O jornalista e activista angolano Rafael Marques de Morais denunciou hoje em Washington, durante um encontro no Departamento de Estado norte-americano, o aumento de execuções extrajudiciais em Angola e questões sobre a sucessão presidencial.
O activista encontrou-se com a subsecretária de Estado para os Assuntos Africanos, Linda Thomas-Greenfield, e com o subsecretário para os Direitos Humanos de pessoas LGBT, Randy W. Berry.
“Falámos sobre a sucessão presidencial em Angola e os desafios que levanta, sobre a situação dos direitos humanos, da liberdade de expressão e imprensa e também sobre o aumento das execuções extrajudiciais”, disse Rafael Marques de Morais.
Em Dezembro, o ministro da Defesa de Angola, João Lourenço, foi supostamente indicado pelo chefe de Estado (nunca nominalmente eleito e há 38 anos no poder) e presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos, para ser o candidato do partido a Presidente da República nas eleições previstas para este ano, num processo que Rafael Marques de Morais considerou uma “transmissão do testemunho autocrático”.
Sobre as execuções extrajudiciais, o jornalista garante que durante o último ano, quando começou a monitorizar estes crimes, mais de 100 jovens foram mortos.
“Estes jovens foram fuzilados, com um tiro na cabeça, pelas autoridades. Tenho fotografias. Muito recentemente um jovem foi assassinado em frente aos sobrinhos de cinco e sete anos”, explicou.
Rafael Marques de Morais diz que “o argumento usado é que [estas pessoas] são delinquentes, mas muitos são inocentes” e que “há apoio popular a este tipo de execuções porque as pessoas acreditam que o governo está a resolver o problema da delinquência.”
Apesar de acreditar que esta “é uma questão que tem de ser resolvida internamente”, o jornalista diz que as execuções “violam o direito internacional” que justifica a sua denúncia no estrangeiro e que, “normalmente, há uma reacção das autoridades quando percebem que perderam o controlo do fluxo de informação.”
Rafael Marques de Morais revelou também que os seus interlocutores norte-americanos “tomaram nota” das suas preocupações numa “conversa muito franca e aberta”, mas que não espera nenhuma atitude do governo dos EUA.
“Os Estados Unidos seguem muito atentamente a situação dos direitos humanos e de liberdade de expressão em Angola. E quantas mais vozes ouvirem, melhor opinião conseguem formar. Mas todas as mudanças cabem sempre, e primeiro, aos angolanos”, explicou Rafael Marques de Morais.
Rafael Marques de Morais tem mais reuniões marcadas em Washington para os próximos dias, nomeadamente junto do Departamento de Estado, para falar sobre um novo pacote legislativo aprovado no final de Janeiro, que, garante, “praticamente declara a morte da liberdade de imprensa em angola.”
“Já há 20 anos que tenho estes contactos com o Departamento de Estado e sou muito bem recebido. É muito importante manter este diálogo. É uma forma de os EUA ouvirem outras vozes, fontes da sociedade civil, e melhor formarem uma opinião sobre o que se passa em Angola”, concluiu.
“Na lista dos presidentes longevos, liderada pelo da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, com mais um mês no cargo do que o camarada presidente, Robert Mugabe é o terceiro. Ao optar voluntariamente pela sua saída, o camarada presidente acaba de tornar-se um exemplo entre os ditadores. É um mérito. Oxalá o sigam”, escreveu recentemente Rafael Marques de Morais.
Folha 8 com Lusa