Cartazes da CNE (Comissão Nacional Eleitoral), supostamente para sensibilizar os angolanos a votar nas próximas eleições, não poderiam ser mais explícitos quanto à honorabilidade do regime, do MPLA e da CNE (são todos fuba do mesmo saco). Simulam um boletim de voto, e exemplificam colocando um “X” no espaço do MPLA, ainda por cima com o nome do candidato e, para que não restem dúvidas, com a sua respectiva foto. É fartar vilanagem.
O órgão, cada vez menos oficioso e cada vez mais oficial do MPLA, que dá pelo nome de Comissão Nacional Eleitoral também já tinha aprovado o lema das eleições gerais de 23 de Agosto, tendo optado pelo mesmo de 2012: “Vota pela Paz e pela Democracia”.
O fantasma de Jonas Savimbi continua a atormentar o raciocínio dos donos do reino e dos seus órgãos de serviço domesticado, como é a CNE. Os ventos da Primavera começam a soprar em Luanda e, segundo os serviços secretos do MPLA, tem origem no Bié, talvez mesmo no Munhango.
A porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, disse que a escolha do lema das eleições passadas foi aprovada por unanimidade, por se considerar que “o espírito subjacente à consolidação da democracia nas suas mais diferentes e diversas facetas, nomeadamente em relação à democracia representativa deve continuar a ser um marco, uma baliza a nível daquilo que são os pilares do estado de direito”.
Apesar de ter sido assassinado no dia 22 de Fevereiro de 2002, Jonas Savimbi (e por inerência uma grande parte da UNITA, talvez até ao nível dos seus generais que integram as próprias Forças Armadas) continua a ser uma espinha na garganta do regime de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, bem como seu sucessor, João “Malandro” Lourenço. O seu fantasma continua a vaguear pelos corredores do Palácio Presidencial.
Viver em paz e em democracia é algo que não agrada definitivamente ao MPLA. Com o fim da guerra, em 2002, acabou o sagrado bode expiatório que o regime tinha para fazer o que quisesse sem dar explicações e, também, sem estar sujeito ao escrutínio dos angolanos. E isso foi um enorme, enormíssimo, transtorno para as negociatas dos homens do Presidente. E também para o próprio Presidente e o seu clã.
Entalada na garganta funda e putrefacta do regime está o facto de o seu adversário militar de décadas, a UNITA, não querer voltar aos tiros, mesmo quando o MPLA, este MPLA de Eduardo dos Santos, Kopelipa, Lourenço e companhia inventa situações de guerra. Dava muito jeito que os homens do Galo Negro se fartassem da vilanagem e resolvessem dizer, como defendia Jonas Savimbi, que mais vale morrer em liberdade do que viver em escravatura.
“Para a UNITA, a guerra nunca mais. É isso que nós queremos garantir aos angolanos, porquanto devem sentir-se à vontade, fazendo os seus planos de vida”, sustenta repetidamente Isaías Samakuva, destacando os ganhos da paz em todo o país.
Esta tese atira por terra o lema do MPLA/CNE: “Vota pela paz”. Por isso é urgente na óptica da ditadura fazer tudo para justificar a manutenção do poder. Se não fora bem será a mal.
Ou seja, a UNITA faz politicamente o jogo do regime de modo a que a este faltem argumentos para, 15 anos depois do calar das armas, ressuscitar o fantasma da guerra. A estratégia está, contudo, a irritar o MPLA que não quer sair da corrupção e da má governação e, para isso, só conhece uma estratégia: culpar a Oposição e acenar ao mundo com o terrorismo e o contíguo regresso à guerra.
Ciente da cilada que todos os dias lhe é montada, a Oposição política defende, serena e quase servilmente, a tese de que é necessário implementar mais acções tendentes a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, rumo ao desenvolvimento integral do país e à democracia.
De uma forma geral, a Oposição sabe que o regime não pode ser derrotado pela crítica. Vai daí, tenta assassina-lo pelo elogio. E sua majestade o rei, tal como todo o seu séquito da bajuladores, adoram ser elogiados.
Bem vistas as coisas, este MPLA, ou seja, o regime, continua a provocar deliberada e conscientemente a UNITA, o único partido que conseguiu responder à razão da força do regime com a mesma moeda. Para o MPLA vale tudo. Até mesmo dizer que no país existem apenas angolanos de primeira, os do MPLA, e os outros, uma subespécie que teima em resistir. Até mesmo pôr a CNE a mostrar em quem devem os angolanos votar.
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