoras aéreas a queixarem-se da dificuldade em repatriar dividendos das vendas em Angola, por falta de divisas.
“Esta questão tem-se mantido sem solução, apesar de inúmeros pedidos feitos às autoridades competentes e garantias de que medidas seriam tomadas”, referiu então a companhia árabe.
No total, Angola tem bloqueados cerca de 340 milhões de dólares de lucros das companhias aéreas internacionais, o que representa uma subida de 43% face aos 237 milhões de dólares, um ano antes.
O impacto da gestão árabe da TAAG ficou evidente na redução dos prejuízos da companhia aérea angolana, que em 2015 apresentou um passivo de 175 milhões de dólares, que no ano seguinte foi reduzido para apenas 5 milhões, havendo então uma previsão de lucros em 2019.
Na sequência da saída da Emirates da gestão da TAAG, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos exonerou o Conselho de Administração da companhia aérea poucos dias depois e o Governo criticou a forma brusca como a companhia aérea abandonou a gestão da empresa angolana.
“Lamentamos a forma brusca e menos flexível como a Emirates pôs fim a uma parceria estratégica que vinha gerando bons resultados, e que certamente geraria resultados ainda melhores ultrapassadas as dificuldades conjunturais”, lê-se numa nota enviada pelo Ministério dos Transportes.
“Cabe assinalar que a Emirates misturou indevidamente dois planos distintos que são a sua operação em Angola enquanto companhia de aviação e o acordo de gestão que rubricou com a TAAG”, acrescenta o ministério liderado por Augusto da Silva Tomás numa nota divulgada no final da semana passada.
“Atendendo ao facto de estarmos a pouco mais de um mês da realização de eleições gerais em Angola, de onde resultará uma nova legislatura e um novo Executivo, o Governo de Angola decidiu não nomear um novo conselho de administração para a TAAG e, ao invés, nomear uma comissão de gestão, que se encarregará da gestão corrente da empresa”, justifica ainda aquele ministério.
Esta comissão de gestão será composta por quatro elementos angolanos, incluindo o seu presidente, e outros três estrangeiros, “exactamente os mesmos três ex-administradores executivos que tinham sido indicados pela Emirates” e que entraram com o presidente do conselho de administração agora cessante, o inglês Peter Hill.
“Estes executivos estrangeiros aceitaram continuar a servir a TAAG, mas agora contratados directamente pelo Governo angolano, o que prova a confiança que têm no Governo angolano, na TAAG e no seu projecto de reestruturação e desenvolvimento”, lê-se no comunicado.
O Ministério dos Transportes garante que os objectivos traçados no final de 2014 para a TAAG “mantêm-se”, nomeadamente elevar os padrões de operacionalidade e segurança, melhorar o serviço prestado e sanear financeiramente a transportadora, através de um “maior rigor em todos os processos de controlo”, reduzindo os custos de operação da TAAG e aumentando a sua rentabilidade.
“Mantém-se também o plano de negócios que foi desenhado”, sustenta o Ministério dos Transportes.
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