Em ano de eleições a rapaziada do MPLA promete tudo e mais alguma coisa. Agora foi a fez do ministro da Construção, Artur Fortunato, assegurar a existência de condições financeiras e técnicas para a reabilitação de estradas nas províncias de Benguela, Cuanza Sul, Cuanza Norte e Luanda.
Por Norberto Hossi
Em declarações à imprensa no término da visita de constatação e avaliação da execução das obras nas referidas regiões, o governante disse haver verbas para cumprir com as empreitadas em curso nestas localidades. Ainda bem.
“Essas obras estão a ser financiadas pela linha de crédito da China, são recursos externos e não haverá problemas nenhuns com a prossecução das empreitadas”, explicou.
“Qualquer obra tem garantia, independentemente do contrato. Temos a consciência de que estamos a fazer uma obra de grande impacto”, acrescentou Artur Fortunato.
Por outro lado, o governador do Cuanza Sul, Eusébio de Brito Teixeira, acredita que com a reabilitação e ampliação da estrada nacional 100 estarão criadas as condições para o desenvolvimento da região centro e sul do país.
“Quer a Estrada Nacional 100 quer a 120, ambas são importantes para o país, porquanto as duas conduzem todo um processo de desenvolvimento do norte para sul e vice-versa”, referiu general/governador.
Na sua óptica, Estrada Nacional 100 praticamente assegura todo o movimento de mercadorias e pessoas a partir do Porto do Lobito, que tem ligação com o Porto de Luanda.
Estradas e picadas da (nossa) memória
Em 26 de Junho de 2008, o então ministro das Obras Públicas de Angola e hoje governador de Luanda, general Higino Carneiro, disse que o governo do MPLA iria construir ou reconstruir cerca de 1.500 pontes e reabilitar mais de 12 mil quilómetros da rede nacional de estradas até 2012.
Fazendo contas, dia 26 de Junho de 2008 até ao dia 31 de Dezembro de 2012 foram 1.650 dias (contando feriados e fins de semana). Dividindo esses dias pelas 1.500 pontes Higino Carneiro garantia 0,9 pontes por dia.
Se dividirmos os tais 12.000 quilómetros de estradas pelos 1650 dias dá uma média de 7,27 quilómetros ao dia. Portanto é simples, a cada dez dias o MPLA deveria presentar 9 novas pontes e 72,7 quilómetros de estradas.
Falando em Junho de 2012 no Comité Central do MPLA, José Eduardo dos Santos recuou até às promessas para as eleições de 2008, confortavelmente vencidas (até com os votos dos mortos) pelo MPLA, que obteve cerca de 80% dos votos, considerando que o balanço foi positivo, dando como exemplo as “realizações e os empreendimentos inaugurados quase todas as semanas”.
“O país está de facto a mudar para melhor e há avanços e crescimento em todos os domínios”, mas para o MPLA, defendeu, importa que “o desenvolvimento social seja tão dinâmico como tem sido o crescimento económico”.
Ou não se estivesse em campanha eleitoral, o dono do país diz agora que “muito ainda está por se fazer”, mas mostra-se convicto da “nova Angola” que está a surgir, “pronta para iniciar uma nova etapa da sua história, na qual todos os nossos esforços estarão voltados para os mais desfavorecidos, aqueles que mais sofrem porque têm pouco ou quase nada”.
Por outras palavras e porque o MPLA é Angola e Angola é o MPLA, o partido só precisa de estar no poder aí mais uns 59 anos para que, quando completar 100 anos de governação dizer que se cumpriu a tese de Agostinho Neto: o importante é resolver os problemas do Povo.
Sem se comprometer com metas (assim recomendam os seus assessores brasileiros e portugueses), como sucedeu nas promessas de criação de empregos ou a construção de um milhão de casas, feitas em 2008, José Eduardo dos Santos diz agora algo mais vago mas dentro das bitolas dos estados de direito (coisa que Angola não é). Isto é, o futuro passa por um Programa de Estabilidade, Crescimento e Emprego.
“Através dele vamos unir, ampliar e acelerar as iniciativas destinadas a garantir mais empregos, aumentar a oferta de água e energia, melhorar os serviços de Educação e Saúde, a estimular a produção nas zonas rurais e a incentivar a criação e o fortalecimento das micro, pequenas e médias empresas angolanas”, explicou Eduardo dos Santos.
E, como não poderia deixar de ser, o presidente garantiu que o MPLA “fará a sua parte para a manutenção de um clima de paz, tolerância, harmonia e confiança” no processo eleitoral em curso.
E fará com certeza. Ninguém duvida que os mortos vão voltar a votar no MPLA, ou que em algumas secções vão aparecer mais votos do que eleitores inscritos. Tal como ninguém duvida que na maioria dos areópagos políticos mundiais, começando por Lisboa, o discurso de felicitações pela vitória do MPLA já está escrito.
Cremos, sinceramente, que o MPLA só não resolveu os problemas do Povo porque os oitenta e tal por cento conseguidos nas eleições anteriores foram insuficientes. Será preciso o quê? 110%? Se é isso basta agora esperar pelos resultados das eleições deste ano que, aliás, já devem ser do conhecimento do presidente e seus acólitos.
Milhões de casas, é claro
José Eduardo dos Santos disse no dia 6 de Outubro de… 2008 que o Governo ia aplicar mais de cinco mil milhões de dólares num programa de habitação que incluiria a construção de um milhão de casas.
A construção de um milhão de casas para as classes menos favorecidas de Angola e jovens foi, aliás, uma das promessas da então campanha eleitoral mais enfatizadas por sua majestade o rei de Angola.
José Eduardo dos Santos admitia, modesto como é, que “não seria um exercício fácil”, tendo em conta que o preço médio destas casas, então calculado em cerca de 50 mil dólares. Apesar de tudo, com a legitimidade eleitoral de quem só não passou os 100% de votos porque não quis, assegurou que “já se estava a trabalhar” nesse sentido.
Segundo Eduardo dos Santos, “em Angola, como em quase todo o mundo, o fenómeno da urbanização veio acompanhado de grandes problemas ambientais, tais como a produção de resíduos domésticos e industriais, a poluição, o aumento do consumo da energia e água e o surgimento de águas residuais”.
“Para evitar ou minimizar-se esses problemas impõe-se a adopção de uma política ambiental rigorosa e abrangente”, apontou o “escolhido de Deus”, garantindo que o combate ao caos urbanístico que se instalou nas cidades e no território em consequência da prolongada guerra civil, está a ser feito através de modelos integradores, geográficos, económicos e ambientais.
A atenção estava, ainda segundo o dono do reino, centrada na “construção ilegal e não autorizada” e também numa política que procura “evitar assimetrias regionais e o abandono do interior”.
Eduardo dos Santos frisou ainda que as “linhas de força” traçadas pelo Governo estavam orientadas para uma “cooperação activa” entre a administração central e local do Estado, entre o sector público e o privado, com vista à execução de uma nova política que contribua para “a geração de empregos, para o desenvolvimento harmonioso dos centros urbanos, para a eliminação da pobreza e da insegurança, e para a eliminação também das zonas degradadas e suburbanas”.
O presidente anunciou igualmente na altura (2008) que será “cada vez mais acentuada” a preocupação com a urbanização das cidades angolanas e que serão “incentivadas políticas que diminuam a circulação automóvel nos centros dos grandes aglomerados urbanos.
Foi bonito, não foi? É quase poesia. Tão bem escrita e declamada que conseguiu embalar os 20 milhões de angolanos que vivem (desculpem a ofensa) na pobreza.