Os líderes dos principais partidos da oposição angolana, UNITA e CASA-CE, concordaram com a data de 23 de Agosto para a realização de eleições gerais, apelando para que sejam “livres, justas e transparentes”. Repete-se o apelo e, ao que tudo indica, também se vai repetir o ADN do regime: a fraude.
A posição foi expressa no final da reunião do Conselho da República, que aprovou por unanimidade a proposta do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, para a realização de eleições gerais no dia 23 de Agosto deste ano.
Em declarações à imprensa, o líder da UNITA, Isaías Samakuva, referiu que estão criadas as condições para que o Presidente possa convocar eleições, na data sugerida e aceite pelos membros do Conselho da República.
Segundo Isaías Samakuva, as condições de forma geral estão criadas, mas foi chamada atenção, durante o encontro, para aspectos que precisam ainda ser resolvidos até ao ato eleitoral.
A UNITA tem insistido na necessidade de uma auditoria independente à base de dados dos mais de 9,4 milhões de eleitores registados no processo de actualização concluído a 31 de Março.
Por sua vez, o líder da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, disse que foi recomendada unanimemente pelo Conselho da República que sejam convocadas as eleições gerais, mas também admitiu que há ainda “grande preocupação e desafio para todos”.
“Isso também foi abordado durante a reunião. É trabalharmos todos no sentido de garantir que tenhamos em Agosto eleições livres justas e transparentes, que possam, não só, orgulhar todos angolanos, mas sobretudo reflectir a vontade do cidadão expressa no voto”, avançou.
Já o vice-presidente do MPLA, João Lourenço, sublinhou a importância da anuência dos membros do Conselho da República ao Presidente para a convocação de eleições gerais em Agosto.
João Lourenço frisou ainda o apelo feito pelo Presidente à tolerância e ao civismo, para que as eleições decorram da melhor forma possível, destacando a necessidade de se assegurar que angolanos “possam exercer pacificamente o seu direito de votar” em Agosto.
Bloco Democrático entra na CASA-CE
Entretanto, o Bloco Democrático decidiu optar por uma coligação, para as eleições de 23 de Agosto, para contrapor os “constrangimentos causados pelo partido no poder, MPLA, reforçando “a necessidade de um pacto político geral pela mudança de regime”.
A resolução saída da 5.ª reunião do Conselho Nacional do Bloco Democrático, analisou a situação política nacional, tendo concluído que a mesma se caracteriza “pelo aumento da intolerância política, do incremento do medo e do condicionamento dos eleitores”.
Nesse sentido, o Conselho Nacional depois de uma auscultação interna sobre prováveis coligações, constatou que a maioria dos seus membros era favorável que o Bloco Democrático participasse nas próximas eleições gerais numa coligação eleitoral com a CASA-CE.
Já em Dezembro de 2016, a 4.ª reunião do Conselho Nacional do Bloco Democrático defendeu a participação do Bloco Democrático nas eleições gerais de Agosto, “por si ou em coligação, com todas as forças da oposição credíveis, assente numa ampla aliança com a sociedade civil, no sentido de fazer participar os cidadãos de forma alargada”.
Naquela reunião, foi igualmente considerado que o Bloco Democrático, ao participar numa coligação, a mesma deveria ter um programa patriótico que defendesse a revisão Constitucional, para o equilíbrio de poderes entre órgãos de soberania, e que consagrasse a eleição directa do Presidente da República.
Um compromisso nacional com a educação, acesso à água potável para toda a população, um programa alargado para a saúde, a consagração de um sistema universal de assistência social e a implementação imediata das autarquias deveriam ser igualmente premissas para uma coligação.
Para atingir os seus desígnios nas próximas eleições gerais e na política nacional, o Bloco Democrático decidiu-se pela participação na referida coligação, usufruindo dos mesmos direitos e partilhando dos mesmos deveres de cada um dos outros quatro partidos integrantes, mantendo a sua identidade partidária, como as demais forças políticas.
Na terça-feira, o líder da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, congratulou-se com a decisão do Bloco Democrático se tornar na quinta força política da coligação, a segunda maior força da oposição angolana, saída das últimas eleições, realizadas em 2012.
Abel Chivukuvuku classificou o Bloco Democrático como sendo um “bom partido”, pelo facto de este pretender concorrer às eleições de 23 de Agosto como a quinta força da coligação.
“A CASA-CE é o fenómeno político do presente, a CASA vai ser o Governo de Angola a partir de Agosto e todos os bons juntam-se aos bons”, disse.
O presidente do Bloco Democrático, Justino Pinto de Andrade, disse que a ideia de se coligar já vinha sendo analisada há um ano, aguardando apenas pelo aval da coligação para formalizar a adesão como quinto partido integrante da CASA-CE.
O Bloco Democrático, partido com forte implantação sobretudo em Luanda, foi fundado em Julho de 2010, tendo como integrantes vários dissidentes do MPLA, tendo sido rejeitada a sua candidatura para participar nas eleições de 2012.