As autoridades de saúde angolanas registaram nas últimas semanas pelo menos dois casos de infecção com o vírus Zika, passando o país a estar em vigilância epidemiológica. Por outro lado, um surto de cólera no município do Soyo, província do Zaire, provocou desde Dezembro 92 casos suspeitos e cinco mortos. E assim vai o reino.
De acordo com fonte da Direcção Nacional de Saúde Pública, o primeiro caso de infecção com o Zika registou-se com um cidadão francês, que apresentou os primeiros sintomas no final de 2016.
“O Governo francês notificou-nos e imediatamente iniciamos a vigilância epidemiológica”, indicou a mesma fonte.
A 26 de Dezembro as autoridades de saúde registaram oficialmente o segundo caso de Zika no país, em Luanda, no município de Viana, precisou ainda.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou em Novembro que o vírus Zika, associado a graves anomalias cerebrais em recém-nascidos, deixou de ser uma “emergência de saúde pública” a nível mundial.
A declaração de emergência sobre o vírus estava em vigor há nove meses e a organização vai agora apontar para uma abordagem a longo-prazo no combate ao Zika.
O Zika é disseminado principalmente por picada de mosquito, mas o contágio também pode ocorrer através de relações sexuais. Para a maioria dos infectados, os sintomas são febre, urticárias e dores nas articulações.
Desde 2015, pelo menos 73 países tinham sido afectados pelo vírus Zika, a maior parte dos quais na América Latina e Caraíbas, e cerca de 23 países anunciaram ter constatado casos de microcefalia ligados ao vírus.
Duas vacinas contra o Zika estão actualmente a ser avaliadas, refere a OMS, sublinhando que e os resultados da primeira fase de ensaios clínicos já estão a ser examinados.
E eis a Cólera
Entretanto, um surto de cólera no município do Soyo, província do Zaire, provocou desde Dezembro 92 casos suspeitos e cinco mortos, informaram as autoridades de saúde.
A epidemia “eclodiu na parte insular do município” e “está relacionada com o consumo de água imprópria e deficiente saneamento do meio”, indicou o Ministério da Saúde de Angola, em comunicado.
As autoridades locais criaram para o efeito uma comissão de acompanhamento do caso e já instalaram um centro de tratamento de cólera no Soyo, com um “reforço de medicamentos” já concretizado.
Os ministérios da Saúde e da Energia e Águas trabalham entretanto com o governo provincial do Zaire e com a Administração municipal do Soyo na vigilância epidemiológica activa com apoio laboratorial, no tratamento clínico de casos e no tratamento da água para consumo humano.
E o culpado é?
De acordo com o insuspeito Boletim Oficial do regime (Jornal de Angola), a empresa Mota-Engil está associada ao surgimento de um surto de febre-amarela em Luanda. Ao que parece, o mosquito responsável pela transmissão da doença vai deixar de se chamar “Aedes aegypti” passando, no caso de Angola, a designar-se “Mota-Engil”.
A Mota-Engil não assume a “paternidade” da doença e nega “qualquer associação dos trabalhos realizados por esta empresa ao surgimento de um surto de febre-amarela”.
Num editorial publicado a 25 de Dezembro, intitulado “Mensagem de harmonia expressa em dia de Natal”, o Boletim Oficial do MPLA (ou do regime, é a mesma coisa) associou o grupo de António Mota aos problemas de saúde pública registados em Luanda há um ano.
“No ano de 2015, de grande significado para os angolanos, a empresa lusa Mota-Engil foi contratada para reabilitar todos os passeios e ruas da cidade de Luanda. Durante as obras, a construtora vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas. Quando nesse ano as fortes chuvas chegaram, as ruas ficaram transformadas em rios e no sítio dos esgotos abriram-se crateras que ainda hoje se vêem. Com a acumulação de charcos e lixo, as condições de saúde na capital angolana degradaram-se. A cidade foi assolada por um surto de febre-amarela”, escreveu o director do Boletim Oficial, José Ribeiro.
“Não entendemos as críticas que nos foram efectuadas no vosso editorial e muito menos entendemos qualquer associação dos trabalhos realizados por esta empresa ao surgimento de um surto de febre-amarela. Em nada contribuímos para este, tendo, bem pelo contrário, apoiado as várias medidas adoptadas por entidades oficiais para a sua erradicação”, afirma a Mota-Engil.
No uso do direito de resposta assinado pelo presidente do Conselho de Administração, Paulo Dias Pinheiro, a empresa diz não compreender nem vislumbrar o fundamento das afirmações.
Recorda a Mota-Engil que é uma sociedade de direito angolano, “e uma parte significativa do seu capital é detida por reputadas entidades nacionais”, além de que “tanto a sua administração como as várias direcções integram cidadãos angolanos e muitos dos seus quadros construíram a sua carreira na empresa”.
Em 2015, acrescenta, “a Mota-Engil realizou, em devido tempo, a primeira fase de recuperação das Ruas de Luanda, uma obra exigente do ponto de vista técnico pela intervenção em zona urbana. Esta recuperação decorreu, assinale-se, de forma colaborativa com a população luandense”.
O grupo refere ainda que “com a concretização dos objectivos previstos para a primeira fase de recuperação das Ruas de Luanda, a Mota-Engil Angola foi reconhecida como entidade seleccionada para a execução da segunda fase, intervindo em outras Ruas não incluídas na primeira intervenção. Naturalmente que o cumprimento dos requisitos de qualidade técnica na primeira fase foram determinantes para que tal pudesse acontecer”.
“Reconhecendo o trabalho do Jornal de Angola, estamos certos que, reavaliados os termos com que a Mota-Engil Angola foi tratada neste excerto do editorial, merecemos a devida reposição dos factos, em prol da verdade e da isenção de que somos todos defensores”, afirma ainda a empresa, que iniciou a sua actividade em Angola em 1946.
A empresa esquece-se que a sua origem portuguesa é quanto basta para ser culpada de tudo. Em tempos recentes o próprio Presidente da República (nunca nominalmente eleito e no poder há 37 anos), José Eduardo dos Santos, considerou que a província de Luanda vive “graves problemas decorrentes da situação complicada herdada do colonialismo, mormente no domínio das infra-estruturas e saneamento básico”.
Segundo o nosso Kim Jong-un, os 30 anos de guerra que o país viveu (por culpa dos portugueses, é claro) não permitiram a mobilização de recursos humanos e financeiros para satisfazer todas as expectativas das populações.
É claro que, para além da Mota-Engil, há muitos mais “culpados”, todos portugueses. Com todo este cenário, é bom de ver que Portugal para se redimir de todos os seus históricos erros em relação a Angola, deve rapidamente pedir desculpas às terças, quintas e sábados e pedir perdão às segundas, quartas e sextas. Aos domingos deve tomar a hóstia que tira todos os pecados, desde que esta esteja abençoada por sua majestade o “escolhido de Deus”, José Eduardo dos Santos.